quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Uma bela manhã para comprar pães

Ele, suéter xadrez sobreuma camisa branca, de listras quase imperceptíveis. Uma calça de linho cinza grosso e um mocassim surrado, porém lustroso. Abaixo da careca manchada pela idade, óculos de grossas hastes e uma lente amarelada escondendo dois negros olhos que penduram bolsas d’água. Nas mãos o jornal da manhã e o caminhar de quem pensa e agora entende o sentido da vida.

Ela, de dobrinhas no rosto e boca murcha. Os longos fios brancos amarrados em coque e presos por grampos, como mamãe fazia para ir à missa. Sobre o corpo miúdo, já curvado pelo cansaço, a túnica florida e uma saia de corte reto que acaba onde começa a meia marrom, esticada até o alto para esconder as canelas brancas. Nos pés, o chinelinho de tira e nas mãos uma sacola de padaria que balança ao ritmo lento da caminhada.

- Se ela disse que ia ligá de novo, vamu esperá, uai.

Ele não respondeu. Ao fundo, o som do escapamento de uma moto se distancia.

- Será que eu botei o fejão de moio?

- Quando eu sai tava na água.

- Tem que bota – a fala entrecortada pela respiração – O Júlio só gosta de fejão novo. Diz ele que fejão véio tem gosto de barro.

Como de costume, ele confere a rua para atravessarem. Quando seguro, estica o braço à procura das mãozinhas enrugadas. Em segundo plano, um carro de cor prata dobra a esquina sem dar sinal de seta.

- Lembra da pracinha, bem? – respira. Aquela de Poços de Caldas. As criança miudinha brincava no parquinho e a gente tomava aquele sorvete... lembra, bem? – respira. Qual era o nome mesmo?

- Sensação, eu acho.

Uma buzina forte e um palavrão a duas quadras. Para atravessar novamente e chegar ao canteiro central da avenida, mãos dadas compartilhando os passos lentos.

- Ela falou se ia trazer as criança?

- E ela lá dexá de trazer? Do jeito que aquela mininada gosta do vô – olha para cima sorrindo para seu velho, com certo esforço. Sentia-o abatido naquela manhã – A casa hoje vai virá uma narquia que só – sorrindo.

Dessa vez ele não respondeu, seu olhar tinha se perdido num grupo de crianças que brincavam num ponto de ônibus, em Júlio que queria feijão novo, na filha que ficou de ligar, nos netos que poderiam estar mais perto. Deu por si já beirando o cruzamento e esticou o braço.

- Dá a mão, bem.

Ouve-se uma freada forte seguida de um baque seco.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Praia

Sabe, olhando assim, eu nunca aprendia a surfar. Também não torcia para o flamengo de 81. Minhas professoras eram gordas e tinha bigodes e eu juro que tentei decorar Faroeste Caboclo, eu juro... O quê? Covade? Eu? Você não sabe com quem está falando!

Água no joelho

Falando... com quem... com quem ficou... meus amigos nunca me devolvem os livros que eu empresto. Os livros também nunca me devolvem os amigos emprestados. No 11 de setembro eu tava no banheiro, acredita? Por que eu tenho que sorrir quando estou sendo filmado? E você? O que tá olhando? E esse sussurro que não para!

Água na cintura

Eu tenho que admitir, durmi vendo O Poderoso Chefão. Mas não foi culpa minha. Também nunca me safei da morte, sabia? Acho que ela não se preocupa comigo. Vai ver é por isso que também nunca vi graça em igreja.

Água no pescoço

Eu sou um nada. Nunca fui preso. Nunca recebi flores nem abraços de pêsames. Não fui vilão de nenhuma novela das oito. Mais que merda, to falando besteiras aqui e nem motivo pra me matar eu tenho!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Uma aula com Cristovão Tezza

Se fosse uma dupla sertaneja, seriam milhares; se tivesse apoio de faculdades, talvez fossem centenas; mas como Tezza é só um dos principais nomes da literatura contemporânea brasileira, reuniu cerca de trinta fãs maringaenses na sala social do Sesc Maringá, para um bate papo sobre Tecnologia e Leitura no Cotidiano.

Com otimismo e bom humor característico, o autor de “O Filho Eterno” - vencedor do Jabuti como melhor romance - reconheceu essa falha no discernimento cultural do brasileiro, ou, como disse “aqui é mais fácil se conhecer o time todo do flamengo – contando os reservas – que o nome dos principais escritores brasileiros do século 20”.

Diversificado entre all-stars, mocassins e tamanquinhos, o público encontrou um Tezza à vontade, tanto com a cidade, quanto com o tema. Macmaníaco assumido, trouxe um Kindle e contou sua trajetória na literatura fazendo links com a evolução dos meios de produção. Apesar da grande empatia pela tecnologia, Tezza confidenciou que só seu último livro foi escrito direto no computador, os outros eram na base da caneta e papel.

Mediado pelo jornalista Marcelo Bulgarelli, o tema fluiu como uma conversa entre amigos, sem cerveja, claro. O público reduzido passou a ser uma vantagem, logo que os presentes se mostraram amplamente interessados nos assuntos propostos. Estudantes, professores e mães puderam provar um pouco da experiência do escritor curitibano com temas atuais, em constante transição.

Além de escritor, Tezza falou como professor e pesquisador, por diversas vezes se dispersando entre passagens curiosas e autores importantes. No final, ao ser perguntado se Maringá daria um bom cenário para uma história, respondeu com bom humor “É complicado, dizem que quem é feliz não escreve. E aqui em Maringá há uma boa chance de você ser feliz”.

O conteúdo? Tente ir da próxima vez.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Troco

- Posso te ajudar?

- Não.

- O que você quer?

- Nada.

- Como assim? Nada?

- Já disse, não quero nada.

- Como você não quer nada? O que veio fazer aqui?

- Eu?

- Claro que é você! O que veio fazer aqui?

- Você tá me expulsando?

- Puta que pariu...

- É isso mesmo? Você tá me expulsando daqui?

- Mas é claro que não!

- Não grita comigo!

- Quem tá gritando aqui? Quem tá gritando aqui?! – bate no balcão – Fala! To cansado desse papinho, ouviu?!

- Calma cara... só quero saber se você tem troco pra dez.

- Serve duas de cinco?

- Pode ser.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Se

Com a porra daquela arma
apontada pra minha cabeça
não dava...
não deu pra pensar nada
foi como...
sei lá
cara...
a gente precisa fazer alguma coisa
chama a polícia
que droga!
Eu passei pela praça
e nem vi nada
não vi nem a sorveteria
não vi
o ponto de táxi...
vim direto aqui
Porra mano você tem que me ajuda
A gente volta lá
Mas pra...
Tipo, a gente passa lá
Pega o fusca
Vai mano...
Se...
Se a policia tiver lá
Daí a gente...
Sei lá
A gente tem que ver como ela tá
Se...
Se a gente falar com a policia
Eu ainda lembro o rosto do cara
Mas não posso ir lá sozinho
Não quero
Eu falo que ela...
Que ela não quis passar a bolsa
Que era...
Se ela...
Eu não vi nada
Depois dos tiros eu corri
Mais ainda...
E se ela não...
Se eu tivesse...
Se ela...
Porque ela não correu também?

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A irmã do meu melhor amigo

Eu não sou ele, sou ela. Esse é o problema. Ou era. Só não sei como encarar isso agora, e os domingos de tererê na calçada? E a viagem à praia que eles sempre me chamaram? Isso também é novo pra mim! Não é como na farmácia, que você escolhe, paga e leva – e ainda tem na bula todos os efeitos colaterais. Não foi por mal, também. Só... aconteceu.

Me lembro, até hoje, do tapete vermelho na sala, da mesinha de centro abarrotada de livros e o brigadeiro que ela fazia. Eu gostava de ficar lá, de verdade, verdade verdadeira. Era como ir á casa dos primos sabe? Tanto que chamava a mãe deles de tia. “Tia, faz isso? Tia, faz aquilo? Tia, tá escuro, me leva pra casa. Eu posso ir com vocês mesmo, tia?” E assim eu fui ficando. Para os churrascos com cerveja, para as tardes na piscina, para as noites de filme e pipoca.

Todo mundo achava que a gente ia namorar. Eu e ele, claro. Eu não falava nada, nunca falei. “Muito bonita sua namorada, Dani” E a gente ria.

A gente começou a ficar mais amiga quando ela entrou para o ensino médio e começou a voltar com a gente. Tinha dia que só ficava eu e ela pra ver a sessão da tarde e comer brigadeiro. E a tia sempre tinha alguém pra visitar. “Juízo meninas, nada de trazer coleguinha aqui pra casa”. Pra quê? Só nós duas já tava bom. Experimentávamos os vestidos da tia ouvindo Ketty Perry no volume mais alto da caixinha do computador.

Sei lá... deve ser esse negócio da puberdade. Pra nós, olhar corpo de outra mulher é normal, não é? Tipo... elas são bonitas. Eu queria ter aqueles peitos. Um dia eu vou ter aqueles peitos.

No colchão para assistir filme eu sempre deitava ao seu lado. No carro também. Aprendi a fazer brigadeiro. Cortava a carne pra ela no churrasco. Varria a casa enquanto ela passava o pano. Jogava água enquanto ela esfregava o Snoop. Arrumava a cama pra tia não brigar. Sonhava com o próximo dia, enquanto ela durmia. Ela sabia de tudo isso. Eu sempre estive lá, quando ela precisou!

Mas não... “Sabe o Fer?” falei que sim “Eu acho que to gostando dele” . Aquilo não era justo. Não depois de tudo. “Mas ele arrota no meio de rua!” ela disse que não se importava, com aquele sorriso de troxa. “Não pode!” “Porque?””Porque ele é um menino!” e ela me olhou, me olhou com aquele jeitinho que a gente faz quando não entende as coisas, sabe? Daí eu beijei ela. Não esperava que ela me empurrasse, nem que a tia chegasse mais cedo. Na verdade, tudo bem. Duvido que ele saiba fazer brigadeiro.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Por que o rebanho precisa de democracia?*

Como Nietzsche, Big Brother e Charlie Chaplin se misturam para explicar a educação política dos brasileiros

Quantas vezes você já se pegou repetindo uma manchete do Jornal Nacional? Ou defendendo um candidato como se fosse seu time do coração? Você pode até ser um daqueles que diz não gostar de política, mas já está se vendo obrigado a escolher um dentre os tantos rostos que aparecem no horário eleitoral. E agora, vai começar a pensar ou vai deixar que os outros – mídia, igreja, pais, amigos – pensem por você?

No mundo que é vontade de poder, interpretar é sempre doar um sentido novo, já que nenhuma interpretação esgota em si todo o sentido e nenhum sentido possibilita que uma interpretação possa ser reconhecida como completa e absoluta. A interpretação reconhece que é uma hipótese, derivada de uma determinada vontade de poder – e não a verdade. Portanto, todo discurso é resultado da interpretação de um determinado indivíduo ou instituição e, como não poderia deixar de ser, reúne as intenções e ideologia de tal.

Porém, num Brasil de brasileiros que não sabem pensar – e quando tentam são interrompidos por futebol, Big Brother e as Helenas de Manuel Carlos – a interpretação como exercício pessoal vira lenda. A influência social forma o posicionamento do indivíduo e a justificativa de uma postura política – para se dispor acima do moralismo – se torna volúvel. Os sujeitos que praticam a “democracia” são regrados por um instinto instantâneo que cultiva todos os chavões e clichês de natureza social.

Em qualquer conversa sobre política as justificativas e argumentações são puramente efusivas e inflamam sem nenhum ponto de apoio. É a situação dos brasileiros que se montam sobre rótulos e se ofuscam sob os ícones vazios que idolatram, em meio à rede de verdades absolutas que impõem o certo e o errado, como se o senso fosse a religião a ser seguida.

Mas, para que essa gente possa carregar uma bandeira e defender à base de dentadas os candidatos, partidos e coligações, é necessário um ser que introduza no repertório social todas as discussões e “abobrinhas”. Essa instituição quase divina funciona como uma muleta psicológica das massas: a mídia.

Discurso imparcial é besteira, tratamento isonômico é furada e compromisso com a verdade é texto para inglês ver. Juntemos tudo isso às promessas de campanha e entreguemos ao seo João para repetir no boteco enquanto joga truco. Se todo discurso é interpretação e toda interpretação é pessoal, façamos a nossa ou fiquemos sempre reproduzindo a dos outros, como um amplificador sem cérebro. É a automação popular.

E o pior é que hoje está tudo igual, não existe mais direita conservadora ou esquerda radicalista para o indivíduo estabelecer um posicionamento. A candidata desprovida de beleza faz botox e o candidato carrancudo aparece sorrindo na capa da revista para conquista o voto pela simpatia. Tanto um quanto outro – e tantos mais – são bonecos embalados para compra, produzidos por um punhado de marqueteiros – os ventríloquos da história – que só fazem classificar a expressão das necessidades de uma comunidade – um rebanho, como Nietzsche chama – e traduzi-la da forma mais convincente possível.

Então, como deixar o destino do país nas mãos de eleitores que não sabem – ou não querem – refletir sobre o que é transmitido no jornal ou na propaganda eleitoral “gratuita”? É o rebanho de brasileiros que se orgulha de exercer a democracia só porque aperta meia dúzia de botõezinhos a cada quatro anos e ainda diz que política é lugar de bandido.

Essa congregação de “ave-marias” cativa pela facilidade de raciocínio: quando existem vários caminhos para um mesmo objetivo, enxerga aquilo que lhe é conveniente e o resto se torna opaco. Essa interpretação pessoal, que hoje é lenda, deveria ser um processo contínuo de confronto de discursos para a reordenação de sentidos de acordo com a vontade do próprio indivíduo. É pensar sem a sombra de um discurso pré-estabelecido.

Mas enquanto essa educação política do brasileiro é utopia, ganham ainda mais força as palavras de Charlie Chaplin: “Amo o público, mas não o admiro. Como indivíduos sim. Mas como multidão, não passa de um monstro sem cabeça”.

*Artigo publicado no jornal Matéria Prima, aqui.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Modo Piauí de (re)fazer o jornalismo*

Revista mensal esquece lead, pirâmide invertida e deadline para reinventar a abordagem da notícia em tempos de internet

Quem está habituado a ler jornais e revistas de conteúdo informativo, já reconhece a estrutura de texto que condiciona o relato jornalístico. A resposta para as perguntas básicas sobre o assunto já nos primeiros parágrafos, acompanhada do desenvolvimento, posicionamento das fontes e a ausência de conclusão compõem o texto convencionado como jornalístico.

Porém, quem abre a revista mensal Piauí encontra reportagens que começam com: “O primeiro bocejo foi do ministro José Antonio Dias Toffoli. Com as mãos em concha, sobre a boca.” e consegue acompanhar, durante todo o texto, detalhes subjetivos que emprestam significados a diferentes cenários, como o Supremo Tribunal Federal, do qual pertence o trecho acima.

A grande diferença não é, necessariamente, o texto propriamente dito, ou a capacidade dos jornalistas que o fazem, e sim o modo de pensar e produzir o jornalismo. Numa época em que impresso, tevê e rádio buscam competir com a agilidade da internet – e por isso veem seus lugares ameaçados pela nova mídia – a Piauí aposta numa análise detalhada para descrição do contexto, como afirma o documentarista e diretor da revista, João Moreira Salles, em entrevista à CBN. “A internet te dá o dia. Já a revista te dá a época em que aquilo ocorreu.”

Ao acompanhar uma reportagem, como a produzida pelo jornalista Luiz Maklof para a edição de agosto deste ano, é possível perceber que há o esforço do jornalista no sentido de transmitir ao leitor a real sensação do cenário que ele percebe - enquanto observador atento, sem a necessidade de discurso breve e conciso. Para preparar essa reportagem, Maklof mudou-se para Brasília e acompanhou por seis meses, todos os dias e personagens do Supremo Tribunal Federal. As despesas foram pagas pela revista e Maklof não trabalhou em nenhum outro texto durante esse período.

Competir com a internet, mantendo os textos estruturados e – até certo ponto – preguiçosos, já se provou não ser uma boa alternativa. Com a explosão da internet, jornais diários de distribuição nacional diminuíram consideravelmente a tiragem, enquanto revistas como a inglesa The Economist, ultrapassaram a barreira de um milhão de exemplares - mesmo sem nunca dar um furo de reportagem - por possuir um texto de análise, ou, como diz o diretor da Piauí à CBN, “uma análise inteligente”.

Produzir um relato sustentado apenas por técnicas de construção textual é trabalho mecânico e, como disse o então presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, não obriga a necessidade de diploma. Despertar a necessidade de um jornalismo mais esforçado e, por que não, criativo, pode ser uma estratégia que valorize a função do jornalista e os profissionais realmente capacitados.

Mas, para que o jornalista ofereça um empenho maior na produção da notícia é fundamental a reformulação das condições de trabalho garantidas pelos empregadores, como o número compatível de funcionários para a quantidade de noticia produzida e adequação salarial, que não obrigue ao jornalista procurar uma outra ocupação no contra-turno. Mas, como isso envolve investimento, fica para segundo plano.

A lógica é simples: qual é o produto de um meio de comunicação? Se for a informação, forneça as condições básicas para que o resultado final seja o melhor possível, agradando leitores, aumentando a tiragem e, assim, o número de anunciantes. Agora, se o objetivo é manter a publicidade, pra quê se preocupar com a informação, não é mesmo?

*Crítica de mídia publicada no jornal Matéria Prima, em 14 de setembro de 2010.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Recorte: Pra começar...

Pra começar, a tela branca te encara questionando sua habilidade. O cursor pisca gritando que não saiu do lugar. Formata para a letra que mais te agrada. Respira. A cadeira não está confortável e nesse momento: nada, pode, te atrapalhar. Acomoda-se e respira de novo, tirando as mãos do teclado. Precisa de uma poltrona. As Casas Bahia estão com uma promoção... Concentra! Olha, o quadro está torto. Volta para a tela. Precisa de um café. Estica as pernas até a cozinha. Volta com a caneca manchada, o vapor cheiroso e a espuminha dourada. Arruma o quadro, senta na cadeira que não é poltrona, olha para os gritos do cursor na tela branca e respira no vapor do café. Pra começar...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Preto no Branco



Essa questão da descriminação racial é muito delicada. Pra mim, qualquer distinção feita pela cor ou característica peculiar de uma pessoa, já é chato. O próprio fato de entender a cor como um diferencial - mesmo sob o pretexto de igualar - já indica, em contrapartida, uma oposição. É como dizer "A nossa justiça vai igualar vocês à nós, normais".
Acontece que descriminação é notícia, sempre.

O complicado é quando a imprensa força isso, como dizer que "Remuneração opõe negros e brancos", título de matéria publicada no jornal de hoje (10/09). A palavra "opõe" dá uma impressão que o mesmo cargo tem salários diferentes conforme a cor do indivíduo. E outra, não há oposição, cada um tá no mercado para conquistar seu espaço. Assim como negros - ou pretos, não há diferença - não alcançam sucesso amparados por uma lei de "justiça racial".


Se o a média do salário de negros no Paraná é menor que a média de brancos, o motivo é cultural. Algo relacionado à colonização européia, a implantação dos grandes centros e, depois, o êxodo de moradores de outros estados. Para uma reflexão dessa não precisa nem de esforço do jornalista, basta uma boa fonte.

Nada que justifique o direcionamento da matéria forçando um "confronto", muito menos o título escolhido.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Café quente em noite fria ou A Lenda do Ouro Verde



Nessa sexta feira o Convite ao Teatro vai apresentar a peça da Cia londrinense Caos e Acasos. Café quente em noite fria ou A Lenda do Ouro Verde traz em cena a geada negra de 1975 que dizimou sumariamente as lavouras de café do norte do estado e a partir da história de Zé Alcindo e Betina, narra um pouco da situação que viveu os agricultores daquela época.

O espetáculo foi contemplado com o Prêmio Funarte de teatro Miryam Muniz. Será às 21h no teatro barracão, entrada franca.

O grupo Caos e Acasos


O grupo formou-se em 1999 em Londrina, profundamente influenciado pelos estudos de Bertolt Brecht e de dramaturgos nacionais como Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Vianna Filho. Em sua trajetória, buscou desenvolver um “teatro em processo” e, em 2002 e 2003, as pesquisas do grupo naturalmente apontaram para a metodologia do teatrólogo Augusto Boal, o Teatro do Oprimido.

Em 2003, o grupo formulou o projeto “Teatro e Transformação Social”, cujo primeiro resultado concreto foi a criação da Fábrica de Teatro do Oprimido (FTO), organização sócio-cultural que tem como finalidade principal a formação de grupos populares de TO e de multiplicadores do método e a promoção de atividades formativas que contribuam para superar as distâncias entre produtores e receptores de arte.

Atualmente, o grupo desenvolve uma pesquisa estética a respeito da obra de Brecht e de suas formulações sobre os princípios do Teatro Épico, buscando sistematizar novos procedimentos e técnicas de trabalho que fortaleçam a prática de um trabalho eminentemente popular; desenvolver um processo de investigação artística sobre a nossa sociedade atual, por meio de uma leitura “épica” de momentos / acontecimentos significativos da história do Paraná e, por fim, aprofundar a reflexão sobre formas de análise da realidade e as funções sociais da arte.

Contato: Nádia Burk – (43) 3339-7766

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Debate sobre criação literária em Maringá



O SESC Paraná promoverá no período de 13 a 17 de setembro a Semana Literária - Leitura e Cotidiano. Em Maringá a programação oferecerá várias oficinas: poesias, microcontos, educomunicação, contação de histórias, mesas de bate-papo, lançamento de livro. E como convidados especiais da Semana Literária os escritores Moacyr Scliar e Cristovão Tezza estarão no salão de eventos do SESC de Maringá no dia 15/09, 20h onde participarão de uma mesa de debate sobre o processo de criação Literária, com a mediação do professor de Literatura Brasileira João Bacellar de Siqueira- UEM


Cristóvão Tezza é um dos mais premiados escritores da literatura Brasileira. É autor dos romances "Breve Espaço Entre Cor e Sombra", "O Fotógrafo" e "O Filho Eterno", ganhador em 2008 dos prêmios Jabuti, Portugal Telecom, entre outros. Também escreveu o ensaio "Entre a Prosa e a Poesia: Bakhtin e o Formalismo Russo".

Moacyr Scliar é Membro da Academia Brasileira de letras, nascido em Porto Alegre, Scliar além de escritor é médico. Ocupa a cadeira 31 da Academia Brasileira de Letras, colabora com vários órgãos da imprensa no país, e é hoje um dos mais importantes escritores da literatura contemporânea, sendo autor de mais de oitenta livros .

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

PJ de Maringá comemora 30 anos

Quem é ou já foi jovem sabe que esse é um período de muitas transformações, tanto físicas quanto psicológicas. É nessa fase, entre o mistério da adolescência e a maturidade da vida adulta, que surgem os principais questionamentos e a disposição para lutar por seus direitos.

A Pastoral da Juventude nasceu desse espírito de festa e luta dos jovens católicos, com foco nos sistemas juvenis de classes populares e marginalizadas. O marco inicial do movimento é a II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano de Puebla, em 1979, quando a Igreja fez uma opção preferencial pela juventude afirmando que “confia nos jovens e eles são sua esperança.”

Os anos que vieram a seguir marcaram o surgimento da pastoral em diversas comunidades brasileiras. Na Arquidiocese de Maringá, o primeiro relato de organização de jovens é de 5 de outubro de 1980, em reunião no colégio Regina Mundi.

Em 30 anos, a Pastoral da Juventude da arquidiocese se estruturou e, segundo a última pesquisa realizada, representa cerca de 3.000 jovens organizados, graças ao esforço de jovens e religiosos que contribuem nesse processo de evangelização. Para a atual coordenadora Renata Requena, o momento é de alegria, mas ainda há muito que fazer. “Necessitamos fazer chegar até as comunidades esse anseio e essa prioridade que é a vida da juventude e, pelo testemunho, envolver outros jovens no processo de evangelização”.

Contudo, a ação em favor da vida do jovem não está restrita ao trabalho religioso empenhado. O envolvimento da comunidade pela defesa e criação de políticas públicas para a juventude é essencial nesse processo. “Enquanto a juventude for prioridade apenas nos planos de pastoral e documentos da Igreja, infelizmente, nos restringiremos a evangelizar os/as jovens que estão já inseridos na nossa comunidade”, completa Renata.

DNJ 25 anos: Celebrando a memória e transformando a história

Instituído em 1985, durante o Ano Internacional da Juventude promovido pela Organização das Nações Unidas, o DNJ (Dia Nacional da Juventude) vem, ao longo dos anos, acompanhando as reivindicações que surgem na comunidade e se espelham em nível nacional. Em 2010, ao completar 25 anos, o Dia Nacional da Juventude propõe a “celebração da memória e transformação da história”, com “muita reza, muita luta e muita festa em marcha contra a violência”, respectivamente tema e lema do evento.

Para a secretária nacional da Pastoral da Juventude, Hildete Emanuele, “O papel profético, missionário e ecumênico do DNJ é de um valor histórico e evangélico impressionantes”. Segundo ela, é preciso valorizar o DNJ e realizá-lo, cada vez mais, como um processo de construção de diálogo em todo o país. “O sentimento de unidade é importantíssimo para que a nossa atividade possa ter uma cara cada vez mais nacional”, completa.

O lançamento oficial do evento será feito em missa presidida pelo arcebispo metropolitano de Maringá, Dom Anuar Battisti, no dia 18 de setembro. A paróquia escolhida para receber os jovens foi a São José Operário, por estar localizada no centro, região de fácil acesso principalmente para jovens que vêm de cidades vizinhas.

Após a missa, será a vez dos jovens levarem para suas comunidades a mensagem recebida de Dom Anuar. Para isso, cada paróquia receberá uma bandeira branca que os jovens pintarão com as mãos. No dia do evento, todas as bandeiras serão reunidas para formar uma só, com a marca de todos os jovens da arquidiocese. Segundo Renata Requena, coordenadora arquidiocesana da Pastoral da Juventude, “Nessa caminhada organizamos os grupos e suas lideranças para que seja realizado um amplo debate com as comunidades e paróquias a fim de envolver o maior número de pessoas no processo”.

Entre os jovens, a esperança é de que o evento realizado esse ano seja maior que o de 2009, quando cerca de cinco mil jovens marcharam contra o extermínio da juventude pela avenida Brasil, uma das principais de Maringá. “Com a experiência do que deu certo e o que deu errado, a gente tem de tudo para fazer esse ano melhor ainda“, confia Vinicius Faria Toná, participante de grupo, que vai para o seu terceiro DNJ.

Preparação mostra a juventude organizada

Para organizar o evento e garantir que tudo esteja pronto até o dia 24 de outubro, estão sendo realizadas desde o mês de julho reuniões entre a coordenação arquidiocesana, assessorias e líderes paroquiais.

Seguindo a estrutura utilizada o ano passado, as tarefas foram distribuídas entre as paróquias e serão coordenadas pela comissão organizadora. Para Renata Requena, coordenadora arquidiocesana da PJ (Pastoral da Juventude), “Os jovens não querem apenas estar presente no grande dia, mas querem fazer parte do processo de construção do DNJ e isso faz com que eles se envolvam e convidem outros jovens e a comunidade para trabalhar a temática proposta para este ano”.

Funções como divulgação, estrutura, saneamento, materiais promocionais e acolhida serão exercidas por jovens participantes dos grupos de base, orientados por coordenadores paroquiais. Paula Pessoa, que participa de grupo de jovens há aproximadamente três anos, diz que “É uma sensação maravilhosa você fazer alguma coisa e ver que aquilo deu certo”. Este ano Paula vai ajudar na ornamentação. “É muito bom saber que o palco que eu vou decorar, o Dom Anuar Battisti irá presidir a missa inicial. Sinto orgulho em estar lá e fazer parte desse grande evento”, completa.

Para aqueles que vão participar pela primeira vez, a expectativa é de repetir a emoção que carrega o comentário dos amigos. É o caso de Sergio Hermsdorff, que participa de grupo de jovens há aproximadamente seis meses, “Espero que tenha muita gente, parece que a organização está muito boa”.

Show de Gabriel O Pensador encerrará DNJ

Um evento da importância simbólica como o Dia Nacional da Juventude necessita, em sua composição, de elementos igualmente significativos que cumpra com a proposta geral. “Não basta ser uma banda ou cantor famoso, o ideal é que tenha uma mensagem para passar”, frisou o assessor eclesiástico da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Maringá, padre Adacílio Felix, toda vez que o assunto era a definição do show de encerramento.

E foi pautado por estes critérios que a equipe organizadora escolheu o nome do rapper Gabriel O Pensador, que promete cumprir com as expectativas. Filho da jornalista Belisa Ribeiro, Gabriel chegou a concluir o curso de Comunicação Social, mas ganhou fama com músicas ácidas de crítica social e moral. “Os próprios jovens da nossa arquidiocese escolheram o Gabriel também pelo envolvimento pessoal dele com a juventude”, lembra padre Adacílio.

Com letras carregadas de denúncia contra as injustiças sociais e anomalias do comportamento do brasileiro, Gabriel ganhou mídia e respeito nacional. Aliado ao sucesso de sua carreira, desenvolveu seu lado ativista social criando a Ong Pensando Junto, que atende crianças, jovens e adolescentes carentes da comunidade da Rocinha. Além da Ong, Gabriel dá palestras em colégios e faculdades com temas relacionados à juventude e sociedade.

Para a coordenadora arquidiocesana da Pastoral da Juventude, Renata Requena, “A proposta de trazer o Gabriel é chamar também os jovens que não estão na Igreja, não participam de nenhum grupo de jovens. Se nos restringirmos a trazer artistas do campo religioso, nos restringiremos ao público da Igreja”.

O show de encerramento marcará o fim da marcha do DNJ e será realizado na praça em frente a Setran (Secretaria de Trânsito), antigo aeroporto.

sábado, 4 de setembro de 2010

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Parece festa de velório



Eeeeeeeeee – bexigas, linguas de sogra e confetes – o jornal bateu recorde de venda publicitária neste mês de agosto. Nunca antes na história desse jornal - 36 anos para ser exato - lucrou-se tanto com anúncios como agora. É um bom consolo, por enquanto. A Gazeta Maringá já surgiu na web e, com uma festa de lançamento que reuniu cerca de 300 convidados, já se prepara para a produção impressa.


Vai ser no mínimo interessante ver como se comportará o mercado da notícia maringaense, tanto na questão editorial, quanto publicitária. Concorrência gera aprimoramento e o resultado é divertido. Foi a concorrência com a Folha do Norte que impulsionou o crescimento do Diário do Norte, vamos ver agora como vai ser com a chegada do novo concorrente.

Pausa para um desabafo


Não sei se é só comigo, mas pensar em escrever para uma tiragem de milhares acaba com aquela segurança de quando começo o texto. Por isso até prefiro quando baixa o porraloka e escrevo numa batida só, é mais difícil apagar uma linha quando o texto tá completo, no máximo mexo numa palavra ou outra. Escrever pra internet é uma diferente, quase uma máscara que você assume, mas publicar numa revista, ainda mais representando algo, é tenso. Tenho até domingo para entregar mais de sete mil caracteres e to escrevendo pro blog.. Desejem-me sorte, ou não.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Problemas da transparência

Candibook: Um brilhante hotsite criado para divulgar a ficha completa dos candidatos a cargos públicos das eleições deste ano. A iniciativa do Grupo RPC responde bem ao trabalho de conscientização e informação que propuseram há algum tempo.

Porém, por mais completo que esteja, sempre dá pra achar um erro – quem trabalha com isso sabe muito bem como é. Falo erro, porque acredito que não é a intenção.

Na ficha do candidato ao senado pelo PP, Ricardo Barros, a certidão do STJ que consta é a da sua esposa, Cida Borghetti, candidata a uma cadeira federal. Pode ser que colocaram provisoriamente – antes de Ricardo ser absolvido da denúncia de improbidade administrativa - e esqueceram de trocar; e pode ser que não.

Enquanto isso confira o hotsite, é um ótimo instrumento para conhecer seu candidato: Candibook

Tá aí o link do erro, Certidões Criminais -> Certidão do Superior Tribunal de Justiça: Ficha de Ricardo Barros