quarta-feira, 6 de julho de 2011

O coração de um hospital - Parte III de IV

Foto: Ana Luiza Verzola

O coração do hospital


A lavanderia de poucos metros quadrados funciona num puxadinho improvisado com cerca de dez funcionários por turno. Lá, dividem espaço três centrífugas industriais, vários cestos metálicos e uma calandra de 2,5 metros, onde os lençóis são passados para que fiquem retos. Entre as responsáveis por deixá-los impecáveis e prontos para uso, Maria Aparecida Seule, explica detalhadamente o ritual de dobra de uma roupa de cama do centro cirúrgico. "Tem que ficar fácil, para aquele que for estender não precisar tocar na maca operatória", e, com destreza, puxa as duas pontas em direções contrárias. "Não dá pra ficar esticando e abanando dentro de uma sala de cirurgia, não é?"


Com voz, jeito de falar, cabelo e óculos dignos da mais caricata avó, Maria Aparecida não se incomoda em trabalhar num hospital, muito pelo contrário. "A gente fica longe do Vietnã [apelido do Pronto Atendimento], no máximo fica sabendo de uma ou outra história que contam. Aqui é o lugar mais limpo do hospital." Cuidadosa, tanto nos grampos que prende no cabelo todas as manhãs, quanto nas dobras que faz a ritmo ininterrupto durante o dia, Maria Aparecida diz que, quem reclama do salário é porque não conhece a situação do mercado "lá fora".


Pertencente à equipe que entrou no início do Hospital Universitário, Maria só tem uma queixa: "Eu só acho que nós deveríamos ser mais valorizados. Quando falam em hospital, só lembram dos médicos e enfermeiros. Mas se a gente daqui da lavanderia e limpeza parar, tudo para. Eu lembro de quando entrei e a diretora nos falou: 'Olha, vocês são de extrema importância para o funcionamento disso tudo. Vocês são o coração do hospital'".

Parte I
Parte II

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