terça-feira, 27 de julho de 2010

O que a gente não faz por uma boa história


Na volta do Matéria Prima eu fui parar na Vila Esperança, que fica atrás da Uem. Ir aos bairros procurar pautas é um desafio, pode ser que você encontre de cara uma figurona que escreve salmos na parede de casa ou bater perna o sábado inteiro e não ver mais que casas e comércio. Na dúvida, prestamos atenção em tudo.

E não tinha nada. Andei por umas 15 ruas e só achei jardins, uma pichação e três casas tocando Justin Bieber. Até que encontrei um salãozinho minúsculo com uma placa pendurada dizendo: Salão do Cidinho. Na pior das hipóteses ele conheceria alguém interessante.

Foi aí que eu tive a brilhante idéia: Pra não atrapalhar o serviço, corto cabelo e converso com o Cidinho. Não que eu precisasse, aliás, não fazia nem uma semana que tinha aparado a juba. Mas a princípio a idéia pareceu boa.

Entrei e o simpático senhorzinho (1,5m aproximadamente) de bigode alinhado e impecável jaleco branco me recebeu com um sonoro: tenho um corte que vai ficar ótimo em você. Pronto, a simpatia dele já tinha ganhado.

Nas mãos firmes empunhando os instrumentos já se iam mais de quarenta anos detesoura. Os primeiros em Munhoz de Melo, onde nasceu e morou até se casar. “Mas antes trabalhei na lavoura, era assim antes né?”, disse Cidinho, enquanto passava a máquina sem dó de me deixar careca. Como pedir pra ele parar se ficou tão animado com meu cabelo?

Foi quando eu perguntei como aprendeu a cortar cabelos. Ele parou, me olhou e disse: “Ainda bem que você me perguntou isso agora, que já comecei. Porque eu aprendi num sonho.” Pára tudo. “Como assim num sonho seu Cidinho?!” Eu não sabia se ria ou chorava. Minha pauta tava garantida, mas meu cabelo poderia estar indo pro saco.

Enfim, o resto fica pra semana que vem, quando a matéria estiver pronta e meu cabelo, normal de novo. Não dá pra entregar o ouro todo aqui. Até lá, quem quiser um corte de cabelo e uma boa prosa, Salão do Cidinho, na Rua Vitória, Vila Esperança.

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