quinta-feira, 28 de julho de 2011

Revista Eu Tenho Profissão

Um parto. Normal. Sem anestesia ou dilatação.

A capa da nossa revista nasceu depois de quase três meses de trabalho e muito, mas muito cuidado, afinal, é pela capa que a maioria das publicações são (re)conhecidas. Para acompanhar um trabalho em que texto, fotografia e diagramação se combinam para apresentar profissões comuns do cotidiano, precisávamos de algo sugestivo e que explicasse de maneira rápida tudo o que pretendíamos.

Entre vários emails e mensagens trocadas por diferentes redes com a turma e principalmente a editora de fotografia Ana Luiza Verzola e a professora responsável Rosane Barros, veio a ideia de usar a carteira de trabalho como símbolo (primeiro uma imagem dela sobre uma mesa, depois fazendo da revista uma carteira de trabalho em tamanho maior). Decidido, faltava colocar no papel.

1 – Tem alguns tipos de carteira de trabalho que são num sintético texturizado que lembra bem um couro em azul escuro. Busquei uma textura de couro no Google e apliquei o tom que mais parecia.

2 – Depois, com um modelo de carteira de trabalho, precisávamos replicar a fonte e texto que caracterizam o documento. Letras serifadas em douradas e o símbolo da República Federativa do Brasil ao centro. Como eu já tinha o símbolo em vetor, o trabalho mesmo foi transforma-lo em um objeto vazado, de uma cor só.

3 – Feito isso, aplicamos a logo da revista “Eu Tenho” no mesmo degradê dourado que as outras letras e adicionamos outros detalhes que padronizam a publicação do 3º ano de jornalismo do Cesumar. Um ponto importante que vai fechar a ideia é que a contracapa também mantém a ideia de montar uma “carteira de trabalho gigante”.

Primeiro de tudo: é uma publicação laboratório. Na faculdade temos o direito (dever) de testar, tentar, provar, quebrar a cara e tentar de novo. A começar pela proposta: viver por dias uma profissão difícil e reporta-la de forma leve e solta, aproximando-se de um jornalismo literário. A poesia do dia a dia de diferentes trabalhadores de Maringá e região.

A revista deve estar pronta (impressa) dentro de um mês, espero que gostem.

terça-feira, 26 de julho de 2011

“É a sociedade organizada que se faz presente”

Depois de comentar meu corte de cabelo, Carlos Anselmo Corrêa, falou sobre o trabalho do Observatório Social de Maringá e o período de eleições

Na filosofia aristotélica, política é “a ciência que tem por objetivo a felicidade humana” e divide-se em: ética – que se preocupa com a felicidade individual do homem – e a política propriamente dita – que está ligada à felicidade da pólis (cidade, em grego). O objetivo principal dos estudos políticos de Aristóteles era investigar as formas de governo e as instituições capazes de garantir a qualidade de vida do cidadão.

Se aplicássemos o conceito de política do filósofo grego aos dias de hoje – levando em consideração a teia burocrática criada para sustentar o sistema de governo vigente – o resultado seria algo parecido com o Ser (Sociedade Eticamente Responsável) e o Observatório Social de Maringá, entidades movidas pelo apoio voluntário e sem qualquer posicionamento ou vinculo político.

Bem humorado e disposto ás oito horas da manhã de uma quarta-feira, o presidente do Observatório Social de Maringá, Carlos Anselmo Corrêa, recebeu a equipe do jornal Matéria Prima para comentar sobre o trabalho realizado na cidade, a ligação com a imprensa e o período de eleições.

Para contextualizar, como funciona o Observatório Social de Maringá?

O Observatório é uma das vice-presidências de uma entidade maior chamada Sociedade Eticamente Responsável [Ser] de Maringá. A Ser tem dois campos de atuação bem claros. O primeiro é a educação para demonstrar a importância social do tributo, ou seja, tributos existem em todas as sociedades organizadas e são necessários. E o segundo é a vice-presidência do Observatório Social, que trata do acompanhamento da correta execução do orçamento gerado por esses tributos.

Quem faz parte do Observatório hoje?

Nós temos, dentro da Ser, uma série de entidades. É a sociedade organizada que se faz presente. Nós temos o Rotary, o Lions [Club], a maçonaria, instituições de ensino como a Uem [Universidade Estadual de Maringá], o Cesumar [Centro Universitário de Maringá], temos também empresas como a Cocamar e o Sicoob. São, então, diversos segmentos da sociedade civil organizada com uma característica singular e única: ninguém, absolutamente, nenhuma entidade e nenhuma pessoa representando uma entidade podem fazer parte se tiver qualquer vinculo político-partidário. Se a pessoa tiver qualquer demonstração clara e inequívoca de um compromisso com uma bandeira política ou um partido político, ela não poderá fazer parte da Ser.

Mesmo não havendo esse vínculo político-partidário essas entidades representam algum tipo de grupo com interesses próprios. Como vocês estão blindados para que nenhum tipo de politicagem contamine esse trabalho?

Eu discordo de você que ela [pessoa ou entidade] represente um grupo, a menos que nós chamemos a maioria e o consenso social de grupo. Ela procura representar o interesse comum da sociedade, aquilo que são anseios de uma sociedade democrática, de uma sociedade libertária, justa e desenvolvimentista. Os primeiros fiscais do ingresso que qualquer vinculo político-partidário são exatamente os seus membros. A filiação [ao observatório] se dá a partir da comprovação de alguns documentos e um deles é um atestado da Justiça Eleitoral de desimcompatibilidade política. Além disso, existe esse acompanhamento do grupo sobre qualquer manifestação pública de um membro que demonstre comprometimento político, o que até hoje não existiu, mas se existir, será caso de discussão sobre desligamento.

Nós estamos saindo agora da temporada de eleições. Como foi a postura adotada pelo Observatório?

Nós tínhamos um relatório de avaliação da Câmara de Maringá, do primeiro semestre, que seria divulgado em setembro, mas nós não divulgamos porque existiam alguns vereadores que eram candidatos neste período. Exatamente para que não houvesse qualquer ligação prejudicial ou benéfica para esse ou aquele candidato, o Observatório se absteve de divulgar o relatório nesse momento. A SER, não o Observatório, repito, a instituição maior do qual o Observatório faz parte, tem um trabalho muito importante com campanhas de conscientização para o voto, sobre a importância do voto consciente e do voto responsável.

O senhor não acha que seria esse o momento ideal para divulgar o relatório e a avaliação do trabalho do vereador, enquanto ocupa cargo no município, para que o eleitor soubesse se ele é digno de um cargo na assembleia?

Nós acreditamos que não por duas razões: a primeira é porque nós cremos claramente que a informação deve ser transformada em conhecimento e o que nós apresentaríamos seria apenas um relatório. Até que ele fosse transformado em conhecimento, seria necessário tempo. A segunda e mais importante razão é que esse dado poderia ser trabalhado de maneira não adequada, como benefício ou prejuízo para esse ou aquele candidato. Um fato isolado pode ser interpretado como bom ou ruim, de acordo com o momento, mas não pode significar todo o conjunto do trabalho. Então para não causar nenhum impacto o Observatório preferiu aguardar, porque o nosso objetivo era criar cultura de capacitação, a educação da consciência.

Para que esse conteúdo se torne conhecimento, vocês precisam da divulgação feita pela imprensa local. Como é essa ligação de vocês com a imprensa da região?

Nós defendemos que a imprensa tenha amplo acesso a todo tipo de informação porque ela é o canal principal de ligação entre os dados que são públicos e a comunidade. O Observatório produz os relatórios e deixa disponível, o interesse maior se dá por parte da imprensa mesmo que nos procura. Periodicamente, em trabalhos que o Observatório vem acompanhando, a imprensa nos questiona e nós passamos informações que temos. Em determinados momentos em que algum fato se torna público e o Observatório é questionado, nós também manifestamos a nossa posição. Mas vamos deixar bem claro que enquanto o Observatório está produzindo seu relatório, não é divulgado nenhum dado. O Observatório só divulga os dados depois de construído seu relatório.

Quando o relatório é passado para uma redação, os jornalistas não necessariamente são isentos. As empresas e grupos de comunicação têm posicionamentos políticos para defender. Já houve algum tipo de problema, no sentido da abordagem dada pela imprensa não seguir o viés que fosse o ideal?

Eu não diria que houve problema. Eu acho que isso é próprio de uma sociedade democrática e ampla. Ai é que está a formação de uma consciência cívica, de uma educação para cidadania por parte da população. Sempre haverá essa divergência. É comum que a gente veja o mesmo dado sendo apresentado de duas formas diferentes. Isso vai do jornalista, do editor, da mídia que está em questão no momento e como ela prefere divulgar aqueles dados. O importante é que a população saiba comparar, por isso, inclusive, a pluralidade da imprensa. É preciso que o cidadão, quando tem uma informação, tenha o principio salutar de ver como outro órgão de imprensa está divulgando a mesma informação. Existiram divulgações diferentes sobre o mesmo fato? Isso existiu e a cada relatório que a gente divulgar continuará existindo.

O trabalho do Observatório tem caráter preventivo e fiscalizatório. Há algum planejamento de assumir uma postura pró-ativa, no sentido de captar a necessidade da população e propor projetos, ou são coisas distintas?

Eu acredito que são coisas absolutamente diferentes. Veja que se essa instituição começar a direcionar o que deve ser feito por parte do poder público, estará assumindo o papel ou de gestor ou então de representante único da sociedade e isso não é o correto. Quem deve definir o que o gestor deve fazer é o cidadão num momento como esse de eleições. O ideal é que numa eleição a escolha se faça por meio de propostas e essas propostas nada mais são que metodologias de gestão e focos de atuação. Então não cabe ao Observatório, e eu acredito que também não caiba a nenhuma instituição a não ser para o próprio delegado do poder público, a execução da vontade pública manifesta nas eleições. O Observatório jamais dirá à prefeitura o que fazer.

Paraíso é calma e beleza para poucos



Rua do parque residencial Rio Branco tem apenas seis casas e, segundo os moradores, uma tranquilidade que faz jus ao nome

Imagine uma rua em que as casas não têm portões, há bancos nas calçadas e os vizinhos se conhecem. Longe da agitação urbana, o único movimento é o dos próprios moradores e, por não ter saída, acaba numa pequena praça, com um balanço infantil e uma grandiosa árvore. Essa rua existe, fica no parque residencial Rio Branco, zona sul de Maringá, e, por coincidência, leva o nome de Paraíso.

A tranquilidade transmitida aos visitantes é confirmada por moradores, como Eduardo Sampaio, 26, estudante. “Ela [a rua] sempre foi tranquila desse jeito. Aqui a gente conhece praticamente todo mundo.” Sampaio, que mora na Paraíso desde que nasceu, diz que, pelas qualidades da rua e do bairro, é difícil ver mudanças. “A maioria mora aqui há mais de 20 anos. Quem vem para cá, dificilmente sai”, completa o estudante.

Por ficar num bairro de classe alta e cercado de condomínios horizontais, a rua Paraíso se tornou um refúgio para profissionais com alto poder aquisitivo, que têm rotinas desgastantes. Entre os moradores há empresários, engenheiros e uma professora, Walderez Franco, 50, que aproveita as tardes de folga para estudar em casa. “Eu tenho que entender sobre estatística. Imagina se não fosse calmo?”, completa a professora de farmacologia, que está preparando a tese de doutorado.

Para a psicóloga organizacional Carmem Lúcia Cuenca Moraes, a qualidade de moradia influencia diretamente na produtividade. “O funcionário, primeiro, tem que satisfazer suas necessidades básicas que são sobrevivência e segurança”. Segundo Carmem, quando o funcionário vai para casa e consegue abstrair a pressão do dia-a-dia, volta para o trabalho bem disposto e com maior capacidade de produção. “É bom também saber que a casa e seus filhos estão seguros, e que você pode trabalhar tranquilo”, completa a psicóloga.

Além dos aspectos psicológicos, as qualidades que ruas como a Paraíso apresentam, colaboram para aumentar o valor dos imóveis. O empresário do ramo Milton de Oliveira, conta que quando é feita a vistoria para avaliação da residência, a empresa procura levantar pontos como “vizinhança, histórico, segurança, fluxo de veículos”, explica o corretor.

Oliveira, que trabalha há 21 anos com imóveis de alto padrão, diz que são muitos os pontos que podem favorecer ou desfavorecer um imóvel e a avaliação varia de acordo com o perfil do comprador. “Costumamos dizer que tem um imóvel certo para cada pessoa”, completa o empresário.

Confira aqui mais reportagens.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O coração de um hospital - Parte III de IV

Foto: Ana Luiza Verzola

O coração do hospital


A lavanderia de poucos metros quadrados funciona num puxadinho improvisado com cerca de dez funcionários por turno. Lá, dividem espaço três centrífugas industriais, vários cestos metálicos e uma calandra de 2,5 metros, onde os lençóis são passados para que fiquem retos. Entre as responsáveis por deixá-los impecáveis e prontos para uso, Maria Aparecida Seule, explica detalhadamente o ritual de dobra de uma roupa de cama do centro cirúrgico. "Tem que ficar fácil, para aquele que for estender não precisar tocar na maca operatória", e, com destreza, puxa as duas pontas em direções contrárias. "Não dá pra ficar esticando e abanando dentro de uma sala de cirurgia, não é?"


Com voz, jeito de falar, cabelo e óculos dignos da mais caricata avó, Maria Aparecida não se incomoda em trabalhar num hospital, muito pelo contrário. "A gente fica longe do Vietnã [apelido do Pronto Atendimento], no máximo fica sabendo de uma ou outra história que contam. Aqui é o lugar mais limpo do hospital." Cuidadosa, tanto nos grampos que prende no cabelo todas as manhãs, quanto nas dobras que faz a ritmo ininterrupto durante o dia, Maria Aparecida diz que, quem reclama do salário é porque não conhece a situação do mercado "lá fora".


Pertencente à equipe que entrou no início do Hospital Universitário, Maria só tem uma queixa: "Eu só acho que nós deveríamos ser mais valorizados. Quando falam em hospital, só lembram dos médicos e enfermeiros. Mas se a gente daqui da lavanderia e limpeza parar, tudo para. Eu lembro de quando entrei e a diretora nos falou: 'Olha, vocês são de extrema importância para o funcionamento disso tudo. Vocês são o coração do hospital'".

Parte I
Parte II