quarta-feira, 7 de julho de 2010

Entre flores e amores na Vila Bosque

Numa casa rodeada de flores, à altura do número 21 da rua Ipê, moram o jardineiro aposentado Eugênio Crouchat a mulher dele, Adenir Rabim Crouchat, que além da idade, 77, e dos cabelos brancos, têm em comum um antigo amor por flores. Pioneiro na região, seo Eugênio orgulha-se de ter cultivado vários jardins, inclusive a maioria dos que enfeitam a Vila Bosque, na região central de Maringá.

Dona Adenir conta que conheceu seo Eugênio durante o Terço de São João. "Hoje o pessoal chama de Festa Junina, mas lá no interior era o Terço. A gente viu levantar a bandeira e depois começamos a passear." Em pouco tempo veio o namoro e com isso, as flores. "Ele vinha de longe a cavalo ou de bicicleta, trazendo sempre uma florzinha nova. Me enchia de mudinhas", ri, envergonhada

Segundo o terapeuta Manuel Bueno de Oliveira, algumas pessoas tocam instrumentos, pintam, desenham e outras, como seo Eugênio, cultivam flores como hobby. "De uma forma ou de outra o cérebro busca distração. Assim como o corpo precisa de bom alimento, a cabeça também precisa." Dona Adenir conta que, devido à idade e algumas complicações de saúde, seo Eugênio pouco se lembra dos tempos em que era jovem. "Só sei que ele sempre gostou de flores, a casa dele, no sítio, era a coisa mais linda."

Quando vieram para Maringá, por volta de 1960, havia poucas casas e muitas estradas. Seo Eugênio conseguiu um emprego na prefeitura, como zelador do cemitério municipal, e lá dava vida às flores que encontrava. "Era um carrapicho que só, quando eu entrei ali [no cemitério]. Aí, juntamos cinco homens e limpamos tudo", lembra, orgulhoso.

Segundo o terapeuta, "além de distrair, práticas como a jardinagem funcionam como uma maneira de reproduzir os costumes que o seo Eugênio tinha quando morava no campo". Ele, que também é especialista em terapias alternativas, acrescenta que "repetir essas práticas mais simples funciona como um alimento para a alma, uma nostalgia. Ao manter isso, é como se ele [Eugênio] estivesse resistindo à evolução do mundo".

Depois de 22 anos na prefeitura, seo Eugênio se aposentou e passou a fazer bicos para ajudar na renda de casa. "Ele ficou mais 12 anos fazendo jardim do pessoal que ligava aqui. Todo dia ele juntava a carriola, as ferramentas e saía. Até em Paiçandu [distante 14 km de Maringá] ele já foi", conta dona Adenir. "Aí me arrebentou a saúde", complementa seo Eugênio. Com o esforço, ele desenvolveu uma arritmia cardíaca, que o forçou a parar de trabalhar, restando somente o próprio jardim para cultivar.

"Foi difícil desacostumar o povo, eu que tinha que controlar", comenta a mulher, "Às vezes ligavam aqui e eu dizia que ele não podia. Depois de meses, o Eugênio comentava que fulano nunca mais ligou e eu dizia: 'De certo não tá mais precisando'". Segundo o terapeuta Manuel de Oliveira, esse cuidado expresso por dona Adenir é tão importante para a saúde de seo Eugênio quanto a distração com as plantas. "Uma alma doente pode trazer doenças para o corpo. Por isso práticas como essa são essenciais quando se chega à essa idade.”

Hoje, o jardim da casa florida tem mais de 50 tipos de flores que seo Eugênio faz questão de cuidar uma a uma. "Às vezes eu brinco que se ele plantar um prego, o prego brota", comenta dona Adenir. E entre a diversidade de cores e formas, seo Eugênio aponta como preferida a que escolheu para enfeitar o portão. "É aquela, se chama amor-juntinho".

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