sexta-feira, 21 de maio de 2010

O drama de Oliveira #1

- Tá de moto ou tá de carro?
- De moto, minha mulher teve que levar as crianças na escola.
- Quer uma carona?
- Precisa não, nem tá tão frio assim.

Naquele momento fazia cinco graus e com o vento a sensação térmica caía para dois. Teimoso e orgulhoso como sempre, Oliveira negou a carona e seguiu até o estacionamento das motos onde sua ML 125 vermelha esperava.

Para Oliveira o inverno só poderia ter sido um castigo divino criado para lembrar a todos como o sol é importante para a vida na terra. Era simplesmente impossível compreender como uma época sem cerveja gelada, calção folgado e chinelo de dedo poderia ser boa para alguém. O pior é chegar em casa e ouvir “Tá vendo! Falei pra leva uma blusa!” pelo menos umas 20 vezes antes que a esposa encontre outro problema para reclamar.

Acelerou pela avenida debaixo de uma chuva forte que começara assim que ele montou na moto. Até chegar em casa seriam vinte minutos, o suficiente para deixar ensopado o uniforme que ele teria de usar no outro dia. Já na portaria do prédio, precisou esperar mais cinco minutos até que o seo Gumercindo – porteiro, tio do síndico que sofria de um problema de surdez – notasse sua presença.

Entrou no elevador sem nem ligar para o rastro que fez no corredor e, ao som da musiquinha que Bethoven compôs para o caminhão de gáz, subiu até o décimo terceiro andar.

- Se tiver molhado fica lá fora! – grita ela da cozinha ao ouvir abrir a porta.
- Boa noite pra você também. - Ele já estava na sala.
- Boa noite uma ova, não quero ninguém molhando minha sala.
- Tá um frio lá fora...
- Tá vendo! Falei pra levar uma blusa! Eu falei, mas não me escuta!

Deixou-a falando sozinha e foi trocar de roupa.

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