sábado, 16 de outubro de 2010

E-book, a nova plataforma literária*

Como os livros digitais estão redimensionando o mercado e reformulando o modo de fazer literatura em tempos de internet

São acessíveis, não ocupam espaço na bolsa, não agridem o meio ambiente e nem provocam reações alérgicas quando velhos. Popularmente conhecidos como e-books, os livros digitais apresentam vantagens que estão conquistando leitores, transformando o modo de fazer literatura e trazendo uma interrogação para o futuro da criação literária: os livros impressos vão acabar?

Segundo o site Exame.com, em países como Estados Unidos a venda de e-books já representa cerca de 4% do comércio de livros pela internet e a expectativa é que essa quantia triplique até 2015. Essa evolução se dá, principalmente, à guerra tecnológica na criação e desenvolvimento de leitores digitais. E-readers como o Kindle, da Amazon e tablets como o Ipad, da Apple, já oferecem condições de leitura próximas às de um livro comum e preço acessível para o mercado norte-americano.

Para Cristóvão Tezza, doutor em Literatura Brasileira e um dos principais escritores da atualidade, a tecnologia criou novos modos de escrita, mas não vai mudar as formas de manifestação literária. “A internet é uma [ferramenta] prática do mundo, vem para somar e não para substituir o impresso.” O escritor premiado com o Jabuti de melhor romance, esteve em Maringá no último dia 23, a convite do Sesc, quando falou sobre tecnologia e leitura no cotidiano. Segundo ele, a literatura se transforma através do tempo segundo os meios de produção e disseminação disponíveis. “Quem que, hoje em dia, escreve uma carta ou um telegrama? Antigamente a carta era até um gênero literário e grandes livros saíram de troca de correspondências”, lembra.

As cartas viraram e-mails e os diários foram substituídos pelos chamados blogs - espaços livres e gratuitos para quem quer publicar na internet. Essa possibilidade permite o aparecimento de novos escritores que não precisam de muito para produzir um livro digital, uma consulta rápida em qualquer site de pesquisas indica diversos programas para criação de e-books. Feito isso, o resto fica por conta da divulgação e distribuição, que no ambiente on-line não tem limites.

Apesar de uma possível ameaça, Cristóvão Tezza diz acreditar que “essa variedade não afrouxa os critérios de aceitação, mas cria prestígio de qualidade”. Para o escritor, os efeitos de uma circulação máxima de literatura compensam qualquer prejuízo com a pirataria. “É um caminho fantástico”, completa.

Entre os leitores brasileiros, a novidade ainda encontra resistência. “Eu gosto do papel para folhear, amassar, sujar de gordura. Prefiro aquele livro que eu posso guardar na estante e usar como troféu”, afirma Vinicius Toná, 20, estudante de Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Segundo ele, a única vez que comprou um e-book, foi por engano. “Eu finalizei a compra pela internet e fiquei esperando chegar em casa. Quando vi, chegou um e-mail avisando que o download já estava liberado.”

Já a estudante de jornalismo Ana Luiza Verzola, 19, é a favor e gosta de ter acesso a livros digitais. “No caso dos e-books meu interesse surgiu mais com a leitura de monografias que tinha para baixar no site da instituição e, com isso, veio a oportunidade de ler também outras produções.” Ana destaca a possibilidade de acompanhar o trabalho de escritores regionais. “Até agora o material que li foi de Maringá, o livro de crônicas que o Wilame [Prado] lançou, ‘Charlene Flanders, que voava em seu guarda-chuva roxo, mudou minha vida’; do Antonio Roberto de Paula [O jornal do Bispo] e, recentemente, o e-book Contos Maringaenses, que reúne várias obras produzidas aqui e falando daqui.”

No Brasil o comércio de e-books ainda é tímido e o cenário é de adaptação. Entre os motivos do atraso estão a falta de apoio de editoras, acervo reduzido de obras digitalizadas e alto custo para compra de leitores digitais, que facilitam a leitura. Para o escritor Cristóvão Tezza o contato com o livro físico é muito importante. “É claro que o livro impresso nunca vai morrer. Há formas de reconfigurar o uso dele”, define. Impresso ou digital, é de consenso que o contato com a literatura é sempre uma experiência positiva.

*Reportagem publicada no jornal Matéria Prima, aqui.

Um comentário:

  1. Já diria Rosane: para de puxar o saco da Ana! hahahahahaha
    Eu gostei [da reportagem] o/

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