quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Crônica - Alguns amigos

Ela, ela, ele, ele, ela e eu; nós seis; manhã no retrovisor; batucando reggae no porta-luvas; vento nos cabelos loiros; horizonte sem nuvens; óculos escuros refletindo ela; curva do sol; piadas de sempre; ultrapassamos regras; regras no retrovisor; queria saber voar / pra lá do alto poder ver você; ela já dorme lá trás; sem pressa de chegar, de mudar; cheetos de queijo; coro de reggae; sorriso dela; banheiro de posto de combustíveis; esticar as pernas.

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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Roberto Alvim em Maringá

O papel do dramaturgo no teatro contemporâneo

Sexta-feira, 03/12 Horário: 19hs
Local: AUDITÓRIO DO SESI MARINGÁ
Endereço: Rua Antonio Carniel 499 – Zona 5

Vencedor do Prêmio BRAVO! 2009 de Melhor Espetáculo Teatral do ano, atual coordenador do Núcleo de Dramaturgia do Sesi Curitiba e seguramente um dos maiores diretores da atualidade, Roberto Alvim vêm a Maringá discutir dramaturgia contemporânea.

Ele ousou ao colocar a palavra em evidência, deixando o público com o palco escuro e poucos focos de luz. O ator ganhou liberdade e cenário e figurino ficaram para segundo plano. O teatro da penumbra de Como se eu fosse ou mundo - peça escrita por paulo Zwolinski - intrigou a crítica, logo depois se tornou modelo e hoje o sobrenome Alvim é adjetivo para novos diretores.

Roberto Alvim é professor de História do Teatro, Literatura Dramática, Dramaturgia, e autor e diretor de 17 peças até o momento, encenadas no Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, França(Paris), Suíça(Laussanne) e Argentina (Córdoba). Foi diretor artístico do Teatro Carlos Gomes – Sala Paraíso (RJ) de 2001 a 2004, onde criou o Projeto NOVA DRAMATURGIA BRASILEIRA; Diretor artístico do Teatro Ziembinski – Centro de Referência da Dramaturgia Contemporânea (RJ) de 2005 a 2007 e Professor de História do Teatro e Literatura Dramática na CAL (RJ) de 2000 a 2004. Lecionou Dramaturgia na Universidade de Córdoba (Argentina) em 2005. Foi Professor de Dramaturgia na ELT – Escola Livre de Teatro (SP) em 2008. Como diretor da companhia CLUB NOIR, encenou até o momento 5 espetáculos: ANÁTEMA (2006); HOMEM SEM RUMO (2007), de Arne Lygre, indicado aos Prêmios SHELL de Melhor Direção e Melhor Iluminação (ambos para Roberto Alvim), e ao Prêmio BRAVO! de Melhor Espetáculo Teatral do ano; O QUARTO (2008 / 2009), de Harold Pinter, indicado ao Prêmio COOPERATIVA PAULISTA DE TEATRO de Melhor Espetáculo do ano, e vencedor do Prêmio BRAVO! 2009 de Melhor Espetáculo Teatral do ano; COMUNICAÇÃO A UMA ACADEMIA (2009), de Franz Kafka, indicado ao Prêmio SHELL de Melhor Atriz (para Juliana Galdino); e A TERRÍVEL VOZ DE SATÃ, de Gregory Motton. Foi curador do Projeto DRAMATURGIAS (2009), dedicado a leituras dramatizadas de obras de dramaturgos contemporâneos, no CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL, no Rio de Janeiro. É atualmente o Coordenador do NÚCLEO DE DRAMATURGIA do SESI – Curitiba.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O porteiro mudo que ouvia Raul Seixas

Levantar as quatro da manhã já não era dificuldade. Complicado mesmo era ouvir seu cunhado desempregado comentando as últimas do jornal da Globo. “Tem tanta gente burra nesse Brasil, não é?”, dizia devolvendo a xícara de louça manchada ao pires enquanto n’outra mão levava o pão francês com manteiga á boca melada. Se pegasse o jornal, era motivo para que a conversa se estendesse até o portão. “E você viu aquele escândalo do metrô? Bem que eu falo que político só sabe tirar o dele. Gente boa não entra em política não.”

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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Publicidade e conteúdo interagem na web

Consolidada como plataforma de informação, a internet ainda é um desafio para empresas de comunicação


Por qual veículo você acompanha as principais notícias durante o dia: impresso, TV ou internet? Você pode até não ficar on-line o dia todo, mas não pode negar a facilidade que a plataforma digital trouxe para a disseminação de conteúdo. É por esse motivo que os principais veículos de comunicação também se renderam à rede.

Se há algumas décadas, impresso e rádio procuravam se reformular com o surgimento da televisão, hoje a TV se junta ao grupo na tentativa de manter seu espaço. Em tempos de internet, o principal desafio não é dividir o público, mas fazer da web um meio lucrativo, que se sustente, como as demais mídias.

Seguindo a lógica da publicidade no rádio, impresso e televisão, a primeira alternativa foi dividir os espaços disponíveis da página na internet entre conteúdo e anúncios pagos. Porém, só visibilidade não é garantia de sucesso, como explica o especialista em Publicidade na Web Willy Dantas, 27. “O veículo só vai conseguir ter lucro muito maior se levar uma proposta diferenciada para o cliente, explorando o meio de um jeito novo."

Para Dantas, falta inovação na hora de utilizar a internet para ações de marketing, tanto para clientes como para o veículo. “O mercado não está atento a isso, ele [o mercado] não consegue enxergar a utilização do meio internet de forma criativa”, completa.

Segundo o gerente de marketing do Grupo O Diário, Wilson Teixeira, 24, é muito difícil traçar um plano de ação em longo prazo, quando o assunto é internet. “É tudo muito novo e muito misturado, mas é justamente nessa mistura que está o futuro. É você conseguir, com o veículo, integrar o impresso - as ações corpo a corpo que os veículos fazem como ativador social - ao on-line - aí sim a publicidade tradicional.”

Para Teixeira, a integração entre o ambiente on-line e o off-line deve ter como foco o público leitor. “Como é que [o veículo de comunicação] vai atingir todos os públicos? É oferecendo conteúdo em todas as plataformas. Então o futuro da internet é convergir ainda mais com os outros tipos de mídia off-line”, complementa.


*Reportagem publicida no jornal Matéria Prima, aqui.

*Mais reportagens


No Reviver: Kafka - Escrever é um sonho mais profundo que a morte

Dia 08 de novembro - Teatro Reviver
Idade Mínimia: 12 anos - Entrada Franca - 21hrs
Companhia Edson França Bueno e Cia Ltda.

O pequeno Franz Kafka vive em Praga, Tchecoslováquia e faz da cozinha da casa de sua mãe um refúgio secreto para uma imaginação fértil e um terrível medo da humanidade. Oprimido pelo pai, transforma a sua rotina diária de preconceitos contra o fato de ser judeu em imagens de grande força dramática. Kafka faz então da cozinha de sua mãe, uma espécie de portal para a vivência lúdica com os próprios protagonistas de sua fantasia de terror. Monstros, Animais e Seres Fantasmagóricos que representam poderes políticos, familiares e religiosos convivem, no silêncio da madrugada, com o menino.

Desta experiência dolorosa, mas original, nasce uma das mais importantes obras literárias do mundo. O texto é uma investigação livre, poética, mas comprometida, sobre os fantasmas (frutos de conhecimento, medo e inteligência, que fazem da literatura, um a obra artística, mas também dolorosa, porque retrata a sociedade pelos caminhos da sombra. O sentido do espetáculo é o de dar compreensão da criação artística, ao público. Ao mesmo tempo em que revela Franz Kafka um escritor fundamental teatral um material riquíssimo que permite a criação de um espetáculo de teatro vivo e moderno.

Os ingressos devem serão retirados com 1 hora de antecedência no Teatro Reviver (ao lado do cemitério).



O Sesi faz um trabalho muito interessate, não só trazendo peças para Maringá como apoiando eventos culturais e desenvolvendo projetos de especialização. Em breve o Núcleo de Dramaturgia já estará exibindo resultados e encenando textos que estão sendo trabalhados nos encontros. Se somarmos isso à expectativa que a cidade vive em torno da arte dramática, temos contexto para acreditar num (re)nascimento aqui nessa pronvíncia.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Palco giratório traz Agreste, de Newton Moreno

Dia 27 de outubro - Teatro Universitário da UEM
Idade Mínimia: 16 anos - Entrada Franca

Escrita por Newton Moreno, e baseada em reportagem verídica, Agreste é um drama de amor e pobreza no interior nordestino, narrado por dois contadores de história. É um vigoroso manifesto poético, uma fábula que trata ao mesmo tempo sobre intolerância, preconceito e amor incondicional.

“Desejar ser”, “ilusão”, “amar a gente” são alguns dos temas abordados na peça. Aborda também temas intensos que por séculos fazem parte do cotidiano como: amor incondicional, homoerotismo, preconceito social e ignorância. Podemos dizer que, sobretudo, o enredo da peça gira em torno da complexidade das relações humanas.

O texto de Newton Moreno tem uma estrutura aberta, mais de provocação do que naturalista. O texto da peça tem três grandes blocos. O primeiro é o tempo mítico. “Ele andava muito para encontrá-la.” Tudo é indeterminado. No segundo bloco, “naquele dia, naquela manhã...”, é o tempo focado. O terceiro é a condição psicofísica dos personagens. “O sol”, “muito tempo caminhando”.

Ao narrar a estória de um casal de lavradores nordestino, esse drama acaba por sutilmente despertar a reflexão para questões que ultrapassam as expectativas de uma estória amorosa. Sem dúvida, o amor é abordado. Mas não o amor utópico, nem tão pouco, o amor interessado ou o amor físico. Assim, questiona-se pontos do comportamento social como o preconceito, estereótipo e ignorância. Quando se pensa em um casal nordestino, tende-se a imaginar a estória de “Lampião e Maria Bonita” – ele cangaceiro, ela a bela moça de casa, juntos compartilhando a miséria do dia-a-dia e vivendo aventuras fantásticas. Mas o casal nordestino de Agreste se deu o direito de viver o que desejam ser e vão além do modelo “Lampião e Maria Bonita”. A incógnita da peça é: ilusão ou ignorância?

Mais do que analisar a complexidade das relações humanas, a peça trata do que pode ser considerado “o invisível”, aquilo que ninguém descreve ou explica, apenas sente.

O texto também é um convite a análise de comportamentos excessivamente conservadores e patriarcais de nossa sociedade. A relação heterossexual hipócrita ainda prevalece sobre uma relação homossexual franca. Ao mesmo tempo, a ignorância não é nem corrigida, nem perdoada.

A estória que se passa no meio da seca, e com uma narrativa nada conservadora, e como já citado, conta a história de um casal de lavradores simples, vizinhos, que descobre o amor e foge de sua terra, pressentindo que "algo" de perigoso paira sobre seu amor. Precisam encontrar outro lugar para poder viver seu amor.

A morte de um deles, porém, traz uma revelação surpreendente que muda o curso da história. A esposa vem a compreender o porquê, "nos depois", após a morte do marido. Essa mulher machucada pela perda, sem entender a dimensão de seus atos, acaba sendo vítima do horror e da intolerância.

Do site passeiweb.com

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Entre pastéis

Sexta é dia de feira, desculpa para comer um pastel na praça da igreja enquanto não começo o dia. E como todas as sextas, apanhei meu jornal na banca e falei com o Marcão pra liberar um de frango e um de carne para acompanhar o café preto que peguei na padaria. Antes de sentar vasculhei a carteira, alguns trocados já pagavam e deixava uma sobra para a mocinha do caixa.

Longe o bastante para não ser tocado, mas perto o suficiente para sentir o cheiro da fritura, ele olhava a barraca e o entra e sai de gente e pastel. O pretinho rondava. Seu olhar não era de medo, mas de uma coragem doída, sangrada, de pedra, de pó, de pé no chão. Sujo, magro e descuidado, encarava de baixo, como a criatura encara o criador.

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Da série "[o homem] invisível".


terça-feira, 19 de outubro de 2010

Peça Cárcere em cartaz neste sábado


Como seria uma reflexão sobre liberdade através dos olhos de um presidiário? É o que mostra o espetáculo “Cárcere” escrito por Saulo Ribeiro e interpretado por Vinicius Piedade. A peça se baseia no diário escrito por um prisioneiro, que vive em contagem regressiva para uma rebelião iminente do qual ele será o refém. A apresentação será nesse sábado, dia 23, no Auditório Campus Dois da Unifamma. Os ingressos serão vendidos no local e custam R$ 24, estudantes pagam meia.*

A peça está sendo produzida pelo meu companheiro de Núcleo de Dramaturgia Thiago Fontoura. Vale a pena dar uma conferida.



*Nota de cultura para o Jornal da Ruc 94,3 FM, de 21/10

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Singularidade uniforme ou Carta para ler antes do suicídio

Fujo de festas. Qualquer lugar aonde muita gente escolha ir me dá raiva. A unanimidade leva a um vazio e vazio eu já encontrei. Embalaram a cultura pra consumo e criaram rótulos para que você estampe em sua testa um atestado de inutilidade.

Eles querem te vender, você virou número, João, não precisa mais pensar.

Cansei de ouvir sobre política e dessa mania ridícula de tentar convencer os outros. Dá nojo a forma como as consciências se vendem para fazer parte de um grupo. Mentes prostitutas que demonizam adversários e supervalorizam besteiras. Pra quê, João? Só pra se convencerem que estão do lado certo.

Eu descobri que não há lado certo senão o de dentro, João. Você ficou invisível.

Nem na religião, aquele amontoado de aves-marias que se arrastam em promessas para terem a quem louvar. Mendigos de barriga cheia. Vomitam valores enquanto nadam na hipocrisia dos seus atos. Fazem o errado sob o pretexto de pecador, se humilham por não serem fortes, mas nunca saem da sombra da mediocridade religiosa. Essa porra de libertação é confinamento psicológico, João.

Ali também não é lugar limpo, João, sinto muito.

Você acha que conhece o mundo e tira suas próprias conclusões? Parabéns, João, conseguiu ser mais um. Mais um que acorda com abstinência de informação, vício de dominar tudo o que acontece. Na pressa de entender, se vende ao jogo, e eles vão fundo na capacidade de te idiotizar. Você é o robozinho deles, João, sinta-se feliz. Mas saiba, você tem data de validade.

Há quanto tempo você não cumprimenta um velhinho? Não abraça um velhinho? Não joga conversa fora com um velhinho? Tá entendendo o que eu to falando, João?

Se você acha que tem gosto próprio. Acredita que tem opinião. Pensa que seu sonho é singular. Olha para o espelho e acha que é único. Você é o que eles querem que seja. Você quer ser o que eles querem que seja. Fuja desse labirinto, João. Fuja do rebanho.

sábado, 16 de outubro de 2010

E-book, a nova plataforma literária*

Como os livros digitais estão redimensionando o mercado e reformulando o modo de fazer literatura em tempos de internet

São acessíveis, não ocupam espaço na bolsa, não agridem o meio ambiente e nem provocam reações alérgicas quando velhos. Popularmente conhecidos como e-books, os livros digitais apresentam vantagens que estão conquistando leitores, transformando o modo de fazer literatura e trazendo uma interrogação para o futuro da criação literária: os livros impressos vão acabar?

Segundo o site Exame.com, em países como Estados Unidos a venda de e-books já representa cerca de 4% do comércio de livros pela internet e a expectativa é que essa quantia triplique até 2015. Essa evolução se dá, principalmente, à guerra tecnológica na criação e desenvolvimento de leitores digitais. E-readers como o Kindle, da Amazon e tablets como o Ipad, da Apple, já oferecem condições de leitura próximas às de um livro comum e preço acessível para o mercado norte-americano.

Para Cristóvão Tezza, doutor em Literatura Brasileira e um dos principais escritores da atualidade, a tecnologia criou novos modos de escrita, mas não vai mudar as formas de manifestação literária. “A internet é uma [ferramenta] prática do mundo, vem para somar e não para substituir o impresso.” O escritor premiado com o Jabuti de melhor romance, esteve em Maringá no último dia 23, a convite do Sesc, quando falou sobre tecnologia e leitura no cotidiano. Segundo ele, a literatura se transforma através do tempo segundo os meios de produção e disseminação disponíveis. “Quem que, hoje em dia, escreve uma carta ou um telegrama? Antigamente a carta era até um gênero literário e grandes livros saíram de troca de correspondências”, lembra.

As cartas viraram e-mails e os diários foram substituídos pelos chamados blogs - espaços livres e gratuitos para quem quer publicar na internet. Essa possibilidade permite o aparecimento de novos escritores que não precisam de muito para produzir um livro digital, uma consulta rápida em qualquer site de pesquisas indica diversos programas para criação de e-books. Feito isso, o resto fica por conta da divulgação e distribuição, que no ambiente on-line não tem limites.

Apesar de uma possível ameaça, Cristóvão Tezza diz acreditar que “essa variedade não afrouxa os critérios de aceitação, mas cria prestígio de qualidade”. Para o escritor, os efeitos de uma circulação máxima de literatura compensam qualquer prejuízo com a pirataria. “É um caminho fantástico”, completa.

Entre os leitores brasileiros, a novidade ainda encontra resistência. “Eu gosto do papel para folhear, amassar, sujar de gordura. Prefiro aquele livro que eu posso guardar na estante e usar como troféu”, afirma Vinicius Toná, 20, estudante de Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Segundo ele, a única vez que comprou um e-book, foi por engano. “Eu finalizei a compra pela internet e fiquei esperando chegar em casa. Quando vi, chegou um e-mail avisando que o download já estava liberado.”

Já a estudante de jornalismo Ana Luiza Verzola, 19, é a favor e gosta de ter acesso a livros digitais. “No caso dos e-books meu interesse surgiu mais com a leitura de monografias que tinha para baixar no site da instituição e, com isso, veio a oportunidade de ler também outras produções.” Ana destaca a possibilidade de acompanhar o trabalho de escritores regionais. “Até agora o material que li foi de Maringá, o livro de crônicas que o Wilame [Prado] lançou, ‘Charlene Flanders, que voava em seu guarda-chuva roxo, mudou minha vida’; do Antonio Roberto de Paula [O jornal do Bispo] e, recentemente, o e-book Contos Maringaenses, que reúne várias obras produzidas aqui e falando daqui.”

No Brasil o comércio de e-books ainda é tímido e o cenário é de adaptação. Entre os motivos do atraso estão a falta de apoio de editoras, acervo reduzido de obras digitalizadas e alto custo para compra de leitores digitais, que facilitam a leitura. Para o escritor Cristóvão Tezza o contato com o livro físico é muito importante. “É claro que o livro impresso nunca vai morrer. Há formas de reconfigurar o uso dele”, define. Impresso ou digital, é de consenso que o contato com a literatura é sempre uma experiência positiva.

*Reportagem publicada no jornal Matéria Prima, aqui.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Rei Davi Dá-nome-às-coisas*

Davi foi dado pela mãe. Depois de trocado por um litro de cachaça, o piázinho da praça viu que naquele mundo de adjetivos e abstratos não conseguiria ficar muito tempo, resolveu criar o seu. Para fugir de homens e trocados, caminhava pela madrugada criando palavras soltas e significados mágicos, tornou-se Rei.

Senão o próprio, que outro sentido poderia ter a vida? Família, Amigos e Trabalho eram palavras vazias, como Sorte. Para reverberar sentimentos, fazia amizades com postes, alambrados e caixas de papelão. Conversava. Em seu mundo as palavras não precisavam de som para ser escutadas.

E era ouvido.

Regava placas. Admirava as cores que elas tinham e como se mantinham vivas por tanto tempo. Abraçava os bancos. Sorria para garota do outdoor e ela sorria de volta. Encantava-se com o balé de carros, em sincronia perfeita, todo dia. Como é bonita a capacidade de serem sempre a mesma coisa!

Rei Davi não tinha preconceitos. Não sabia o que era isso. Não tinha partido, nem oposição. Não conservava valores, nem morais, nem costumes, nem passado ou futuro. Não conjugava verbos. Não contava seus dias. Não precisava sorrir para manter as aparências, mas sorria, sem se importar com a aparência que isso tinha.

E era invisível.

Ia à missa sem camisa. Ao culto sem a bíblia. Puxava o carrinho para dentro do shopping. Torcia á porta do bar, não importava qual fosse o time. Dormia na segunda-feira e tomava banho na sexta. Comia fruta machucada no almoço. Quando tinha fruta e almoço. Quando não tinha, inventava uma para matar a fome. Em seu mundo, nada precisava acontecer para ser sentido.

Como o abraço das pessoas normais que correm para um lugar, todo dia, em todas as ruas. Sentia-o. Queria um dia descobrir para onde vão todas essas, com rostos fechados e tanta pressa. Quem sabe um lugar onde poderiam sorrir? Onde comiam fruta no almoço e abraçavam pessoas? Onde torciam sem preconceito e sorriam sem manter as aparências? Quem sabe seria um outro mundo.

E era louco.

*Da série de crônicas "[o homem] invisível".

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Senhorinha*

Não posso digerir aquela cena como mais uma do meu dia. De verdade, não queria ter visto seus olhinhos redondos, trêmulos e vermelhos acompanhando um misto de medo e vergonha. Vergonha de quê, senhorinha? Se a dor que te machuca é a mesma dos seus? Espero tê-la tirado de ti para carrega-la comigo, como estou sentindo agora.

Seu nome poderia ser bom dia, por que seu sorriso sempre me mostrou a pureza de cada manhã. Esperta e de sorriso fácil, vence o uniforme com um batom vermelho caprichado. Senhorinha dos bons dias, invisível, curvada sobre o zelo nos ladrilhos da escada, arrastando balde no corredor, passando o café como se fosse em casa.

Ah, senhorinha, pecado é o perfume que escolhes com cuidado se misturar com lavanda, eucalipto, floral. Eu nunca o senti, mais sei que usas, assim como sei que te curvas toda noite rezando por dias melhores. Melhores que este, pelo menos, que te vi atravessando o corredor com rostinho triste, brigando com os olhos para não chorar. Você, senhorinha, que já acalmou o choro dos que te chamam de mãe, dos que te chamam de vó.

Passar por você, sentar em minha cadeira, relaxar ao ar condicionado, sorrir ao telefone... tudo ficou difícil, errado, injusto. Gosto amargo como senti naquela noitinha que te vi escorregar nos degraus da escada que dá pra sala do chefe. Deu-me um aperto ver seu rosto preocupado em levantar rapidamente daquelas pedras úmidas – vou fazer uma cirurgia do olho – você me disse, como que se desculpando. Meu Deus! Não se desculpe senhorinha!


Desculpas devo eu e o mundo por não saber respeita-la no alto de sua sabedoria. Sabedoria de vida que os cinqüenta, sessenta ou setenta anos te deram e as marcas em seu rosto não me deixam mentir. As desculpas de um abraço sincero que eu não pude dar ao te ver passar no corredor. Um dia, espero, saberemos o valor que tem uma senhorinha.

Senti estar engolindo boldo ao te ver de volta, como novo sorriso no rosto, perguntando se queria mais café.

*Da série de crônicas "[o homem] invisível".

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Tudo igual*

Contexto: Mulher é traída pelo marido com a melhor amiga, depois de anos presa, consegue emprego num açougue e passa a morar junto com a amiga que a traiu.

Tudo igual. As peles gorduras penduradas dançando em embalagens com marcas e certificados de qualidade estampados em sorrisos amarelados de fim de festa como encontros de família são. Mortas, estão as pelancas bailando ao som de Amado Batista enquanto você se preocupa com a criançada correndo pelo seu jardim de nomes que florescem e te cumprimentam esperando um mesmo sorriso amarelo para que possam dançar de novo. Maminha e primas cheirando a leite com shortinhos de um palmo correndo ao redor da piscina para que ele veja. Todos iguais são eles procurando por coxas enquanto elas se oferecem para serem comida ou mesmo que seja lambida por cachorros no final do churrasco. Ponta de peito carne de pescoço me lembram minha tia que insistia em usar branco mesmo no velório dele. Ela dizia que formávamos um belo casal.

Tudo igual. Os corpos estirados no quadrado úmido gritando por espaço enquanto se chicoteiam entre costelas e o cheiro de ralo que gruda no nariz e no cabelo daquelas infelizes que estão pagando sua pena enquanto galinhas têm o dia todo de banho de sol. Coxão mole incendiário. As grades de ferro ou de vidro são vitrines de uma necessidade humana de buscar culpados para encher o bucho e sentir saciar a fome de justiça de um povo que poderia estar lá como as que se penduram bailando sobre o cheiro do ralo e o frio que garante que ainda podemos ser consumidas. Depois de anos na câmara fria da moral a gente encontra os mesmos sorrisos e pelancas de antes agora mais amarelos e aquelas fraldinhas serelepes já viraram comida de festinha.

Tudo igual. Os que vêm de bermuda e chinelo de dedo com camisas de time de futebol e latinha na mão pedindo pra ver suas melhores partes dizendo que querem comer o que tiver de melhor. Peito coxa cheiro de sangue por todo lado. Em casa tenho carne pronta para deslizar a faca bem afiada por entre os músculos que se separam como a amizade que não resiste a uma boa comida. Língua bem servida com miúdos cozidos em panela de pressão e cheiro de sangue por todo lado. Acho que vou assar a picanha que ele gostava de comer na nossa cama.

Pra conseguir o emprego só me perguntaram se eu tinha experiência com faca, carne e sangue.

*Monólogo de exercício do Núcleo de Dramaturgia Maringá.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Uma bela manhã para comprar pães

Ele, suéter xadrez sobreuma camisa branca, de listras quase imperceptíveis. Uma calça de linho cinza grosso e um mocassim surrado, porém lustroso. Abaixo da careca manchada pela idade, óculos de grossas hastes e uma lente amarelada escondendo dois negros olhos que penduram bolsas d’água. Nas mãos o jornal da manhã e o caminhar de quem pensa e agora entende o sentido da vida.

Ela, de dobrinhas no rosto e boca murcha. Os longos fios brancos amarrados em coque e presos por grampos, como mamãe fazia para ir à missa. Sobre o corpo miúdo, já curvado pelo cansaço, a túnica florida e uma saia de corte reto que acaba onde começa a meia marrom, esticada até o alto para esconder as canelas brancas. Nos pés, o chinelinho de tira e nas mãos uma sacola de padaria que balança ao ritmo lento da caminhada.

- Se ela disse que ia ligá de novo, vamu esperá, uai.

Ele não respondeu. Ao fundo, o som do escapamento de uma moto se distancia.

- Será que eu botei o fejão de moio?

- Quando eu sai tava na água.

- Tem que bota – a fala entrecortada pela respiração – O Júlio só gosta de fejão novo. Diz ele que fejão véio tem gosto de barro.

Como de costume, ele confere a rua para atravessarem. Quando seguro, estica o braço à procura das mãozinhas enrugadas. Em segundo plano, um carro de cor prata dobra a esquina sem dar sinal de seta.

- Lembra da pracinha, bem? – respira. Aquela de Poços de Caldas. As criança miudinha brincava no parquinho e a gente tomava aquele sorvete... lembra, bem? – respira. Qual era o nome mesmo?

- Sensação, eu acho.

Uma buzina forte e um palavrão a duas quadras. Para atravessar novamente e chegar ao canteiro central da avenida, mãos dadas compartilhando os passos lentos.

- Ela falou se ia trazer as criança?

- E ela lá dexá de trazer? Do jeito que aquela mininada gosta do vô – olha para cima sorrindo para seu velho, com certo esforço. Sentia-o abatido naquela manhã – A casa hoje vai virá uma narquia que só – sorrindo.

Dessa vez ele não respondeu, seu olhar tinha se perdido num grupo de crianças que brincavam num ponto de ônibus, em Júlio que queria feijão novo, na filha que ficou de ligar, nos netos que poderiam estar mais perto. Deu por si já beirando o cruzamento e esticou o braço.

- Dá a mão, bem.

Ouve-se uma freada forte seguida de um baque seco.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Praia

Sabe, olhando assim, eu nunca aprendia a surfar. Também não torcia para o flamengo de 81. Minhas professoras eram gordas e tinha bigodes e eu juro que tentei decorar Faroeste Caboclo, eu juro... O quê? Covade? Eu? Você não sabe com quem está falando!

Água no joelho

Falando... com quem... com quem ficou... meus amigos nunca me devolvem os livros que eu empresto. Os livros também nunca me devolvem os amigos emprestados. No 11 de setembro eu tava no banheiro, acredita? Por que eu tenho que sorrir quando estou sendo filmado? E você? O que tá olhando? E esse sussurro que não para!

Água na cintura

Eu tenho que admitir, durmi vendo O Poderoso Chefão. Mas não foi culpa minha. Também nunca me safei da morte, sabia? Acho que ela não se preocupa comigo. Vai ver é por isso que também nunca vi graça em igreja.

Água no pescoço

Eu sou um nada. Nunca fui preso. Nunca recebi flores nem abraços de pêsames. Não fui vilão de nenhuma novela das oito. Mais que merda, to falando besteiras aqui e nem motivo pra me matar eu tenho!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Uma aula com Cristovão Tezza

Se fosse uma dupla sertaneja, seriam milhares; se tivesse apoio de faculdades, talvez fossem centenas; mas como Tezza é só um dos principais nomes da literatura contemporânea brasileira, reuniu cerca de trinta fãs maringaenses na sala social do Sesc Maringá, para um bate papo sobre Tecnologia e Leitura no Cotidiano.

Com otimismo e bom humor característico, o autor de “O Filho Eterno” - vencedor do Jabuti como melhor romance - reconheceu essa falha no discernimento cultural do brasileiro, ou, como disse “aqui é mais fácil se conhecer o time todo do flamengo – contando os reservas – que o nome dos principais escritores brasileiros do século 20”.

Diversificado entre all-stars, mocassins e tamanquinhos, o público encontrou um Tezza à vontade, tanto com a cidade, quanto com o tema. Macmaníaco assumido, trouxe um Kindle e contou sua trajetória na literatura fazendo links com a evolução dos meios de produção. Apesar da grande empatia pela tecnologia, Tezza confidenciou que só seu último livro foi escrito direto no computador, os outros eram na base da caneta e papel.

Mediado pelo jornalista Marcelo Bulgarelli, o tema fluiu como uma conversa entre amigos, sem cerveja, claro. O público reduzido passou a ser uma vantagem, logo que os presentes se mostraram amplamente interessados nos assuntos propostos. Estudantes, professores e mães puderam provar um pouco da experiência do escritor curitibano com temas atuais, em constante transição.

Além de escritor, Tezza falou como professor e pesquisador, por diversas vezes se dispersando entre passagens curiosas e autores importantes. No final, ao ser perguntado se Maringá daria um bom cenário para uma história, respondeu com bom humor “É complicado, dizem que quem é feliz não escreve. E aqui em Maringá há uma boa chance de você ser feliz”.

O conteúdo? Tente ir da próxima vez.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Troco

- Posso te ajudar?

- Não.

- O que você quer?

- Nada.

- Como assim? Nada?

- Já disse, não quero nada.

- Como você não quer nada? O que veio fazer aqui?

- Eu?

- Claro que é você! O que veio fazer aqui?

- Você tá me expulsando?

- Puta que pariu...

- É isso mesmo? Você tá me expulsando daqui?

- Mas é claro que não!

- Não grita comigo!

- Quem tá gritando aqui? Quem tá gritando aqui?! – bate no balcão – Fala! To cansado desse papinho, ouviu?!

- Calma cara... só quero saber se você tem troco pra dez.

- Serve duas de cinco?

- Pode ser.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Se

Com a porra daquela arma
apontada pra minha cabeça
não dava...
não deu pra pensar nada
foi como...
sei lá
cara...
a gente precisa fazer alguma coisa
chama a polícia
que droga!
Eu passei pela praça
e nem vi nada
não vi nem a sorveteria
não vi
o ponto de táxi...
vim direto aqui
Porra mano você tem que me ajuda
A gente volta lá
Mas pra...
Tipo, a gente passa lá
Pega o fusca
Vai mano...
Se...
Se a policia tiver lá
Daí a gente...
Sei lá
A gente tem que ver como ela tá
Se...
Se a gente falar com a policia
Eu ainda lembro o rosto do cara
Mas não posso ir lá sozinho
Não quero
Eu falo que ela...
Que ela não quis passar a bolsa
Que era...
Se ela...
Eu não vi nada
Depois dos tiros eu corri
Mais ainda...
E se ela não...
Se eu tivesse...
Se ela...
Porque ela não correu também?

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A irmã do meu melhor amigo

Eu não sou ele, sou ela. Esse é o problema. Ou era. Só não sei como encarar isso agora, e os domingos de tererê na calçada? E a viagem à praia que eles sempre me chamaram? Isso também é novo pra mim! Não é como na farmácia, que você escolhe, paga e leva – e ainda tem na bula todos os efeitos colaterais. Não foi por mal, também. Só... aconteceu.

Me lembro, até hoje, do tapete vermelho na sala, da mesinha de centro abarrotada de livros e o brigadeiro que ela fazia. Eu gostava de ficar lá, de verdade, verdade verdadeira. Era como ir á casa dos primos sabe? Tanto que chamava a mãe deles de tia. “Tia, faz isso? Tia, faz aquilo? Tia, tá escuro, me leva pra casa. Eu posso ir com vocês mesmo, tia?” E assim eu fui ficando. Para os churrascos com cerveja, para as tardes na piscina, para as noites de filme e pipoca.

Todo mundo achava que a gente ia namorar. Eu e ele, claro. Eu não falava nada, nunca falei. “Muito bonita sua namorada, Dani” E a gente ria.

A gente começou a ficar mais amiga quando ela entrou para o ensino médio e começou a voltar com a gente. Tinha dia que só ficava eu e ela pra ver a sessão da tarde e comer brigadeiro. E a tia sempre tinha alguém pra visitar. “Juízo meninas, nada de trazer coleguinha aqui pra casa”. Pra quê? Só nós duas já tava bom. Experimentávamos os vestidos da tia ouvindo Ketty Perry no volume mais alto da caixinha do computador.

Sei lá... deve ser esse negócio da puberdade. Pra nós, olhar corpo de outra mulher é normal, não é? Tipo... elas são bonitas. Eu queria ter aqueles peitos. Um dia eu vou ter aqueles peitos.

No colchão para assistir filme eu sempre deitava ao seu lado. No carro também. Aprendi a fazer brigadeiro. Cortava a carne pra ela no churrasco. Varria a casa enquanto ela passava o pano. Jogava água enquanto ela esfregava o Snoop. Arrumava a cama pra tia não brigar. Sonhava com o próximo dia, enquanto ela durmia. Ela sabia de tudo isso. Eu sempre estive lá, quando ela precisou!

Mas não... “Sabe o Fer?” falei que sim “Eu acho que to gostando dele” . Aquilo não era justo. Não depois de tudo. “Mas ele arrota no meio de rua!” ela disse que não se importava, com aquele sorriso de troxa. “Não pode!” “Porque?””Porque ele é um menino!” e ela me olhou, me olhou com aquele jeitinho que a gente faz quando não entende as coisas, sabe? Daí eu beijei ela. Não esperava que ela me empurrasse, nem que a tia chegasse mais cedo. Na verdade, tudo bem. Duvido que ele saiba fazer brigadeiro.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Por que o rebanho precisa de democracia?*

Como Nietzsche, Big Brother e Charlie Chaplin se misturam para explicar a educação política dos brasileiros

Quantas vezes você já se pegou repetindo uma manchete do Jornal Nacional? Ou defendendo um candidato como se fosse seu time do coração? Você pode até ser um daqueles que diz não gostar de política, mas já está se vendo obrigado a escolher um dentre os tantos rostos que aparecem no horário eleitoral. E agora, vai começar a pensar ou vai deixar que os outros – mídia, igreja, pais, amigos – pensem por você?

No mundo que é vontade de poder, interpretar é sempre doar um sentido novo, já que nenhuma interpretação esgota em si todo o sentido e nenhum sentido possibilita que uma interpretação possa ser reconhecida como completa e absoluta. A interpretação reconhece que é uma hipótese, derivada de uma determinada vontade de poder – e não a verdade. Portanto, todo discurso é resultado da interpretação de um determinado indivíduo ou instituição e, como não poderia deixar de ser, reúne as intenções e ideologia de tal.

Porém, num Brasil de brasileiros que não sabem pensar – e quando tentam são interrompidos por futebol, Big Brother e as Helenas de Manuel Carlos – a interpretação como exercício pessoal vira lenda. A influência social forma o posicionamento do indivíduo e a justificativa de uma postura política – para se dispor acima do moralismo – se torna volúvel. Os sujeitos que praticam a “democracia” são regrados por um instinto instantâneo que cultiva todos os chavões e clichês de natureza social.

Em qualquer conversa sobre política as justificativas e argumentações são puramente efusivas e inflamam sem nenhum ponto de apoio. É a situação dos brasileiros que se montam sobre rótulos e se ofuscam sob os ícones vazios que idolatram, em meio à rede de verdades absolutas que impõem o certo e o errado, como se o senso fosse a religião a ser seguida.

Mas, para que essa gente possa carregar uma bandeira e defender à base de dentadas os candidatos, partidos e coligações, é necessário um ser que introduza no repertório social todas as discussões e “abobrinhas”. Essa instituição quase divina funciona como uma muleta psicológica das massas: a mídia.

Discurso imparcial é besteira, tratamento isonômico é furada e compromisso com a verdade é texto para inglês ver. Juntemos tudo isso às promessas de campanha e entreguemos ao seo João para repetir no boteco enquanto joga truco. Se todo discurso é interpretação e toda interpretação é pessoal, façamos a nossa ou fiquemos sempre reproduzindo a dos outros, como um amplificador sem cérebro. É a automação popular.

E o pior é que hoje está tudo igual, não existe mais direita conservadora ou esquerda radicalista para o indivíduo estabelecer um posicionamento. A candidata desprovida de beleza faz botox e o candidato carrancudo aparece sorrindo na capa da revista para conquista o voto pela simpatia. Tanto um quanto outro – e tantos mais – são bonecos embalados para compra, produzidos por um punhado de marqueteiros – os ventríloquos da história – que só fazem classificar a expressão das necessidades de uma comunidade – um rebanho, como Nietzsche chama – e traduzi-la da forma mais convincente possível.

Então, como deixar o destino do país nas mãos de eleitores que não sabem – ou não querem – refletir sobre o que é transmitido no jornal ou na propaganda eleitoral “gratuita”? É o rebanho de brasileiros que se orgulha de exercer a democracia só porque aperta meia dúzia de botõezinhos a cada quatro anos e ainda diz que política é lugar de bandido.

Essa congregação de “ave-marias” cativa pela facilidade de raciocínio: quando existem vários caminhos para um mesmo objetivo, enxerga aquilo que lhe é conveniente e o resto se torna opaco. Essa interpretação pessoal, que hoje é lenda, deveria ser um processo contínuo de confronto de discursos para a reordenação de sentidos de acordo com a vontade do próprio indivíduo. É pensar sem a sombra de um discurso pré-estabelecido.

Mas enquanto essa educação política do brasileiro é utopia, ganham ainda mais força as palavras de Charlie Chaplin: “Amo o público, mas não o admiro. Como indivíduos sim. Mas como multidão, não passa de um monstro sem cabeça”.

*Artigo publicado no jornal Matéria Prima, aqui.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Modo Piauí de (re)fazer o jornalismo*

Revista mensal esquece lead, pirâmide invertida e deadline para reinventar a abordagem da notícia em tempos de internet

Quem está habituado a ler jornais e revistas de conteúdo informativo, já reconhece a estrutura de texto que condiciona o relato jornalístico. A resposta para as perguntas básicas sobre o assunto já nos primeiros parágrafos, acompanhada do desenvolvimento, posicionamento das fontes e a ausência de conclusão compõem o texto convencionado como jornalístico.

Porém, quem abre a revista mensal Piauí encontra reportagens que começam com: “O primeiro bocejo foi do ministro José Antonio Dias Toffoli. Com as mãos em concha, sobre a boca.” e consegue acompanhar, durante todo o texto, detalhes subjetivos que emprestam significados a diferentes cenários, como o Supremo Tribunal Federal, do qual pertence o trecho acima.

A grande diferença não é, necessariamente, o texto propriamente dito, ou a capacidade dos jornalistas que o fazem, e sim o modo de pensar e produzir o jornalismo. Numa época em que impresso, tevê e rádio buscam competir com a agilidade da internet – e por isso veem seus lugares ameaçados pela nova mídia – a Piauí aposta numa análise detalhada para descrição do contexto, como afirma o documentarista e diretor da revista, João Moreira Salles, em entrevista à CBN. “A internet te dá o dia. Já a revista te dá a época em que aquilo ocorreu.”

Ao acompanhar uma reportagem, como a produzida pelo jornalista Luiz Maklof para a edição de agosto deste ano, é possível perceber que há o esforço do jornalista no sentido de transmitir ao leitor a real sensação do cenário que ele percebe - enquanto observador atento, sem a necessidade de discurso breve e conciso. Para preparar essa reportagem, Maklof mudou-se para Brasília e acompanhou por seis meses, todos os dias e personagens do Supremo Tribunal Federal. As despesas foram pagas pela revista e Maklof não trabalhou em nenhum outro texto durante esse período.

Competir com a internet, mantendo os textos estruturados e – até certo ponto – preguiçosos, já se provou não ser uma boa alternativa. Com a explosão da internet, jornais diários de distribuição nacional diminuíram consideravelmente a tiragem, enquanto revistas como a inglesa The Economist, ultrapassaram a barreira de um milhão de exemplares - mesmo sem nunca dar um furo de reportagem - por possuir um texto de análise, ou, como diz o diretor da Piauí à CBN, “uma análise inteligente”.

Produzir um relato sustentado apenas por técnicas de construção textual é trabalho mecânico e, como disse o então presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, não obriga a necessidade de diploma. Despertar a necessidade de um jornalismo mais esforçado e, por que não, criativo, pode ser uma estratégia que valorize a função do jornalista e os profissionais realmente capacitados.

Mas, para que o jornalista ofereça um empenho maior na produção da notícia é fundamental a reformulação das condições de trabalho garantidas pelos empregadores, como o número compatível de funcionários para a quantidade de noticia produzida e adequação salarial, que não obrigue ao jornalista procurar uma outra ocupação no contra-turno. Mas, como isso envolve investimento, fica para segundo plano.

A lógica é simples: qual é o produto de um meio de comunicação? Se for a informação, forneça as condições básicas para que o resultado final seja o melhor possível, agradando leitores, aumentando a tiragem e, assim, o número de anunciantes. Agora, se o objetivo é manter a publicidade, pra quê se preocupar com a informação, não é mesmo?

*Crítica de mídia publicada no jornal Matéria Prima, em 14 de setembro de 2010.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Recorte: Pra começar...

Pra começar, a tela branca te encara questionando sua habilidade. O cursor pisca gritando que não saiu do lugar. Formata para a letra que mais te agrada. Respira. A cadeira não está confortável e nesse momento: nada, pode, te atrapalhar. Acomoda-se e respira de novo, tirando as mãos do teclado. Precisa de uma poltrona. As Casas Bahia estão com uma promoção... Concentra! Olha, o quadro está torto. Volta para a tela. Precisa de um café. Estica as pernas até a cozinha. Volta com a caneca manchada, o vapor cheiroso e a espuminha dourada. Arruma o quadro, senta na cadeira que não é poltrona, olha para os gritos do cursor na tela branca e respira no vapor do café. Pra começar...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Preto no Branco



Essa questão da descriminação racial é muito delicada. Pra mim, qualquer distinção feita pela cor ou característica peculiar de uma pessoa, já é chato. O próprio fato de entender a cor como um diferencial - mesmo sob o pretexto de igualar - já indica, em contrapartida, uma oposição. É como dizer "A nossa justiça vai igualar vocês à nós, normais".
Acontece que descriminação é notícia, sempre.

O complicado é quando a imprensa força isso, como dizer que "Remuneração opõe negros e brancos", título de matéria publicada no jornal de hoje (10/09). A palavra "opõe" dá uma impressão que o mesmo cargo tem salários diferentes conforme a cor do indivíduo. E outra, não há oposição, cada um tá no mercado para conquistar seu espaço. Assim como negros - ou pretos, não há diferença - não alcançam sucesso amparados por uma lei de "justiça racial".


Se o a média do salário de negros no Paraná é menor que a média de brancos, o motivo é cultural. Algo relacionado à colonização européia, a implantação dos grandes centros e, depois, o êxodo de moradores de outros estados. Para uma reflexão dessa não precisa nem de esforço do jornalista, basta uma boa fonte.

Nada que justifique o direcionamento da matéria forçando um "confronto", muito menos o título escolhido.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Café quente em noite fria ou A Lenda do Ouro Verde



Nessa sexta feira o Convite ao Teatro vai apresentar a peça da Cia londrinense Caos e Acasos. Café quente em noite fria ou A Lenda do Ouro Verde traz em cena a geada negra de 1975 que dizimou sumariamente as lavouras de café do norte do estado e a partir da história de Zé Alcindo e Betina, narra um pouco da situação que viveu os agricultores daquela época.

O espetáculo foi contemplado com o Prêmio Funarte de teatro Miryam Muniz. Será às 21h no teatro barracão, entrada franca.

O grupo Caos e Acasos


O grupo formou-se em 1999 em Londrina, profundamente influenciado pelos estudos de Bertolt Brecht e de dramaturgos nacionais como Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Vianna Filho. Em sua trajetória, buscou desenvolver um “teatro em processo” e, em 2002 e 2003, as pesquisas do grupo naturalmente apontaram para a metodologia do teatrólogo Augusto Boal, o Teatro do Oprimido.

Em 2003, o grupo formulou o projeto “Teatro e Transformação Social”, cujo primeiro resultado concreto foi a criação da Fábrica de Teatro do Oprimido (FTO), organização sócio-cultural que tem como finalidade principal a formação de grupos populares de TO e de multiplicadores do método e a promoção de atividades formativas que contribuam para superar as distâncias entre produtores e receptores de arte.

Atualmente, o grupo desenvolve uma pesquisa estética a respeito da obra de Brecht e de suas formulações sobre os princípios do Teatro Épico, buscando sistematizar novos procedimentos e técnicas de trabalho que fortaleçam a prática de um trabalho eminentemente popular; desenvolver um processo de investigação artística sobre a nossa sociedade atual, por meio de uma leitura “épica” de momentos / acontecimentos significativos da história do Paraná e, por fim, aprofundar a reflexão sobre formas de análise da realidade e as funções sociais da arte.

Contato: Nádia Burk – (43) 3339-7766

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Debate sobre criação literária em Maringá



O SESC Paraná promoverá no período de 13 a 17 de setembro a Semana Literária - Leitura e Cotidiano. Em Maringá a programação oferecerá várias oficinas: poesias, microcontos, educomunicação, contação de histórias, mesas de bate-papo, lançamento de livro. E como convidados especiais da Semana Literária os escritores Moacyr Scliar e Cristovão Tezza estarão no salão de eventos do SESC de Maringá no dia 15/09, 20h onde participarão de uma mesa de debate sobre o processo de criação Literária, com a mediação do professor de Literatura Brasileira João Bacellar de Siqueira- UEM


Cristóvão Tezza é um dos mais premiados escritores da literatura Brasileira. É autor dos romances "Breve Espaço Entre Cor e Sombra", "O Fotógrafo" e "O Filho Eterno", ganhador em 2008 dos prêmios Jabuti, Portugal Telecom, entre outros. Também escreveu o ensaio "Entre a Prosa e a Poesia: Bakhtin e o Formalismo Russo".

Moacyr Scliar é Membro da Academia Brasileira de letras, nascido em Porto Alegre, Scliar além de escritor é médico. Ocupa a cadeira 31 da Academia Brasileira de Letras, colabora com vários órgãos da imprensa no país, e é hoje um dos mais importantes escritores da literatura contemporânea, sendo autor de mais de oitenta livros .

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

PJ de Maringá comemora 30 anos

Quem é ou já foi jovem sabe que esse é um período de muitas transformações, tanto físicas quanto psicológicas. É nessa fase, entre o mistério da adolescência e a maturidade da vida adulta, que surgem os principais questionamentos e a disposição para lutar por seus direitos.

A Pastoral da Juventude nasceu desse espírito de festa e luta dos jovens católicos, com foco nos sistemas juvenis de classes populares e marginalizadas. O marco inicial do movimento é a II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano de Puebla, em 1979, quando a Igreja fez uma opção preferencial pela juventude afirmando que “confia nos jovens e eles são sua esperança.”

Os anos que vieram a seguir marcaram o surgimento da pastoral em diversas comunidades brasileiras. Na Arquidiocese de Maringá, o primeiro relato de organização de jovens é de 5 de outubro de 1980, em reunião no colégio Regina Mundi.

Em 30 anos, a Pastoral da Juventude da arquidiocese se estruturou e, segundo a última pesquisa realizada, representa cerca de 3.000 jovens organizados, graças ao esforço de jovens e religiosos que contribuem nesse processo de evangelização. Para a atual coordenadora Renata Requena, o momento é de alegria, mas ainda há muito que fazer. “Necessitamos fazer chegar até as comunidades esse anseio e essa prioridade que é a vida da juventude e, pelo testemunho, envolver outros jovens no processo de evangelização”.

Contudo, a ação em favor da vida do jovem não está restrita ao trabalho religioso empenhado. O envolvimento da comunidade pela defesa e criação de políticas públicas para a juventude é essencial nesse processo. “Enquanto a juventude for prioridade apenas nos planos de pastoral e documentos da Igreja, infelizmente, nos restringiremos a evangelizar os/as jovens que estão já inseridos na nossa comunidade”, completa Renata.

DNJ 25 anos: Celebrando a memória e transformando a história

Instituído em 1985, durante o Ano Internacional da Juventude promovido pela Organização das Nações Unidas, o DNJ (Dia Nacional da Juventude) vem, ao longo dos anos, acompanhando as reivindicações que surgem na comunidade e se espelham em nível nacional. Em 2010, ao completar 25 anos, o Dia Nacional da Juventude propõe a “celebração da memória e transformação da história”, com “muita reza, muita luta e muita festa em marcha contra a violência”, respectivamente tema e lema do evento.

Para a secretária nacional da Pastoral da Juventude, Hildete Emanuele, “O papel profético, missionário e ecumênico do DNJ é de um valor histórico e evangélico impressionantes”. Segundo ela, é preciso valorizar o DNJ e realizá-lo, cada vez mais, como um processo de construção de diálogo em todo o país. “O sentimento de unidade é importantíssimo para que a nossa atividade possa ter uma cara cada vez mais nacional”, completa.

O lançamento oficial do evento será feito em missa presidida pelo arcebispo metropolitano de Maringá, Dom Anuar Battisti, no dia 18 de setembro. A paróquia escolhida para receber os jovens foi a São José Operário, por estar localizada no centro, região de fácil acesso principalmente para jovens que vêm de cidades vizinhas.

Após a missa, será a vez dos jovens levarem para suas comunidades a mensagem recebida de Dom Anuar. Para isso, cada paróquia receberá uma bandeira branca que os jovens pintarão com as mãos. No dia do evento, todas as bandeiras serão reunidas para formar uma só, com a marca de todos os jovens da arquidiocese. Segundo Renata Requena, coordenadora arquidiocesana da Pastoral da Juventude, “Nessa caminhada organizamos os grupos e suas lideranças para que seja realizado um amplo debate com as comunidades e paróquias a fim de envolver o maior número de pessoas no processo”.

Entre os jovens, a esperança é de que o evento realizado esse ano seja maior que o de 2009, quando cerca de cinco mil jovens marcharam contra o extermínio da juventude pela avenida Brasil, uma das principais de Maringá. “Com a experiência do que deu certo e o que deu errado, a gente tem de tudo para fazer esse ano melhor ainda“, confia Vinicius Faria Toná, participante de grupo, que vai para o seu terceiro DNJ.

Preparação mostra a juventude organizada

Para organizar o evento e garantir que tudo esteja pronto até o dia 24 de outubro, estão sendo realizadas desde o mês de julho reuniões entre a coordenação arquidiocesana, assessorias e líderes paroquiais.

Seguindo a estrutura utilizada o ano passado, as tarefas foram distribuídas entre as paróquias e serão coordenadas pela comissão organizadora. Para Renata Requena, coordenadora arquidiocesana da PJ (Pastoral da Juventude), “Os jovens não querem apenas estar presente no grande dia, mas querem fazer parte do processo de construção do DNJ e isso faz com que eles se envolvam e convidem outros jovens e a comunidade para trabalhar a temática proposta para este ano”.

Funções como divulgação, estrutura, saneamento, materiais promocionais e acolhida serão exercidas por jovens participantes dos grupos de base, orientados por coordenadores paroquiais. Paula Pessoa, que participa de grupo de jovens há aproximadamente três anos, diz que “É uma sensação maravilhosa você fazer alguma coisa e ver que aquilo deu certo”. Este ano Paula vai ajudar na ornamentação. “É muito bom saber que o palco que eu vou decorar, o Dom Anuar Battisti irá presidir a missa inicial. Sinto orgulho em estar lá e fazer parte desse grande evento”, completa.

Para aqueles que vão participar pela primeira vez, a expectativa é de repetir a emoção que carrega o comentário dos amigos. É o caso de Sergio Hermsdorff, que participa de grupo de jovens há aproximadamente seis meses, “Espero que tenha muita gente, parece que a organização está muito boa”.

Show de Gabriel O Pensador encerrará DNJ

Um evento da importância simbólica como o Dia Nacional da Juventude necessita, em sua composição, de elementos igualmente significativos que cumpra com a proposta geral. “Não basta ser uma banda ou cantor famoso, o ideal é que tenha uma mensagem para passar”, frisou o assessor eclesiástico da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Maringá, padre Adacílio Felix, toda vez que o assunto era a definição do show de encerramento.

E foi pautado por estes critérios que a equipe organizadora escolheu o nome do rapper Gabriel O Pensador, que promete cumprir com as expectativas. Filho da jornalista Belisa Ribeiro, Gabriel chegou a concluir o curso de Comunicação Social, mas ganhou fama com músicas ácidas de crítica social e moral. “Os próprios jovens da nossa arquidiocese escolheram o Gabriel também pelo envolvimento pessoal dele com a juventude”, lembra padre Adacílio.

Com letras carregadas de denúncia contra as injustiças sociais e anomalias do comportamento do brasileiro, Gabriel ganhou mídia e respeito nacional. Aliado ao sucesso de sua carreira, desenvolveu seu lado ativista social criando a Ong Pensando Junto, que atende crianças, jovens e adolescentes carentes da comunidade da Rocinha. Além da Ong, Gabriel dá palestras em colégios e faculdades com temas relacionados à juventude e sociedade.

Para a coordenadora arquidiocesana da Pastoral da Juventude, Renata Requena, “A proposta de trazer o Gabriel é chamar também os jovens que não estão na Igreja, não participam de nenhum grupo de jovens. Se nos restringirmos a trazer artistas do campo religioso, nos restringiremos ao público da Igreja”.

O show de encerramento marcará o fim da marcha do DNJ e será realizado na praça em frente a Setran (Secretaria de Trânsito), antigo aeroporto.

sábado, 4 de setembro de 2010

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Parece festa de velório



Eeeeeeeeee – bexigas, linguas de sogra e confetes – o jornal bateu recorde de venda publicitária neste mês de agosto. Nunca antes na história desse jornal - 36 anos para ser exato - lucrou-se tanto com anúncios como agora. É um bom consolo, por enquanto. A Gazeta Maringá já surgiu na web e, com uma festa de lançamento que reuniu cerca de 300 convidados, já se prepara para a produção impressa.


Vai ser no mínimo interessante ver como se comportará o mercado da notícia maringaense, tanto na questão editorial, quanto publicitária. Concorrência gera aprimoramento e o resultado é divertido. Foi a concorrência com a Folha do Norte que impulsionou o crescimento do Diário do Norte, vamos ver agora como vai ser com a chegada do novo concorrente.

Pausa para um desabafo


Não sei se é só comigo, mas pensar em escrever para uma tiragem de milhares acaba com aquela segurança de quando começo o texto. Por isso até prefiro quando baixa o porraloka e escrevo numa batida só, é mais difícil apagar uma linha quando o texto tá completo, no máximo mexo numa palavra ou outra. Escrever pra internet é uma diferente, quase uma máscara que você assume, mas publicar numa revista, ainda mais representando algo, é tenso. Tenho até domingo para entregar mais de sete mil caracteres e to escrevendo pro blog.. Desejem-me sorte, ou não.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Problemas da transparência

Candibook: Um brilhante hotsite criado para divulgar a ficha completa dos candidatos a cargos públicos das eleições deste ano. A iniciativa do Grupo RPC responde bem ao trabalho de conscientização e informação que propuseram há algum tempo.

Porém, por mais completo que esteja, sempre dá pra achar um erro – quem trabalha com isso sabe muito bem como é. Falo erro, porque acredito que não é a intenção.

Na ficha do candidato ao senado pelo PP, Ricardo Barros, a certidão do STJ que consta é a da sua esposa, Cida Borghetti, candidata a uma cadeira federal. Pode ser que colocaram provisoriamente – antes de Ricardo ser absolvido da denúncia de improbidade administrativa - e esqueceram de trocar; e pode ser que não.

Enquanto isso confira o hotsite, é um ótimo instrumento para conhecer seu candidato: Candibook

Tá aí o link do erro, Certidões Criminais -> Certidão do Superior Tribunal de Justiça: Ficha de Ricardo Barros

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Fenomenal: Fantasmas da 2ª Guerra

Simplesmente espectacular. Encontrei no site da Piauí a indicação para o trabalho do fotógrafo russo Sergey Larenkov. Com a ajuda do photoshop ele mescla cenas da 2ª Guerra com o cenário atual. Uma transição de dimensões e contextos inspirante. Ideia e domínio técnico que merecem todos os elogios.


O trabalho se chama "The Ghosts of World War II. E você pode encontrar mais aqui.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sobre a vida

H1 - Ele já pulou?
H2 - Pulou nada.
H3 - Já olhou pra baixo umas três vezes.
H1 - Ih... Quando começa assim é porque vai desistir.
H3 - Trouxe a minha cerveja?
H1 - Tá na sacola. Vem cá, você não acha melhor tirar o carro ali de baixo?
Silêncio
H1 - Quero dizer, se ele pular...
H3 - Ah sei lá.
Silêncio
H1 - Será que o patrão fecha amanhã?
Silêncio
H1 - Quero dizer, se ele pular?
H3 - Duvido, poderia ser a mãe dele lá em cima. E outra, ele não vai...
H2 - Eu acho que ele pula. Olha só como estufou o peito.
H3 - Morre a sinuca de hoje numa aposta?
H2 - Fechado.
H1 - Com quem ele tá gritando?
Silêncio
Um baque. Som de alarme de carro.
H3 - Filho da puta.
H2 - Preciso de um parceiro novo.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Núcleo de Dramaturgia

Eu não fiz trabalho em pai de santo, não prometi ir de joelhos à Basílica de Nossa Senhora e nem jejum de chocolate, mas que eu queria ser aprovado para o Núcleo de Dramaturgia do Sesi, ah eu queria. E FUI! Então, até que eles mudem de idéia, to dentro.

O projeto vem com uma boa proposta e experiência nas capitais. A idéia é fazer uma oficina regular de pesquisa, estudo e produção para formar novos dramaturgos, mesclando a experiência de quem já faz teatro com o talento de quem pretende se aventurar pelos palcos. Falei "talento", por isso, ainda corro um certo risco.

Só pra garantir, já adquiri meu exemplar de “O Parnorama do Teatro Brasileiro” de Sábato Magaldi, que faz uma releitura crítica do nascimento, crise e desenvolvimento da arte cênica em nossas terras, até chegar ao que é hoje. O que eu peguei, tem um apêndice que projeta uma nova tendência dos autores modernos, muito interessante.

Quem quiser saber mais sobre o Núcleo de Dramaturgia do Sesi:
http://www.sesipr.org.br/nucleodedramaturgia/
http://www.sesisp.org.br/dramaturgia/

terça-feira, 27 de julho de 2010

Conversa civilizada


Tá fazendo o quê aqui? – pedaço de madeira
nada não senhor. precisa bater não senhor! - recua
Você que é o dono da boca? - avança

FALA VAGABUNDO!
sô nada não. so de Cambé senhor – se encolhe
E perdeu o quê aqui?!
como senhor? – medo
O-QUÊ-VO-CÊ-PER-DEU-A-QUI?!
perdi nada não senhor. so morador de rua.
E precisa ficar na frente da minha loja? Não tá vendo que tem cliente entrando?
desculpa senhor – olhar baixo
Vai arrumar um serviço muleque! - espanta
crackeado não para em serviço não senhor. ninguém pega.
Como você quer arrumar serviço? Não sabe nem ser gente!

O que a gente não faz por uma boa história


Na volta do Matéria Prima eu fui parar na Vila Esperança, que fica atrás da Uem. Ir aos bairros procurar pautas é um desafio, pode ser que você encontre de cara uma figurona que escreve salmos na parede de casa ou bater perna o sábado inteiro e não ver mais que casas e comércio. Na dúvida, prestamos atenção em tudo.

E não tinha nada. Andei por umas 15 ruas e só achei jardins, uma pichação e três casas tocando Justin Bieber. Até que encontrei um salãozinho minúsculo com uma placa pendurada dizendo: Salão do Cidinho. Na pior das hipóteses ele conheceria alguém interessante.

Foi aí que eu tive a brilhante idéia: Pra não atrapalhar o serviço, corto cabelo e converso com o Cidinho. Não que eu precisasse, aliás, não fazia nem uma semana que tinha aparado a juba. Mas a princípio a idéia pareceu boa.

Entrei e o simpático senhorzinho (1,5m aproximadamente) de bigode alinhado e impecável jaleco branco me recebeu com um sonoro: tenho um corte que vai ficar ótimo em você. Pronto, a simpatia dele já tinha ganhado.

Nas mãos firmes empunhando os instrumentos já se iam mais de quarenta anos detesoura. Os primeiros em Munhoz de Melo, onde nasceu e morou até se casar. “Mas antes trabalhei na lavoura, era assim antes né?”, disse Cidinho, enquanto passava a máquina sem dó de me deixar careca. Como pedir pra ele parar se ficou tão animado com meu cabelo?

Foi quando eu perguntei como aprendeu a cortar cabelos. Ele parou, me olhou e disse: “Ainda bem que você me perguntou isso agora, que já comecei. Porque eu aprendi num sonho.” Pára tudo. “Como assim num sonho seu Cidinho?!” Eu não sabia se ria ou chorava. Minha pauta tava garantida, mas meu cabelo poderia estar indo pro saco.

Enfim, o resto fica pra semana que vem, quando a matéria estiver pronta e meu cabelo, normal de novo. Não dá pra entregar o ouro todo aqui. Até lá, quem quiser um corte de cabelo e uma boa prosa, Salão do Cidinho, na Rua Vitória, Vila Esperança.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Recorte: Como dizia Platão


Foi sem querer, mas eu percebi quando ela olhou. Porque eu fui tropeçar no corredor? O pior foi o cara de bobo. Deixa pra lá, fiquei sabendo que ela curte Bob Dylan e toca violão. Não é muito comum achar alguém assim hoje em dia. Ontem ouvi ela cantarolando um pedaço de Blowing in the Wind. É meio melosa, mas eu gosto. E ela falou da lua quando eu tava olhando. Também gosto de admirar a lua. Daqui dá pra ver como ela fica linda quando escurece. O laranja perto dos prédios e o anil tingindo aos poucos o que era dia. Interessante como de um tempo pra cá vem ficando mais bonito. Porque eu to tremendo?

terça-feira, 20 de julho de 2010

Recorte: A Falta


Ela não sorri mais. Só olha pra baixo e parece com medo. “Infarto é muito comum, acontece com todo mundo”, foi o que eu disse, não sei se ajudou muito. Acho que faltou um abraço, mas não dá pra fazer isso aqui na empresa. Ela nem riu da piada do computador. Ajudou na vaquinha, mas não tomou coca-cola. Beliscou um pouco do salgadinho. Às vezes ela fica mais de quinze minutos no banheiro, deve estar chorando. Perder o pai assim também, né? É tenso. Nem sei o que eu faria se perdesse o meu. Ela tá bem pra baixo, eles deveriam ver isso, dar uma folga, sei lá. Não que ela fosse animada, mas ria de algumas piadas. Não gostava dela, mas agora to sentindo uma pena. Vou ligar para o meu pai hoje à noite.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Filme: [Rec]


Segunda é dia de Indicação de filme, e isso é uma coisa muito pessoal. Quem faz, finge que entende, comenta sobre direção, fotografia, o passado dos atores, fala sobre Cannes e a injustiça do Oscar desse ano. Mas no fundo, é como falar de futebol ou política, depende do ponto de vista.

Falando em ponto de vista, eu, particularmente curto muito os filmes em primeira pessoa. É mais fácil de você se identificar com a cena, ainda mais quando é de terror, que envolve ação, suspense e os sustos básicos. Nessa linha, já tinha visto Cloverfield e Atividade Paranormal, mas nenhum foi como [Rec]*.

Repórter e cinegrafista de uma tv espanhola acompanham a equipe de bombeiros da cidade no trabalho noturno. Depois de alguns minutos na corporação, eles são chamados para uma ocorrência sobre uma velha e um bando de gatos presos num apartamento. Tá bom, é clichê, mas o sustos compensam. Desde o primeiro minuto acompanhamos a visão do cinegrafista, que não larga a câmera nem quando é atacado(!). A dinâmica das fugas, os gritos da repórter estérica e as crianças contaminadas dão um toque bem real para o filme. Quem gostar da idéia, assista em espanhol, não é difícil entender e o som é muito melhor.

*Curiosidade: O primeiro susto, próximo à escada, é real. Os atores não foram avisados.

[Rec] 2 – Tem previsão para estrear em Agosto deste ano.


[Rec]
[Rec]

Espanha , 2007 - 85 mins
Terror

A indústria da palestra


Quer saber como lucrar mesmo em época de crise?
Vem na minha palestra que eu te conto.

É só sair a palavra “crise” nos noticiários que explodem palestrantes com a fórmula mágica para te deixar rico e feliz. Numa sexta-feira fria e chuvosa, fechei minha semana com uma bela apresentação sobre Marketing, Tabus e Paradigmas, divertido não?

Já participei de várias dessas, mas, no fundo, sempre achei que fosse o mesmo cara, só mudava o terno. São empresários (apresentam a empresa vitoriosa), consultores (deixam contato, para posteridade), casados e têm uma netinha de oito anos. São simpáticos, falam alto, apertam forte sua mão e já têm mais de 30 anos no comércio. “Mas comecei como vendedor, batendo de porta em porta e levando não de cliente!”, deixam claro.

Acho que pra ser palestrante você tem que ter uma espécie de egocentrismo, uma vontade incontrolável de ser o centro das atenções. Porque o assunto é sempre o mesmo. Na verdade parece um grupo de auto-ajuda, que as pessoas já ouviram tudo aquilo, mas vão para encher sua bola. Ontem, fiz questão de anotar as expressões comuns domine-as, e torne-se também um palestrante de sucesso:

Você tem que sair da zona de conforto e ter ousadia para fazer diferente, o mundo está mudando e para se destacar é necessário quebrar tabus e paradigmas, para isso, administre seu tempo e mantenha sempre uma continua vontade de aprender, principalmente sobre o seu Cliente, é um excelente fator de aproximação, assim você conseguirá navegar no oceano azul. Pronto.

Insira slides de pessoas sorrindo, e distribua pela apresentação palavras mágicas em inglês que todo mundo já ouviu e finge que entende para não fazer feio: share, business, network, one-to-one, management, relationship e feedback.

Agora que você já é um palestrante, decore piadas para sua apresentação. É fundamental que você seja engraçado porque a imagem do homem de negócio mal humorado e carrancudo não vende. Diga que acorda cedo, que conhece um a um seus clientes, que leu “O monge e o executivo”, fale sobre Ford, os 4 P’s do Marketing e que entende de arte. Depois, quando todo mundo estiver cansado de tudo isso, aplique uma dinâmica de interação grupal.

Finalize falando de sustentabilidade, tá na moda. Enquanto o slide passa imagens bonitas, repita com fervor: “Um copo descartável que eu não desperdiço, pode mudar o rumo do planeta!”. Comente sobre Al Gore e “Uma verdade Inconveniente”. Para acordar o pessoal de novo, distribua uma folha com o título “Para refletir! Que ações de sustentabilidade poderemos implementar a partir de agora?”.

Pra fazer uma média, sorteie um brinde, pode ser o livro que você escreveu(?) com base nesse conteúdo tão original (?), o sortudo(?) pode dar para um inimigo ou deixar sobre a mesa para ganhar status com o patrão. Deseje sucesso e fique na porta para cumprimentar todos, não esqueça de dar seu cartão de consultoria.

E, ironicamente, coloque como titulo: Marketing, Tabus e Paradigmas.

PS¹: Prepare um coquetel de salgadinhos e coca-cola na saída, isso deixa uma boa impressão.

sábado, 17 de julho de 2010

Univer$idade


A gente reclama da faculdade, mas no fundo, sente falta. Não das aulas, lógico. Deve ser da galera, do hamburgão do bloco 5 ou mesmo do gostinho de reclamar da faculdade, nas férias nem reclamar podemos. Deve ser por saudade disso tudo que li a matéria “Reforma Universitária”, na edição de junho da Caros Amigos.

O artigo assinado por Otaviano Helene e Lighia B. Horodynski-Matsushigue explica bem a situação, apontando as principais deficiências dos projetos de lei propostos para a área da educação e a mercantilização do ensino superior no país (confira o link do artigo, vale a pena). Um dos principais pontos discutidos é a redução do número mínimo de docentes com doutorado para uma instituição ser considerada universidade.

Na atual legislação, é obrigatório para uma universidade ter 25% de docentes com doutorado. Na proposta, a necessidade passaria para um terço, mas igualando mestres a doutores, o que praticamente exclui os últimos porque o custo é maior. Redução de custos, são empresas, oras.

Muito interessante e até uma incrível coincidência ler isso agora, logo quando o curso de comunicação do Cesumar está perdendo as duas únicas doutoras que mantinha no corpo docente. Em contrapartida, mantém na grade curricular do curso de Jornalismo, matérias como Planejamento Gráfico (ensina: impressão off-set, design gráfico e tratamento de imagens) e Gestão de Empresas Jornalística (administração básica, que, de jornalística, não tem nada).

Entre outras arbitrariedades, o artigo aponta que a reforma também desestimularia a pesquisa. No início do ano eu participei de um seminário de iniciação científica que propunha auxiliar os acadêmicos á ingressar projetos vinculados a instituição. No entanto, durante os quatro sábados de palestra a única coisa que nós dominamos foram os requisitos básicos para ganharmos bolsas do Cnpq. E o pior, isso era exatamente o que a maioria queria saber mesmo, do dinheiro.

Mas o que podemos esperar de uma instituição de ensino privada? (desculpem o trocadilho).

O grande problema é que essas empresas apresentam um ensino superior maquiado por mega-estruturas, equipamentos avançados e marketing de ponta. Lógico, o objetivo é vender e imagem é tudo. Enquanto o setor público senta em carteiras quebradas e perde aula por falta de professor. Fode tudo quando lembramos que a balança, que pode beneficiar ou prejudicar, está nas mãos de políticos (influência, dinheiro e poder).