terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A menina que roubava sonhos


Eu tenho um sonho bom, nele toca Bob Dylan. Estou deitado, abro os olhos e vejo um campo de flores. Rosas, vermelhas, amarelas e azuis. São violetas risonhas, belas tulipas, talvez margaridas e rosas românticas. Eu recolho minhas coisas e sigo.

Though I know that evenin's empire has returned into sand,

Vanished from my hand,
Left me blindly here to stand but still not sleeping.

Eu já conheço essa trilha, são os mesmos passos de ontem.  No chão, em meio a grama rala, já pisada, se espalham cartas de Neruda à Vinicius, de Vinicius à Goethe. São palavras bonitas. Eu caminho entre os significados dessas cartas num rastro de saudade, a procura de um sorriso que não é meu.

My weariness amazes me, I'm branded on my feet,
I have no one to meet
And the ancient empty street's too dead for dreaming.


Logo a frente, onde finda a trilha, eu vejo uma menina de cabelo vermelho e vestido florido. Ela dança como dança quem não é visto, rodando seu vestido numa poesia que é só dela.  Nasceu com isso. Com ela, também, está o sorriso que procuro, uma cesta e um pincel numa das mãos. Enquanto dança espalha as cartas, palavras bonitas. Com o pincel desenha sorrisos nas violetas, belas tulipas, talvez margaridas. As rosas não. Pra serem românticas, cria com um beijo.

Take me on a trip upon your magic swirlin' ship,
My senses have been stripped, my hands can't feel to grip,
My toes too numb to step, wait only for my boot heels
To be wanderin'.

Vestida de primavera, sorriso de quem brinca, a menina de cabelos vermelhos carrega na cesta os sonhos de outros viajantes, poetas, boêmios, errantes... uma coleção de “bem-me-quer” e um punhado de dor. Naquele campo sem passado, entorpeço na miragem colorida desse folk, sem perguntas, afinal. E onde estou, fico, vendo o sol deitar no fundo. O campo ganha mais em cores a cada passo da menina-primavera. Ela segue sua dança, leva o sol para o próximo sonho e eu adormeço no colo da lua.

I'm ready to go anywhere, I'm ready for to fade 
Into my own parade, cast your dancing spell my way,
I promise to go under it.

Eu, Bob Dylan e a Lua, nada mais que isso.

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me...

“Pilote a seu favor” faz treinamento com a guarda civil

Campanha promovida pelo jornal O Diário e parceiros quer alertar para os fatores que colocam o motociclista em situações de risco

Foi realizada na última quinta-feira, 01, a primeira de uma série de ações educativas que fazem parte da campanha de conscientização no trânsito “Vida: Pilote a seu favor”. Promovida pelo Grupo O Diário em parceria com Sindimotos e Beto Produções, a campanha tem como apoiadores a Honda Freeway, K1 Motors e a Eriton Motos. 

O curso tem carga horária de oito horas, dividas entre quatro teóricas e quatro práticas. A primeira palestra foi realizada na sala de treinamentos da Honda Freeway e teve como público cerca de 20 agentes da guarda civil. Para o diretor comercial da concessionária, Alessandro Piero, as ações educativas somam em valor para a classe de motociclistas da cidade. “O motociclista tem que entender que ele não é só vítima, mas parte integrante desse processo que é o trânsito.”

Com foco na segurança do motociclista, os treinamentos apresentam desde os cuidados básicos com itens de segurança até técnicas de pilotagem defensiva em condições adversas. Segundo o instrutor Carlos Beto, da Beto Promoções, o objetivo é alertar para os inúmeros fatores que colocam o motociclista em situações de risco.

“Não é só o modo como o motociclista pilota, é preciso que ele tenha consciência do tempo de reação do seu cérebro, como agir e quanto espaço ele precisa para o caso de uma frenagem de emergência”, explica. Aspectos relativos à condição do motociclista também são abordados no curso. “Fazemos um cálculo para saber a quilometragem mensal percorrida por cada um. Com base nisso, estabelecemos uma média segura que evita o desgaste excessivo.”, completa.

A segunda parte do treinamento é feita em pista montada no terreno do antigo terminal urbano. Para Beto, porém, grande parte dos motociclistas maringaenses apresenta falhas primárias, como má postura sobre a moto, posicionamento inadequado na via e uso indevido dos freios. “São falhas na formação do condutor, descuidos simples que só contribuem para o alto número de acidentes na cidade”, completa. De janeiro a novembro deste ano já foram registradas 76 mortes em Maringá, 46 eram motociclistas.

Serviço:
Pessoas e empresas interessadas em participar devem entrar em contato com Beto Produções, nos telefones: (44) 4141-4826 e (44) 9134 0817.  As inscrições são gratuitas.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Choppstorm, com PC Siqueira, atrai mais de 450 pessoas em Maringá

Matéria para o portal odiario.com, postada aqui.

Quarta-feira e, mesmo não tendo rodada de futebol, a chopperia estava lotada. Cerca de 450 pessoas, grande parte adolescentes, se misturavam entre as mesas e a movimentação dos garçons. O vai e vem das canecas só interrompia quando, de uma janela interna, surgia um sujeito franzino e descabelado vestindo camisa xadrez e óculos retrô.

Enquanto o público aguardava, PC Siqueira aproveitava para tirar fotos e comentar nas redes sociais. O comentário era visto e respondido quase que instantaneamente por quem estava no bar. Essa relação direta com o público e sua transformação em “webcelebridade” eram, justamente, os temas do 1º Choppstorm, ciclo de debates sobre comunicação e propaganda promovido pelo Publistorm, blog parceiro do jornal O Diário.

“O PC tem carisma, o que atrai muita gente. Ele descobriu como fazer sucesso estando na tv, web, publicidade”, explica Felipe Agnello, criador do Publistorm e um mediador do evento. Segundo Agnello, muita gente que o conhece só pelos vídeos, se surpreende com o conhecimento que PC Siqueira esboça numa conversa comum. “Ele sabe o que está acontecendo, participa disso tudo e está ciente de toda essa mídia em cima dele”.

Sob uma chuva de flashs e parando a cada metro para atender a pedidos de foto, PC Siqueira chegou ao palco e se juntou aos entrevistadores: Jany Lima, coordenadora artística e apresentadora da Mix FM, Wilson Teixeira, diretor de Marketing do grupo O Diário, Ivan Tomita gerente de Produção da Bandeirantes TV Maringá e Kim Archette, apresentador do programa Quinquilharias, também da TV Maringá. As perguntas, que iam desde sua ascensão na rede até sua preferência por dinossauros, também podiam ser feitas pelo twitter por meio da hashtag #PCnoCHOPPSTORM.

Não fossem os vídeos postados em seu canal no youtube, o paulista natural de Guarulhos Paulo César Siqueira continuaria sendo um ilustrador de que trabalhava de domingo a domingo em seu quarto. “Eu fiz como qualquer pessoa faria com uma câmera em casa: liguei e falei”. Depois que postou o primeiro vídeo, em fevereiro de 2010, seu videolog “Maspoxavida” já teve mais de 34 milhões de acessos e seu perfil no twitter já ultrapassou 1 milhão de seguidores.

“São varias pessoas que se identificam com o que você tá fazendo e começam a valorizar aquilo que você diz”, respondeu. Com a fama e a agenda que vieram a seguir, o PC ilustrador deu lugar ao vloggeiro. Em pouco mais de um ano, a imagem de PC Siqueira passou a ser vendida em comerciais na web, tv e eventos. “Tem muita procura, mesmo. Isso me permite escolher quais produtos eu vou fazer, aqueles que eu indicaria mesmo”, completa. Segundo adiantou o blogueiro do odiario.com, Fábio Linjardi, só para o evento de ontem foram R$ 5 mil, mais despesas de alimentação e hospedagem.

“Não dá pra criar um vlog e dizer: ‘Vou trabalhar com isso’. É só um lugar democrático que você coloca suas ideias e ninguém vai te interromper”, respondeu, afirmando não ter ideia de porque outros vloggeiros não alcançaram o mesmo sucesso. Ainda na metade do evento, a hashtag #PCnoCHOPPSTORM já estava no trend topics Brasil, os assuntos mais comentados do twitter. A essa altura, já passavam de trinta os adolescentes de pé ao lado do palco, incansáveis.

Todos queriam ouvi-lo, mas o som não ajudou muito. Para responder uma das perguntas, PC foi até a beirada do palco e sentou-se ao lado da fã. “Bom” para Nina Desenne, 14, que mal conseguia falar depois disso. “Achei muito legal. É um bate papo... aqui é um bar, estou com meus amigos e ele sentou do meu lado”. Quando perguntada sobre o porque de PC ser tão importante, a estudante não gaguejou. “A gente percebe que ele não pensa como os outros. Quando tem um assunto que qualquer pessoa diria algo normal, ele vai lá e fala algo completamente diferente”, completa.

Antes mesmo de acabar as perguntas já não era possível contar o número de pessoas que cercavam o palco. Entre o encerramento e a chegada até o camarim foram 17 minutos e 43 fotos - contando com as quatro que precisou fazer com funcionários da chopperia quando tentou escapar pela cozinha. Sobre o assédio, PC diz ter noção que “isso acaba”, mas não tem medo de, com o tempo, ser só mais um rostinho bonito da internet.

domingo, 20 de novembro de 2011

Rei de mim


Olhe pra ela, contando moedas. É uma boa mãe até, pena que bebe. Bebe pra esquecer dessas moedas talvez. Ela bebia mais, parou quando nasceu o mais novo. Sustentar cinco é difícil. Queria um trabalho, parece que semana passada quase chamaram ela para um supermercado do centro. Ela usou perfume, lavou a roupa da missa, disse que voltava com doces. E voltou. Os pequenos adoraram. Mas eu percebi que o sorriso ela deixou lá.

Olhe pra ela, tão preocupada com todas as coisas. É uma boa mulher. Faz-se de mãe tão de repente. Queria um emprego. Se fosse alguns anos mais nova talvez conseguisse. Não que seja velha, mas ela não se encaixa mais. Esguia, magricela, não é bonita. “Eu era linda, a mais bonita da classe” mostrou uma vez em fotos sobre a cama. Eu vi ela chorando aquele dia. Carregar cinco é difícil. Deu um aperto no peito. Ela me contou dos namorados, do pai ciumento. “Seu avô tocou ele de casa com uma pá! Uma pá, acredita?” e ria seus dentes tortos.

Olhe pra ela, mesmo magricela bate doído. Vara, cinta, fio, vassoura. Quando eu tô perto eu seguro, não deixo bater no bebê. Aí ela vai para o quarto e se tranca. A maior faz a janta, feijão com farinha e cebola. Quando tem batata é festa. Ela fritou uma vez pra nós e disse que é igual comida de estrangeiro. Teve uma noite que ela não bebeu, nos levou na laje e contou sobre as estrelas. Disse que cada um de nós tem uma lá, que fica lá de cima vendo o que a gente não vê.

Eu acho que a minha tá vendo muita coisa.

Eles olham pra ela contando defeitos. Todos aqui nesse ônibus, com lugares pra chegar, compromissos, contas pra pagar. Gostam de estar do nosso lado, assim podem ver alguém de cima. Qualquer um com seus pobremas e problemas. Notam nossos tênis furados, nossas meias coloridas, nossas camisetas manchadas de rosa, nossos shorts menores que o corpo. Notam a calcinha dela pra fora da calça enquanto ela conta trocados. Não tem nada a ver com a nossa cor. A coisa tá no olho deles, eu vi.

Olhem só para ela, chacoalhando trocados no bolso, pendurando as crianças nos ombros, desviando de todos para alcançar a porta do ônibus, sem economizar cotovelos e gritos para os menores. Carregar cinco é difícil, dá trabalho. Eu sei. Ela arruma a roupinha do bebê, mas deixa o nariz sujo, tem que limpar, ele fica incomodado. Ele passou a noite com febre, piorou de manhã. Agora vai no médico.

Eles desceram.

Não desço.

Ela me grita de fora do ônibus.

Não ouço.

O bebê tá chorando, os menores com medo.

Fecho os olhos.

Carregar cinco é difícil.

Vou procurar minha estrela.

Carregar quatro é mais fácil.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Tradição para levar o prêmio

João Paulo Santos

 Da série de matérias sobre o "Festival Prato de Butiquim", publicada no jornal O Diário e no portal odiario.com no dia 24 de outubro 

Quando José Rafael Pacheco foi convidado a participar do Festival Prato de Butiquim, não pensou duas vezes: o caldo de mocotó seria o representante do Bar do Rafa na disputa. A especialidade da casa promete ter com o júri o mesmo sucesso que faz com o público há quase 25 anos e conquistar o prêmio de melhor prato de butiquim de Maringá.

O favoritismo, contudo, ele deixa de lado. Rafa, como é conhecido, diz que o sucesso do prato é resultado do cuidado que aprendeu a ter em cada etapa. "Nós só usamos água quente no preparo e tiramos a gordura, que deixa o caldo pesado e não tem química alguma. Esses detalhes deixam o sabor mais puro, mais leve", revela.

Para que sejam servidas no almoço, as peças de mocotó precisam cozinhar por, pelo menos, três horas, até que o caldo fique "apurado" e os ossos se soltem. "Desde as oito [da manhã] já tem panela no fogo. A casa abre às 11 e a qualquer hora que o cliente vier tem caldo pronto". Servido na caneca e decorado com cheiro verde e salsinha, o caldo é servido acompanhado de farinha e pão. A pimenta varia conforme o gosto do cliente.


A paixão com que fala do prato é mesma que rege o bar desde a sua criação, em 1987. Na época funcionário de um banco, Rafa trocou a segurança do terno e gravata pelo sonho de ter um estabelecimento próprio. Com uma "portinha" e apenas uma funcionária, começou a atender e entender do assunto. "Mudava governo, faltava produto e a gente tinha que continuar atendendo. Graças a Deus nunca passei por um momento de crise".


Com o sucesso do caldo de mocotó nos dias frios, o Bar do Rafa garantia sustento para as outras estações do ano. Esse controle em situações difíceis Rafa aprendeu desde cedo, plantando e colhendo soja no sítio de parentes. Da origem simples ele diz carregar a humildade, que passa para clientes e funcionários. "Sempre digo que a gente tem que atender bem, não importa a situação. Desse jeito o cliente gosta do lugar, se sente bem aqui e volta".


A estratégia deu certo, o bar cresceu e hoje chega contar com até doze funcionários em dias de grande movimento. "E ainda falta, tem vez que sai até duzentas porções no mesmo dia. Isso só de mocotó, a gente também serve rabada, dobradinha e outros caldos". Se há planos para o futuro? Para Rafa, o principal plano é "manter o ritmo sem perder a qualidade".


Para conferir
Bar do Rafa: Av. Pedro Taques, 1774, Jardim Alvorada.
Telefone: 3246-7085

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A metade que falta

Oi, tudo bem? Queria ligar, mas... bom, agora não dá né?  Eu só queria dizer que tá tudo bem por aqui, eu consegui aquela vaga que comentei contigo há um tempo atrás, lembra? Naquele dia que você me levou para ver a lua e deitamos no capô do seu carro. Você me dizia que não tinha muito tempo, que queria ir logo para a viagem que programou na faculdade e eu falando de fast-food com um copo de refrigerante na mão. Você ria daquele seu jeito de rir com o meu desinteresse, falava que eu não sabia o tamanho do mundo. Que era muito maior que a nossa cidadezinha... eu achava aquilo viajado, mas agora entendo. Eu conheço o mundo agora e ele me dá medo.

Você dizia que não tinha medo de nada, mas eu sei que não gostava de ficar sozinho.

Todos te chamavam de louco, inclusive eu... mas também, que ideias eram aquelas? Mas é dessa loucura que eu sinto falta, sabia? As coisas aqui são muito sóbrias. A vida é muito cinza do alto desse prédio e Roma não é das mais simpáticas a brasileiros. Esses dias me peguei pensando como seria se você estivesse aqui. Você faria piada com o cara da banca de jornal, depois compraríamos um whisky barato e beberíamos até um não agüentar levar o outro para casa. Encontraríamos um pub – ou seja lá como chamam isso aqui, não tive tempo de conhecer – e faríamos amizade com uma estrangeira que fuma Dunhill. Eu ficaria com ciúmes e você iria rir, como sempre ria das minhas crises de ciúmes.

Você não dormiu com aquela garota do Tribo’s, não é mesmo?

Eu só soube semana passada, mas seu pai esteve por aqui. Queria ter visto ele, poderíamos conversar sobre política e futebol como aqueles dias na sua casa. Eu tentava dar atenção pra ele e você, da cozinha, ficava imitando animais. Eu ria e seu pai não entendia nada, coitado. Sinto falta dele. Quando voltar ao Brasil, não posso esquecer de passar na casa dos seus pais... vou levar um jornal daqui, ele ficava todo orgulhoso em ver o nosso nome, lembra?

Eu fiquei com os seus óculos redondos, você não se importa né?

Semana passada eu acabei com um Jack Daniels que tinha guardado. Pensei na gente e chorei igual criança. Eu não sou dessas que bebe e chora, você sabe, mas aquele dia foi diferente... era o nosso dia, lembra? Eu sentei no sofá e escrevi um poema. É meio piegas e deve ter umas três frases de Vinicius, mas quem liga? São umas frases que eu decorei de tanto você escrever no vidro do quarto. Eu comprei um toca discos só pra ouvir aquele LP de bossa nova que você me deu. Tem noites que eu não consigo dormir e coloco para tocar. Sei lá. Parece que tô com você.

Ele me ligou esses dias. Disse que tá com saudade. Mandei ele para o inferno e disse que cinco anos tinham sido o bastante, que acabou.

Fiquei pensando em como seria se tivesse escolhido passar aquele reveillon no seu apartamento. Quem sabe eu teria percebido que você tava doente, que estava mais magro que o normal. Que o seu cabelo estava caindo. Que já sorria com dificuldade. Eu teria notado, meu amor, a gente teria feito algo. Me contaram que sua mãe te encontrou deitado na escrivaninha, sorrindo.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A (a)posta do Santo

 

Da série de matérias sobre o "Festival Prato de Butiquim", publicada no jornal O Diário e no portal odiario.com no dia 06 de outubro

Já na entrada do bar você percebe a diferença, a recepção é feita ao som de Mart’nália e o ambiente decorado entre o rústico da madeira e a delicadeza de letras à mão, gravadas na parede. Na batida leve do afro samba, você pode aproveitar para conhecer a “Posta Marinada do Santo”, prato que representa o Santo Bar no Festival Prato de Butiquim, que será realizado em novembro.
 
Enquanto aguarda o preparo – tudo é feito na hora – a sugestão são as famosas batatas em conserva, temperadas com azeite, orégano e sal. Para provar do estilo musical da casa, você espera na companhia de Paula Toller, Tulipa Ruiz ou quem sabe um blues – o “setlist” é recheado. Na cozinha o corte do lagarto, chamado de posta, vai ao fogo.
 
“Para ser servido à noite, a carne descansou o dia todo em molho de azeite com cebola picada e ervas finas”, explica Hamilton Mariano, organizador de eventos e gerente do Santo. Quanto mais tempo a peça “marinar”, mais sabor empresta do tempero. Mariano entende, mas quem toma conta da cozinha é a esposa, Val Fuentes, que se diz apaixonada por culinária.
 
Artista plástica, Val coordenava um ateliê e, ao fim das aulas, reunia as alunas para saborear alguns pratos. Nos encontros, mostrava o que aprendeu com os pais, donos de restaurante. A brincadeira começou a virar tradição e surgiu a ideia de, quem sabe, profissionalizar o projeto. “Mas faltava o lugar”, conta Mariano. “Como sempre moramos ali perto, na Humaitá, passávamos de carro e comentávamos sobre a estrutura, o local”, lembra.
 
 Quando o imóvel que queriam foi desocupado, há cerca de cinco anos, não demorou uma tarde até que o casal, junto com o filho Elton, fechasse negócio. “A ideia era fazer algo diferente, um bar que não fosse o estilo ‘pegapacapá’, comum por aqui”. O projeto encontrou no “setlist” e na decoração a forma de criar o ambiente, e no nome “Santo” o modo de deixar declarado a que veio. Nasceu o Santo Bar e, a partir dele, projetos como o “Sambinha pro Santo”, organizado por Elton.
 
O cardápio diferenciado, ditado por Val e seguido à risca por duas cozinheiras, acompanha a premissa da casa – na cozinha não se vê fritura. “A gente queria que fosse um bar com algo a mais, com pratos mais substanciosos”, explica Mariano. Com a promessa de “cerveja mais gelada de Maringá”, a posta marinada chega à mesa, decorada e pronta para conquistar júri e clientes como melhor prato de butiquim no festival.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Brevidades II

Angra dos Reis de José Cicero Tupinambá


Fez tanto silêncio quanto o chinelo pôde. Aproximando-se como quem se aproxima de um bicho, a senhorinha de pano na cabeça espreitou o noticioso debruçado na mesa do café. Puxou a cadeira sem arrastar e sentou de canto, olhos apertados na letra. Rastreou com o dedo até encontrar aquela que parecia mais amigável. “Agá – ooo”. Dedando, letra por letra, sussurrava. “H com O dá HO, com M... com M dá HOM”. Sentou por inteiro e buscou ajuda no dedo esquerdo. “C... com I...“ Apertou ainda mais os olhos e a distância para o jornal do patrão. “D com I...” respirou “DI... HO-MI-CI-DI-O... Nossa! Que perigo!”.

--

Falta o fio comprido ao travesseiro. O traço fino no espelho embaçado. Falta o querer quaresma em fevereiro, num sussurro mordido aqui do lado. Dessa falta toda eu já sou parte, do segredo que é, em si, inteiro. E por inteiro, que é, esse segredo, faz da falta toda só metade. Metade, dois terços, corpo inteiro. De uma falta que é, talvez, saudade. De repente sou fio ao travesseiro, a espiar traço fino e embaçado. Sou querer qualquer coisa em fevereiro, desde que seja do seu lado.

--

Carbolitium duas vezes ao dia, mastigo no almoço com papinha. Quando ele chora, às vezes, é Orotato e mamadeira. O primeiro é pra mim, o segundo, às vezes. Isso quando não me tranco no banheiro, uma hora ele para. Ou não, vai chorar para o resto da vida. Dizem que felicidade é a licença, mas maternidade só rima com felicidade na palavra mesmo. E mesmo o pós-parto tem amigos, conheci o Anafranil essa semana. Sou eu que como ele. O Equilid pode provocar aumento de peso. Em mim, não nele, que não para de chorar. Deve ter medo de ficar gordo. Posso afoga-lo na banheira para que não corra esse risco.

--

É claro que te acho linda. Se achar não basta, eu vejo isso. E quando ver se torna pouco, fecho os olhos - o olho engana, não quer dizer o que eu penso. Contrario o que vejo pensando no que acho. E te encontro. Cabelos soltos, meia colorida. E pra ganhar teu riso, me apego ao que tenho: essa bossa que não é tão nova, donde empresto palavras bonitas. Pois é, elas não são minhas. E mesmo que fossem, não diria, guardaria para um sussurro. Quem sabe, num fim de tarde em Itapuã.

--

*Brevidades é uma reunião de microcontos, recortes crônicos de poucas linhas.

**José Cicero Tupinambá é estudante de Belas Artes na Universidade Federal do Rio de Janeiro e desenha à mão livre desde criança.  Faz pinturas e desenhos de paisagens, retratos, modelo vivo e natureza morta, utilizando várias técnicas.Mais sobre o belo trabalho dele em seu blog.

sábado, 24 de setembro de 2011

Picanha com coração brasileiro*

Foto: Doulgas Marçal
Da série de matérias sobre o "Festival Prato de Butiquim", publicada no jornal O Diário e no portal odiario.com no dia 18 de setembro. 

O que esperar de um coração brasileiro? Se a resposta for cerveja gelada, música descontraída e comida à vontade, o restaurante e petiscaria Coração Brasileiro faz jus ao nome. Quem visitá-lo, ainda pode provar a Picanha ao Alho Shoyu, especialidade que vai representar a casa no Festival Prato de Butiquim, realizado de 1 a 20 de novembro em Maringá.


Maria Heloisa Caramaschi, gerente do Coração Brasileiro, acredita que a diferença que vai conquistar o júri técnico está no preparo da carne. "A picanha descansa em alho e vinho branco para realçar o sabor". A peça, já marinada, é selada ao fogo "por pouco tempo, o suficiente para fechar as fibras da carne, mantê-la macia no corte e suculenta na boca", completa. Antes de ir à mesa, o prato é regado a shoyu e ganha a companhia de farofa, vinagrete e pão. Serve até duas pessoas.


Dona Helô, como é chamada, está se formando em gastronomia, mas quem toma conta da cozinha é a Dona Jô, Josefina Silveira, no batismo. Cozinheira nata de sorriso pronto, a senhorinha trabalha no restaurante desde a inauguração, em 2007. "Coloquei uma placa e esperei as candidatas. Quando conversei com ela a primeira vez, vi que era a pessoa certa", lembra Helô.

A dupla mistura talento e inovação para servir cerca de 150 almoços por dia. Para o gastrólogo e chef internacional Isaac de Oliveira, a química entre Dona Jô e Dona Helô é o que faz o sucesso de um bom prato. "Na cozinha é 50% de talento e 50% de técnica". Apesar de a mistura entre alta e baixa gastronomia ser delicada, o gastrólogo diz acreditar numa receita básica, "A gente come em três etapas: primeiro com os olhos, depois com o nariz e por último com o paladar. Essa mistura entre experiência e conhecimento só tem a somar".


Além de boa comida, o que faz pulsar o Coração Brasileiro é a música. Reduto do "melhor pagode de Maringá", como faz questão de destacar dona Helô, a casa já teve rock e sertanejo. "No início, a ideia era ter um ritmo por dia, mas o pagode foi ficando famoso e agora todas as noites tem que ter". A noite do Coração é comandada por Breno Caramaschi, dono do estabelecimento e filho de dona Helô. Para os mais tímidos, e, principalmente, as mais tímidas, a casa tem um professor de dança que garante a diversão.


"Já chegamos a ter fila de quase 100 pessoas esperando para entrar", lembra Dona Helô. Para não correr mais esse risco, a casa está ampliando a estrutura. Com a reforma, o restaurante deve contar com mezanino e espaço para mais 200 pessoas, "sem deixar de atender nem um dia", reforça a proprietária, afinal, o Coração não pode parar.



Em novembro
A Picanha ao Alho Shoyu do Coração Brasileiro concorre na categoria Melhor Prato no Festival Prato de Butiquim, que acontece de 1 a 20 de
novembro em Maringá

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Brevidades*



Pra começar, a tela branca te encara questionando sua habilidade. O cursor pisca gritando que não saiu do lugar. Formata para a letra que mais te agrada. Respira. A cadeira não está confortável e nesse momento: nada, pode, te atrapalhar.  Acomoda-se e respira de novo, tirando as mãos do teclado. Precisa de uma poltrona. As Casas Bahia estão com uma promoção... Concentra! Olha, o quadro está torto. Volta para a tela. Precisa de um café. Estica as pernas até a cozinha. Volta com a caneca manchada, o vapor cheiroso e a espuminha dourada. Arruma o quadro, senta na cadeira que não é poltrona, olha para os gritos do cursor na tela branca e respira no vapor do café. Pra começar...

--

Ela não sorri mais. Só olha pra baixo e parece com medo. “Infarto é muito comum, acontece com todo mundo”, foi o que eu disse, não sei se ajudou muito. Acho que faltou um abraço, mas não dá pra fazer isso aqui na empresa. Ela nem riu da piada do computador. Ajudou na vaquinha, mas não tomou coca-cola. Beliscou um pouco do salgadinho. Às vezes ela fica mais de quinze minutos no banheiro, deve estar chorando. Perder o pai assim também, né? É tenso. Nem sei o que eu faria se perdesse o meu. Ela tá bem pra baixo, eles deveriam ver isso, dar uma folga, sei lá. Não que ela fosse animada, mas ria de algumas piadas. Não gostava dela, mas agora to sentindo uma pena. Vou ligar para o meu pai hoje à noite.

--

E disse a empregada à patroa enquanto casavam as apostas:
- Ai mais se nóis ganha eu vo dá um churrascão, e vo compra uninho vermelho pra minha menina
- O que você vai querer com um uno vermelho, Val? Nós vamos ser milionárias!
- É verdade! Vo compra um amarelo tamém.

--

Foi sem querer, mas eu percebi quando ela olhou. Porque eu fui tropeçar no corredor? O pior foi o cara de bobo. Deixa pra lá, fiquei sabendo que ela curte Bob Dylan e toca violão. Não é muito comum achar alguém assim hoje em dia. Ontem ouvi ela cantarolando um pedaço de Blowing in the Wind. É meio melosa, mas eu gosto. E ela falou da lua quando eu tava olhando. Também gosto de admirar a lua. Daqui dá pra ver como ela fica linda quando escurece. O laranja perto dos prédios e o anil tingindo aos poucos o que era dia. Interessante como de um tempo pra cá vem ficando mais bonito. Porque eu to tremendo?  


--

*Brevidades é uma reunião de microcontos, recortes crônicos de poucas linhas.

**Adams Carvalho trabalha com ilustrações, animações e pinturas. Conheça mais do brilhante trabalho desse artista plástico no seu blog. Clique aqui.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Bolinhos que arrebatam*

Foto: Douglas Marçal
Da série de matérias sobre o "Festival Prato de Butiquim", publicada no jornal O Diário e no portal odiario.com no dia 15 de setembro.

Na cozinha da Taberna Portuguesa se misturam uns punhados de tradição, muitos anos de experiência, doses caprichadas de respeito às origens e uma pitada de inovação. A receita para o restaurante atravessar gerações é simples, e o concorrente a melhor petisco no Festival Prato de Butiquim não poderia ser outro senão o já tradicional, bolinho de bacalhau.

O petisco, que carrega o sabor mais característico da cultura lusitana, é preparado pelas mãos de dona Neuza Câmara há quase trinta anos. Rodrigo Câmara de Souza, neto de dona Neuza, diz que a receita segue o modelo tradicional, com uma diferença. 

“A massa leva azeite, bacalhau e batata, mas não colocamos farinha, como as outras. Quando o alimento é empanado a farinha acaba mascarando o sabor do bacalhau”. Souza, que aprendeu a cozinhar com a avó, diz que o ponto da massa é o “grande segredo da casa”.

Formado em gastronomia há dois anos, o neto da família está cursando pós-graduação em administração para continuar tocando o negócio. E se em muitas famílias a tradição é pouco levada a sério, na Taberna Portuguesa isso já está bem resolvido.

“Eu praticamente nasci nessa cozinha, dormia em baixo da mesa e ajudava a lavar copos quando precisava”, lembra Souza. Com o neto, o restaurante chega à sua terceira geração para orgulho do patriarca da família, o seo Manuel Câmara.

Quando veio para o Brasil, em meados do século passado, o português, então com 18 anos, trazia muito mais que um sotaque inconfundível. O apego de seo Manuel às origens sempre o manteve próximo das comunidades lusitanas, primeiro no interior de São Paulo, depois em Maringá, quando veio e participou da fundação do Centro Português, há quase 50 anos.

Filha do seo Manuel e mãe de Rodrigo, Solange Câmara de Souza lembra que foi nessa época que dona Neuza aprendeu os detalhes da culinária lusitana e passou a cozinhar para o centro. “Toda sexta-feira tinha bolinho de bacalhau em casa. Em pouco tempo tivemos que organizar quem ia comer em casa e em qual dia”.
 
Da cozinha caseira para um restaurante próprio foi rápido, e agora dona Neuza e suas “meninas” – como chama as funcionárias – cuidam do almoço e jantar dos clientes da Taberna, “além das vezes que trabalham como voluntárias na Festa das Nações, servindo bacalhau a preço de custo”, completa Solange.

Quem visitar a Taberna Portuguesa para provar dos tradicionais bolinhos de bacalhau que concorrem no festival, ainda terá uma carta de vinhos do porto à disposição, escolhidos a dedo pelo seo Manuel.

Box:
O bolinho de bacalhau da Taberna Portuguesa concorre ao prêmio de “Melhor Petisco”. O “Festival Prato de Butiquim” será realizado de 01 a 20 de novembro e teve 41 estabelecimentos inscritos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Alcatrão do Pedrinho*


Imagine um corte de quase um quilo de alcatra, picanha, maminha e filé mignon, grelhado no ponto em que você pedir e acompanhado de fritas, maionese, mandioca cozida, farofa, vinagrete, pão, pasta de alho e salada de tomate com cebolas. Perdeu o fôlego? O alcatrão, além de prato principal que dá nome ao restaurante, é também o concorrente da casa no Festival Prato de Butiquim, que será realizado de 1 a 20 de novembro em Maringá.


Segundo Pedro Barberi Jankowski, dono do restaurante, o combinado serve em média três pessoas. "Mas três pessoas normais. Se for alguém que come bem, como eu, o prato serve dois", avisa Pedrinho, como é chamado pelos clientes da casa.
Grupos de mulheres que frequentam o restaurante chegam a dividir o alcatrão em quatro ou até cinco pessoas. "Essa opção, que acompanha fritas, é ideal para uma família", diz o proprietário.


O corte, apontado por Pedrinho como grande diferencial do prato, é uma exclusividade do Alcatrão. "Foram mais ou menos seis meses trabalhando com um açougue especial até acertarmos o ponto", conta. Segundo ele, houve todo um cuidado para que as peças mantivessem o sabor nos quatro tipos de carne. Comum na região de Ponta Grossa e em cidades de Santa Catarina, o alcatrão veio para Maringá como novidade, junto com a casa homônima, em outubro do ano passado.


Quem for ao Alcatrão será recepcionado por Pedrinho ou por sua esposa Ana Carolina Costa Musse, que diz fazer questão desse atendimento. "Essa proximidade valoriza mais o prato. Com o tempo, dá pra saber o que cada um gosta e como prefere a carne". O clima caseiro também está no preparo dos pratos, que são feitos um a um, assim que o cliente faz o pedido. "É simples, mas é saboroso. A gente faz como se estivesse fazendo em casa mesmo". Em dias de grande movimento, os dois já chegaram a servir 30 combinados de alcatrão com acompanhamentos.


Para ajudar a abrir o apetite, Pedrinho diz, sorrindo, que garante a cerveja "trincando" a qualquer hora do almoço. E se o cliente procurar, ainda tem à disposição quatro rótulos importados, como a cerveja Patrícia - uma lager comercial seca que harmoniza bem com carnes, como o alcatrão - além das marcas premium e os rótulos tradicionais.



Molhe o verbo
Av. Juscelino Kubitschek, 580. Terça a sexta, das 17h30 às 23h; sábado, das 11h às 23h; domingo, das 11h às 14h30

*Da série de matérias sobre o Festival Prato de Butiquim. Publicada no jornal O Diário no dia 01 de setembro 

sábado, 27 de agosto de 2011

Escondidinho de frigideira com sotaque europeu*

Foto: Ricardo LopesChopperia Pimenta Doce é mais um concorrente no “Festival Prato de Butiquim”, que extendeu as inscrições até o dia 31 de agosto

O chef de cozinha Julio César Oliveira conheceu os sabores da Europa, mas aposta na tradição do escondidinho de carne seca para levar o prêmio de melhor “Prato de Butiquim”. A receita, que vai representar a Chopperia Pimenta Doce, é levada à frigideira ao invés do forno e foi criada especialmente para o festival, que vai acontecer do dia 1 a 20 de novembro em Maringá.

Segundo Oliveira, também proprietário da chopperia, o aspecto de escondidinho é o mesmo - com a massa encobrindo o recheio – mas as semelhanças acabam por ai. O tempero de ervas aromatizadas acentua o sabor da massa, que ganha crocância do queijo Grana Padano – uma espécie de parmesão europeu. Depois de montado, o prato é fechado nas bordas e vai a frigideira dourar em óleo quente. “Como se fosse uma panqueca”, completa.

“Não queríamos fazer o trivial, mas também não dava para fugir da linha de prato de butiquim”, explica o chef. No cardápio da Chopperia essa variação fica declarada ao vermos Costelinhas com Mandioca contracenando com Salmão ao Molho de Alcaparras. Quem provar, ainda pode escolher entre o Chopp pilsen tradicional ou um whisky 18 anos como acompanhante.

Quando esteve no velho continente, Oliveira tinha uma graduação em turismo e hotelaria e paixão pela culinária. A bordo do avental percorreu por um ano restaurantes da Espanha, Itália, Inglaterra e Portugal oferecendo trabalho em troca de experiência. Autodidata, não demorou a voltar para Maringá com portfólio que garantiu espaço num dos maiores restaurantes da região.

Para a nutricionista e instrutora do Senac, Angélica Rodrigues, a releitura de pratos tradicionais, como o escondidinho, é sempre bem vinda. “O Grana Padano é um queijo muito saboroso que combina com o carboidrato do prato. A harmonia não fica comprometida”. Angélica, que foi escalada para treinar o júri técnico do “Festival Prato de Butiquim”, também valoriza a diversidade dos pratos, porções e petiscos inscritos para o prêmio. “Isso só comprova a qualidade e profissionalização da culinária regional. Só propõe esse tipo de prato quem realmente conhece do assunto”.

Favorito ou não, Oliveira destaca a oportunidade de participar do Festival Prato de Butiquim. “Ganhar é efêmero. Interessante é essa troca, concorrer e conhecer os outros pratos e principalmente o que os clientes tem a nos dizer”, completa.

*Matéria publicada no jornal O Diário no dia 25 de agosto

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Primeira vez com gosto de berinjela


Domingo, 14/08, saiu um texto no alto da última página do D+ falando sobre um alfajor de berinjela. Poderia ser só mais um texto do guia gastronômico do jornal O Diário, o Viva Maringá; Poderia ser um dos textos apresentando os participantes do 1º Festival Comida de Butiquim de Maringá; Mas para mim era o primeiro texto que publico num jornal. Valeu Wilson Teixeira pela oportunidade! E viva as berinjelas!

Alfajor de berinjela vem para ganhar

Alfajor de Beringela é a aposta do Confraria 1516 para o prêmio de melhor porção do Festival “Comida de Butiquim”

“Vim experimentar o alfajor.” Essa é uma das frases que Ricardo Takiguthi mais ouve dos frequentadores do Confraria 1516. O Alfajor de Beringela, especialidade da casa, promete conquistar o júri do “Festival Comida di Butiquim” pela combinação exclusiva de duas fatias de beringela e a densidade da carne e do queijo cremoso temperados.

Para quem perguntar se alfajor não é um doce, o sócio da Confraria explica. “Nós conseguimos a mesma relação da massa crocante e recheio cremoso, só que salgado.” Segundo ele, a beringela dá o sabor exótico e exclusivo que faz da porção carro chefe do cardápio. Quem a pede, tem logo à mesa 15 unidades fartas, que servem duas pessoas.

A assinatura da receita Takiguthi divide com a sócia Deisi Yokikaetsu, com quem compartilha também o hobby pela gastronomia. Da primeira tentativa, ainda preparada com beringelas grandes em reuniões entre amigos, até a porção que é servida hoje na Confraria 1516, já se foram pelo menos dois anos de aprimoramento.

Dividindo atenções com o alfajor, os mais de 60 rótulos de cervejas guardam sabores de diferentes lugares no mundo. Especialista em cerveja – por experiência – Deise conta que tudo começou como um hobby. “Depois percebemos que aqui Maringá não tinha um espaço que oferecesse marcas importadas”. À mostra em geladeiras dispostas por todo o ambiente, os clientes podem busca-las como se estivessem em casa. Quando os convidados do júri técnico visitarem o Confraria 1516 vão provar uma indicação da casa, Weihenstephaner Hefe, uma long neck alemã turva e natural feita de trigo com fragrância e paladar de leveduras especiais, ideal para acompanhar pratos leves.

Quando vieram de São Paulo, ele engenheiro e ela graduada em ciência da computação, Guilherme Takiguthi e Deisi Yokikaetsu pensavam em montar um negócio próprio nos moldes do que viam na capital paulista - na mala a carta de cervejas e uma nova proposta gastronômica comum por lá. Com mais de dois anos de trabalho, além do Alfajor de Beringela, que concorre no Festival “Comida di Butiquim”, os clientes do Confraria 1516 têm à disposição um cardápio exclusivo num ambiente intimista e elegante, cuidadosamente projetado para que sintam-se à vontade.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Revista Eu Tenho Profissão

Um parto. Normal. Sem anestesia ou dilatação.

A capa da nossa revista nasceu depois de quase três meses de trabalho e muito, mas muito cuidado, afinal, é pela capa que a maioria das publicações são (re)conhecidas. Para acompanhar um trabalho em que texto, fotografia e diagramação se combinam para apresentar profissões comuns do cotidiano, precisávamos de algo sugestivo e que explicasse de maneira rápida tudo o que pretendíamos.

Entre vários emails e mensagens trocadas por diferentes redes com a turma e principalmente a editora de fotografia Ana Luiza Verzola e a professora responsável Rosane Barros, veio a ideia de usar a carteira de trabalho como símbolo (primeiro uma imagem dela sobre uma mesa, depois fazendo da revista uma carteira de trabalho em tamanho maior). Decidido, faltava colocar no papel.

1 – Tem alguns tipos de carteira de trabalho que são num sintético texturizado que lembra bem um couro em azul escuro. Busquei uma textura de couro no Google e apliquei o tom que mais parecia.

2 – Depois, com um modelo de carteira de trabalho, precisávamos replicar a fonte e texto que caracterizam o documento. Letras serifadas em douradas e o símbolo da República Federativa do Brasil ao centro. Como eu já tinha o símbolo em vetor, o trabalho mesmo foi transforma-lo em um objeto vazado, de uma cor só.

3 – Feito isso, aplicamos a logo da revista “Eu Tenho” no mesmo degradê dourado que as outras letras e adicionamos outros detalhes que padronizam a publicação do 3º ano de jornalismo do Cesumar. Um ponto importante que vai fechar a ideia é que a contracapa também mantém a ideia de montar uma “carteira de trabalho gigante”.

Primeiro de tudo: é uma publicação laboratório. Na faculdade temos o direito (dever) de testar, tentar, provar, quebrar a cara e tentar de novo. A começar pela proposta: viver por dias uma profissão difícil e reporta-la de forma leve e solta, aproximando-se de um jornalismo literário. A poesia do dia a dia de diferentes trabalhadores de Maringá e região.

A revista deve estar pronta (impressa) dentro de um mês, espero que gostem.

terça-feira, 26 de julho de 2011

“É a sociedade organizada que se faz presente”

Depois de comentar meu corte de cabelo, Carlos Anselmo Corrêa, falou sobre o trabalho do Observatório Social de Maringá e o período de eleições

Na filosofia aristotélica, política é “a ciência que tem por objetivo a felicidade humana” e divide-se em: ética – que se preocupa com a felicidade individual do homem – e a política propriamente dita – que está ligada à felicidade da pólis (cidade, em grego). O objetivo principal dos estudos políticos de Aristóteles era investigar as formas de governo e as instituições capazes de garantir a qualidade de vida do cidadão.

Se aplicássemos o conceito de política do filósofo grego aos dias de hoje – levando em consideração a teia burocrática criada para sustentar o sistema de governo vigente – o resultado seria algo parecido com o Ser (Sociedade Eticamente Responsável) e o Observatório Social de Maringá, entidades movidas pelo apoio voluntário e sem qualquer posicionamento ou vinculo político.

Bem humorado e disposto ás oito horas da manhã de uma quarta-feira, o presidente do Observatório Social de Maringá, Carlos Anselmo Corrêa, recebeu a equipe do jornal Matéria Prima para comentar sobre o trabalho realizado na cidade, a ligação com a imprensa e o período de eleições.

Para contextualizar, como funciona o Observatório Social de Maringá?

O Observatório é uma das vice-presidências de uma entidade maior chamada Sociedade Eticamente Responsável [Ser] de Maringá. A Ser tem dois campos de atuação bem claros. O primeiro é a educação para demonstrar a importância social do tributo, ou seja, tributos existem em todas as sociedades organizadas e são necessários. E o segundo é a vice-presidência do Observatório Social, que trata do acompanhamento da correta execução do orçamento gerado por esses tributos.

Quem faz parte do Observatório hoje?

Nós temos, dentro da Ser, uma série de entidades. É a sociedade organizada que se faz presente. Nós temos o Rotary, o Lions [Club], a maçonaria, instituições de ensino como a Uem [Universidade Estadual de Maringá], o Cesumar [Centro Universitário de Maringá], temos também empresas como a Cocamar e o Sicoob. São, então, diversos segmentos da sociedade civil organizada com uma característica singular e única: ninguém, absolutamente, nenhuma entidade e nenhuma pessoa representando uma entidade podem fazer parte se tiver qualquer vinculo político-partidário. Se a pessoa tiver qualquer demonstração clara e inequívoca de um compromisso com uma bandeira política ou um partido político, ela não poderá fazer parte da Ser.

Mesmo não havendo esse vínculo político-partidário essas entidades representam algum tipo de grupo com interesses próprios. Como vocês estão blindados para que nenhum tipo de politicagem contamine esse trabalho?

Eu discordo de você que ela [pessoa ou entidade] represente um grupo, a menos que nós chamemos a maioria e o consenso social de grupo. Ela procura representar o interesse comum da sociedade, aquilo que são anseios de uma sociedade democrática, de uma sociedade libertária, justa e desenvolvimentista. Os primeiros fiscais do ingresso que qualquer vinculo político-partidário são exatamente os seus membros. A filiação [ao observatório] se dá a partir da comprovação de alguns documentos e um deles é um atestado da Justiça Eleitoral de desimcompatibilidade política. Além disso, existe esse acompanhamento do grupo sobre qualquer manifestação pública de um membro que demonstre comprometimento político, o que até hoje não existiu, mas se existir, será caso de discussão sobre desligamento.

Nós estamos saindo agora da temporada de eleições. Como foi a postura adotada pelo Observatório?

Nós tínhamos um relatório de avaliação da Câmara de Maringá, do primeiro semestre, que seria divulgado em setembro, mas nós não divulgamos porque existiam alguns vereadores que eram candidatos neste período. Exatamente para que não houvesse qualquer ligação prejudicial ou benéfica para esse ou aquele candidato, o Observatório se absteve de divulgar o relatório nesse momento. A SER, não o Observatório, repito, a instituição maior do qual o Observatório faz parte, tem um trabalho muito importante com campanhas de conscientização para o voto, sobre a importância do voto consciente e do voto responsável.

O senhor não acha que seria esse o momento ideal para divulgar o relatório e a avaliação do trabalho do vereador, enquanto ocupa cargo no município, para que o eleitor soubesse se ele é digno de um cargo na assembleia?

Nós acreditamos que não por duas razões: a primeira é porque nós cremos claramente que a informação deve ser transformada em conhecimento e o que nós apresentaríamos seria apenas um relatório. Até que ele fosse transformado em conhecimento, seria necessário tempo. A segunda e mais importante razão é que esse dado poderia ser trabalhado de maneira não adequada, como benefício ou prejuízo para esse ou aquele candidato. Um fato isolado pode ser interpretado como bom ou ruim, de acordo com o momento, mas não pode significar todo o conjunto do trabalho. Então para não causar nenhum impacto o Observatório preferiu aguardar, porque o nosso objetivo era criar cultura de capacitação, a educação da consciência.

Para que esse conteúdo se torne conhecimento, vocês precisam da divulgação feita pela imprensa local. Como é essa ligação de vocês com a imprensa da região?

Nós defendemos que a imprensa tenha amplo acesso a todo tipo de informação porque ela é o canal principal de ligação entre os dados que são públicos e a comunidade. O Observatório produz os relatórios e deixa disponível, o interesse maior se dá por parte da imprensa mesmo que nos procura. Periodicamente, em trabalhos que o Observatório vem acompanhando, a imprensa nos questiona e nós passamos informações que temos. Em determinados momentos em que algum fato se torna público e o Observatório é questionado, nós também manifestamos a nossa posição. Mas vamos deixar bem claro que enquanto o Observatório está produzindo seu relatório, não é divulgado nenhum dado. O Observatório só divulga os dados depois de construído seu relatório.

Quando o relatório é passado para uma redação, os jornalistas não necessariamente são isentos. As empresas e grupos de comunicação têm posicionamentos políticos para defender. Já houve algum tipo de problema, no sentido da abordagem dada pela imprensa não seguir o viés que fosse o ideal?

Eu não diria que houve problema. Eu acho que isso é próprio de uma sociedade democrática e ampla. Ai é que está a formação de uma consciência cívica, de uma educação para cidadania por parte da população. Sempre haverá essa divergência. É comum que a gente veja o mesmo dado sendo apresentado de duas formas diferentes. Isso vai do jornalista, do editor, da mídia que está em questão no momento e como ela prefere divulgar aqueles dados. O importante é que a população saiba comparar, por isso, inclusive, a pluralidade da imprensa. É preciso que o cidadão, quando tem uma informação, tenha o principio salutar de ver como outro órgão de imprensa está divulgando a mesma informação. Existiram divulgações diferentes sobre o mesmo fato? Isso existiu e a cada relatório que a gente divulgar continuará existindo.

O trabalho do Observatório tem caráter preventivo e fiscalizatório. Há algum planejamento de assumir uma postura pró-ativa, no sentido de captar a necessidade da população e propor projetos, ou são coisas distintas?

Eu acredito que são coisas absolutamente diferentes. Veja que se essa instituição começar a direcionar o que deve ser feito por parte do poder público, estará assumindo o papel ou de gestor ou então de representante único da sociedade e isso não é o correto. Quem deve definir o que o gestor deve fazer é o cidadão num momento como esse de eleições. O ideal é que numa eleição a escolha se faça por meio de propostas e essas propostas nada mais são que metodologias de gestão e focos de atuação. Então não cabe ao Observatório, e eu acredito que também não caiba a nenhuma instituição a não ser para o próprio delegado do poder público, a execução da vontade pública manifesta nas eleições. O Observatório jamais dirá à prefeitura o que fazer.

Paraíso é calma e beleza para poucos



Rua do parque residencial Rio Branco tem apenas seis casas e, segundo os moradores, uma tranquilidade que faz jus ao nome

Imagine uma rua em que as casas não têm portões, há bancos nas calçadas e os vizinhos se conhecem. Longe da agitação urbana, o único movimento é o dos próprios moradores e, por não ter saída, acaba numa pequena praça, com um balanço infantil e uma grandiosa árvore. Essa rua existe, fica no parque residencial Rio Branco, zona sul de Maringá, e, por coincidência, leva o nome de Paraíso.

A tranquilidade transmitida aos visitantes é confirmada por moradores, como Eduardo Sampaio, 26, estudante. “Ela [a rua] sempre foi tranquila desse jeito. Aqui a gente conhece praticamente todo mundo.” Sampaio, que mora na Paraíso desde que nasceu, diz que, pelas qualidades da rua e do bairro, é difícil ver mudanças. “A maioria mora aqui há mais de 20 anos. Quem vem para cá, dificilmente sai”, completa o estudante.

Por ficar num bairro de classe alta e cercado de condomínios horizontais, a rua Paraíso se tornou um refúgio para profissionais com alto poder aquisitivo, que têm rotinas desgastantes. Entre os moradores há empresários, engenheiros e uma professora, Walderez Franco, 50, que aproveita as tardes de folga para estudar em casa. “Eu tenho que entender sobre estatística. Imagina se não fosse calmo?”, completa a professora de farmacologia, que está preparando a tese de doutorado.

Para a psicóloga organizacional Carmem Lúcia Cuenca Moraes, a qualidade de moradia influencia diretamente na produtividade. “O funcionário, primeiro, tem que satisfazer suas necessidades básicas que são sobrevivência e segurança”. Segundo Carmem, quando o funcionário vai para casa e consegue abstrair a pressão do dia-a-dia, volta para o trabalho bem disposto e com maior capacidade de produção. “É bom também saber que a casa e seus filhos estão seguros, e que você pode trabalhar tranquilo”, completa a psicóloga.

Além dos aspectos psicológicos, as qualidades que ruas como a Paraíso apresentam, colaboram para aumentar o valor dos imóveis. O empresário do ramo Milton de Oliveira, conta que quando é feita a vistoria para avaliação da residência, a empresa procura levantar pontos como “vizinhança, histórico, segurança, fluxo de veículos”, explica o corretor.

Oliveira, que trabalha há 21 anos com imóveis de alto padrão, diz que são muitos os pontos que podem favorecer ou desfavorecer um imóvel e a avaliação varia de acordo com o perfil do comprador. “Costumamos dizer que tem um imóvel certo para cada pessoa”, completa o empresário.

Confira aqui mais reportagens.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O coração de um hospital - Parte III de IV

Foto: Ana Luiza Verzola

O coração do hospital


A lavanderia de poucos metros quadrados funciona num puxadinho improvisado com cerca de dez funcionários por turno. Lá, dividem espaço três centrífugas industriais, vários cestos metálicos e uma calandra de 2,5 metros, onde os lençóis são passados para que fiquem retos. Entre as responsáveis por deixá-los impecáveis e prontos para uso, Maria Aparecida Seule, explica detalhadamente o ritual de dobra de uma roupa de cama do centro cirúrgico. "Tem que ficar fácil, para aquele que for estender não precisar tocar na maca operatória", e, com destreza, puxa as duas pontas em direções contrárias. "Não dá pra ficar esticando e abanando dentro de uma sala de cirurgia, não é?"


Com voz, jeito de falar, cabelo e óculos dignos da mais caricata avó, Maria Aparecida não se incomoda em trabalhar num hospital, muito pelo contrário. "A gente fica longe do Vietnã [apelido do Pronto Atendimento], no máximo fica sabendo de uma ou outra história que contam. Aqui é o lugar mais limpo do hospital." Cuidadosa, tanto nos grampos que prende no cabelo todas as manhãs, quanto nas dobras que faz a ritmo ininterrupto durante o dia, Maria Aparecida diz que, quem reclama do salário é porque não conhece a situação do mercado "lá fora".


Pertencente à equipe que entrou no início do Hospital Universitário, Maria só tem uma queixa: "Eu só acho que nós deveríamos ser mais valorizados. Quando falam em hospital, só lembram dos médicos e enfermeiros. Mas se a gente daqui da lavanderia e limpeza parar, tudo para. Eu lembro de quando entrei e a diretora nos falou: 'Olha, vocês são de extrema importância para o funcionamento disso tudo. Vocês são o coração do hospital'".

Parte I
Parte II

terça-feira, 28 de junho de 2011

O coração de um hospital - Parte II de IV

Foto: Ana Luiza Verzola


Uma equipe de formiguinhas


Jaqueline, como gosta de ser chamada, trabalha no hospital desde que começaram as atividades, em 1989. "Até agora, 12 anos como encarregada", faz questão de frisar. São três mandatos de quatro anos, eleita pelos próprios funcionários, um sistema democrático que quase colocou em risco sua hegemonia no cargo. "Da última vez eu concorri com um advogado, acredita? Nós empatamos", mas ela continuou no cargo.

De cabelos curtos, crespos, oscilando entre o louro-avelã e o acaju-acobreado, Jaqueline é capaz de cumprimentar pelo nome um por um dos funcionários. A bordo do seu jaleco branco, divide a rotina entre circular pelas alas, atendendo a emergências da zeladoria e os afazeres administrativos à frente do computador, serviço esse que ainda carece de prática. Na sala da Divisão de Apoio, onde ficam os encarregados de alguns dos setores administrativos (limpeza, lavanderia e coleta de resíduos), a voz dela é a que mais se destaca, seja ao telefone, seja em uma conversa com a pessoa da mesa ao lado.

"Mas eu gosto de dizer que essa equipe, mesmo enxuta, trabalha como formiguinha, entende?". Com o discurso pouco austero e digno de uma palestra motivacional, Jaqueline faz parecer simples a tarefa de garantir a limpeza de instalações e rouparia de um hospital de quase 15 mil metros quadrados, com cerca de cem funcionários divididos em dois turnos.

No lugar da Jaqueline, quem fica à frente da lavanderia é Valdecir Leonardi, 42, um técnico ambiental que mora em Mandaguaçu e trabalha no hospital há cerca de dez anos. Apesar do cargo provisório de chefia, Leonardi passa quase todo o tempo na lavanderia, dobrando, batendo, carregando, arrastando. "Com o quadro de funcionários que nós temos, não dá pra ficar longe, nem parar o serviço."

O motivo da preocupação de Leonardi fica evidente para qualquer um que, ao entrar na lavanderia, se atente ao mural de recados pregado um pouco antes da mesa do cafézinho. Sob um quadro de feltro verde fica pendurada a relação de horas extras de cada funcionário. Alguns com 40, outros com 60. "O que passar disso vai para o banco de horas", explica Leonardi. Uma sacanagem para consenso geral.

Parte I