segunda-feira, 31 de maio de 2010

Jornalismo Cultural (?)

Na sexta feira passada, um público de cerca de 150 pessoas, em sua maioria estudantes de jornalismo, se reuniu numa tenda montada no campus da Uem para assistir ao debate sobre jornalismo cultural, no 7º Festival de Cinema de Maringá.

Em pouco mais de uma hora, os componentes da mesa falaram sobre o péssimo costume de tratar cultura como espetáculos artísticos, esquecendo do que realmente significa “cultura”. Esse jornalismo de agenda, como especificou Bulgarelli, acaba tirando o espaço da interpretação do cotidiano, do modo de ser, agir e falar que torna os textos cada vez mais frios.

Presos a exemplos do cotidiano e um conceito homogêneo, os jornalistas promoveram um belo debate, porém superficial e com um consenso: o jornalismo cultural está em crise. E escolheram como possível solução um novo tipo de abordagem, papel de um jornalista mais criativo e sensível às “cores” e o “cheiro” do povo.

Segmentação:
O papel do jornalista é um tanto ingrato e está aliado a um estudo interminável sobre tudo. O que o torna um especialista em generalidades, em outras palavras, aprende a falar sobre tudo e não dizer nada. Um jornalismo superficial transmite um conceito incompleto e distorcido da realidade, o que não deixa de sanar a necessidade de informação do leitor, mas o torna refém desta.

E ai o velho conceito de segmentação entra em pauta. Não só o jornalismo, mas todas as áreas de estudo precisam abrir espaço para as especializações, que condicionam o olhar do profissional a determinado assunto, de modo que este possa se aprofundar num estudo específico e assim domina-lo. O mundo de hoje exige isso.

Por que então não fazer com o jornalista?

Fala-se de crise do jornalismo impresso, corte de cargos nas redações, diminuição na estrutura do texto, competição com o on-line. Se o jornalismo não for abastecido por estudo e pesquisa, este realmente será o caminho.

Cultura?
Por outro lado, se cultura é toda forma de expressão dos costumes e ensinamentos adquiridos (ou algo do tipo), ela não pode ser restrita a uma editoria. Deve estar presente em todo relato que for feito, desde futebol à economia.

Falta, então, sensibilidade para tratar os fatos e indivíduos envolvidos na notícia. E isso exige tempo para apuração e criação do texto, assim como vontade do jornalista em fazer diferente.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O drama de Oliveira #2

Se você não leu a parte 1, clique aqui.Alcançou um moletom velho que ganhou no natal de 95, jogou as roupas molhadas no cesto de roupa suja e foi ver para a cozinha ver se a janta tava pronta.

- Tá mais calma?
- Não.
- O que tem pra janta?
- O mesmo de sempre.
- Vai ficar assim até quando?
- Até você parar de encher o saco.

Desistiu e foi tomar banho.

O banho no inverno é uma provação extrema da coragem humana. Sair do aconchego quente e macio de um moletom para enfrentar o chuveiro pode causar conseqüências irreversíveis.

Fechou a porta, parou em frente a pia e permaneceu longos minutos observado o box, o chuveiro, a janela do banheiro, a toalha e os ladrilhos. O tempo de indecisão foi suficiente para sentir vontade de “passar um fax”. Outro drama é usar o vaso no inverno. É um problema que assusta de dez entre dez pessoas no mundo. Até o mais machão dos homens treme ao se ver nesta situação.

Pensou em fazer no banho, mas o chamado era da porta dos fundos. Sem saída, aproximou-se do bendito, que parecia sorrir para ele. Encarou-o profundamente, imaginando que ele esteve lá o dia todo se resfriando para pegar um azarado. Virou-se. Segurou no cós da calça e ameaçou puxar, não deu coragem. Flexionou os joelhos. Mais uma tentativa e abaixou um pouco. Sentiu o vento encontrar o cofre. Respirou fundo e flexionou um pouco mais os joelhos. Agora vai. Abaixou de uma vez, mas não teve coragem de sentar. O frio veio como um tapa, mas era melhor acostumar-se antes de sentar de vez. Apoiou os cotovelos no joelho e respirou fundo.

- QUE PORRA É ESSA OLIVEIRA?!
- FECHA A PORTA CARALHO!!

Com o susto caiu de costas e não pode evitar o pior.

O drama de Oliveira #1

- Tá de moto ou tá de carro?
- De moto, minha mulher teve que levar as crianças na escola.
- Quer uma carona?
- Precisa não, nem tá tão frio assim.

Naquele momento fazia cinco graus e com o vento a sensação térmica caía para dois. Teimoso e orgulhoso como sempre, Oliveira negou a carona e seguiu até o estacionamento das motos onde sua ML 125 vermelha esperava.

Para Oliveira o inverno só poderia ter sido um castigo divino criado para lembrar a todos como o sol é importante para a vida na terra. Era simplesmente impossível compreender como uma época sem cerveja gelada, calção folgado e chinelo de dedo poderia ser boa para alguém. O pior é chegar em casa e ouvir “Tá vendo! Falei pra leva uma blusa!” pelo menos umas 20 vezes antes que a esposa encontre outro problema para reclamar.

Acelerou pela avenida debaixo de uma chuva forte que começara assim que ele montou na moto. Até chegar em casa seriam vinte minutos, o suficiente para deixar ensopado o uniforme que ele teria de usar no outro dia. Já na portaria do prédio, precisou esperar mais cinco minutos até que o seo Gumercindo – porteiro, tio do síndico que sofria de um problema de surdez – notasse sua presença.

Entrou no elevador sem nem ligar para o rastro que fez no corredor e, ao som da musiquinha que Bethoven compôs para o caminhão de gáz, subiu até o décimo terceiro andar.

- Se tiver molhado fica lá fora! – grita ela da cozinha ao ouvir abrir a porta.
- Boa noite pra você também. - Ele já estava na sala.
- Boa noite uma ova, não quero ninguém molhando minha sala.
- Tá um frio lá fora...
- Tá vendo! Falei pra levar uma blusa! Eu falei, mas não me escuta!

Deixou-a falando sozinha e foi trocar de roupa.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Um dia de entrevistada

Ontem entrevistei Natália Garay, reporter da RPC e ex-aluna do Cesumar, para a edição 300 do Matéria Prima. Muito atenciosa, nem estranhou o fato de um aluno em pleno século XXI usar um gravador da panasonic RN 302 para coletar a sonora.

O legal foi a inversão de papéis. Ela que todo dia aparece na tv fazendo perguntas e questionando autoridades, estava agora na posição de entrevistada, tendo que falar sobre a importância da formação superior para o jornlista, a experiência no jornal Matéria Prima e a queda do diploma.

É sempre bom aprender com quem vive o jornalismo. Só espero que o meu gravador não vire piada na redação.

Multiafetados

Ou seria multifacetados?

Dominar o que é: multiculturalismo, folkcomunicação, antropologia aplicada, estruturalismo, sociologia, deontologia do ato, deontologia da norma, a Bíblia de Mogúncia, plano americano com obturador alto e diafragma meio aberto, marketing de produtos, as etapas da impressão off-set, os compostos de uma tinta, separação manual de cor no Corel Draw, a invenção do telégrafo, que o título de uma linha deve ter de 36 a 40 toques, que a legenda tem que complementar o texto, mas não pode repetir o título ou a linha fina, que "ela" é só para o que tem perninha, que "coisa" não existe, que é entrave, não êntrave...

Conhecer a história completa de Webber, Marx, Platão, Aristóteles, Lévi-Strauss, Comte, Malinóvski, Gramsci, Gutemberg, Epitácio Pessoa, Williams, Marconi (fanfarrão), Tesla, Jésus Marrtín Barrrbero, José Marques de Melo, Luiz Beltrão, Adorno, Horkeimer, Habermmas, Popper, Benjamin, Watergate, a galera da Escola de Frankfurt, Escola Britânica...

Ainda ter tempo para: Projeto de Iniciação Científica, seminário de Folk, Cobrir a Fazendinha, estágio na Ruc, estágio fora da Ruc, Matéria Prima, fotografar a pauta dos outros, criar vergonha na cara, ler 30 livros por ano, fazer uma linha do tempo, ganhar dinheiro para pagar xerox, tomar chá de cadeira de entrevistado, ir correndo buscar a pauta em casa e acreditar que isso tudo é para o nosso bem.

Entende porque a gente é assim?

terça-feira, 18 de maio de 2010

Santa hipocrisia

Depois de uma manhã inteira no Ceasa conversando com o pessoal do Banco de Alimentos para uma reportagem do jornal Matéria Prima, eu fui à um albergue acompanhar a entrega das verduras e legumes e o preparo do almoço. Já tinha o nome da "irmã" responsável e entrevista marcada, jogo rápido, cinco minutos no máximo, não seria abusar da grande paciência de uma freira.

Primeiro não quis me atender. Depois surgiu na porta dizendo que não tinha tempo pra isso e, se eu quisesse, era eu fazer a entrevista por telefone no dia seguinte. Desisti da "irmã" e fui procurar alguém do administrativo, descobri que o presidente do albergue estava lá. Depois de uns 15 minutos tentando convencer a secretaria do "teor positivo" da minha pauta, consegui uma entrevista rápida sob um olhar desconfiado do presidente.

Fala-se muito da crise da igreja por causa de escândalos e tal. Mas o que eu vejo em alguns anos de igreja é a profunda falta de concordância entre discurso e atitude. A crise começa na base dessa instituição, os representantes. Se nem eles conseguem dar o exemplo, que motivação teram os demais?

Vestir a roupa e cumprir os procedimentos é fácil. Difícil é deixar de ser humano.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Sutilmente profundo

Frases prontas, personalidades fortes, novela das oito, música comercial e filme clichê. Hoje em dia não é necessário raciocínio para possuir uma identidade. Você pertence a um grupo assim que assimila suas formas de expressão e prática, sem necessariamente precisar entender o que isso ou aquilo significa.

Como numa roda de amigos que bebem num bar, o discurso é sempre o mesmo. Só mudam as marcas de roupa e os nomes citados. Até mesmo aquela postura reacionária – de quem possui – segue um modelo estabelecido previamente. Não há surpresa.

E a gente se comove com o mesmo enredo mexicano de sempre, dando valor ao sentimento de ser/estar, consumir e conquistar, antes do pensar e agir diferente. Entretanto, ser diferente é fazer diferente, e isso é um compromisso pessoal.

Mea culpa, até curto um sertanejo e assisto à filmes clichês.

Segunda-feira

Foto de Luiz Mecca

minha companheira de trabalho com cara de segunda-feira.