sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A irmã do meu melhor amigo

Eu não sou ele, sou ela. Esse é o problema. Ou era. Só não sei como encarar isso agora, e os domingos de tererê na calçada? E a viagem à praia que eles sempre me chamaram? Isso também é novo pra mim! Não é como na farmácia, que você escolhe, paga e leva – e ainda tem na bula todos os efeitos colaterais. Não foi por mal, também. Só... aconteceu.

Me lembro, até hoje, do tapete vermelho na sala, da mesinha de centro abarrotada de livros e o brigadeiro que ela fazia. Eu gostava de ficar lá, de verdade, verdade verdadeira. Era como ir á casa dos primos sabe? Tanto que chamava a mãe deles de tia. “Tia, faz isso? Tia, faz aquilo? Tia, tá escuro, me leva pra casa. Eu posso ir com vocês mesmo, tia?” E assim eu fui ficando. Para os churrascos com cerveja, para as tardes na piscina, para as noites de filme e pipoca.

Todo mundo achava que a gente ia namorar. Eu e ele, claro. Eu não falava nada, nunca falei. “Muito bonita sua namorada, Dani” E a gente ria.

A gente começou a ficar mais amiga quando ela entrou para o ensino médio e começou a voltar com a gente. Tinha dia que só ficava eu e ela pra ver a sessão da tarde e comer brigadeiro. E a tia sempre tinha alguém pra visitar. “Juízo meninas, nada de trazer coleguinha aqui pra casa”. Pra quê? Só nós duas já tava bom. Experimentávamos os vestidos da tia ouvindo Ketty Perry no volume mais alto da caixinha do computador.

Sei lá... deve ser esse negócio da puberdade. Pra nós, olhar corpo de outra mulher é normal, não é? Tipo... elas são bonitas. Eu queria ter aqueles peitos. Um dia eu vou ter aqueles peitos.

No colchão para assistir filme eu sempre deitava ao seu lado. No carro também. Aprendi a fazer brigadeiro. Cortava a carne pra ela no churrasco. Varria a casa enquanto ela passava o pano. Jogava água enquanto ela esfregava o Snoop. Arrumava a cama pra tia não brigar. Sonhava com o próximo dia, enquanto ela durmia. Ela sabia de tudo isso. Eu sempre estive lá, quando ela precisou!

Mas não... “Sabe o Fer?” falei que sim “Eu acho que to gostando dele” . Aquilo não era justo. Não depois de tudo. “Mas ele arrota no meio de rua!” ela disse que não se importava, com aquele sorriso de troxa. “Não pode!” “Porque?””Porque ele é um menino!” e ela me olhou, me olhou com aquele jeitinho que a gente faz quando não entende as coisas, sabe? Daí eu beijei ela. Não esperava que ela me empurrasse, nem que a tia chegasse mais cedo. Na verdade, tudo bem. Duvido que ele saiba fazer brigadeiro.

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