quarta-feira, 9 de junho de 2010

Poderia ser mais uma notícia comum

João de Jesus, 26, trabalhava numa empresa de alimentos como representante. Percorria o estado todo com o carro da empresa para aumentar a comissão e pagar os móveis que parcelou para sua casa própria, onde planejava viver com Maria, sua noiva.

Maria, que trabalha como operadora de telemarketing, também se esforçava nos argumentos porque, com o dinheiro que sobrasse, ajudaria o noivo a pagar a viagem à Europa, que tanto sonharam. Viagem essa que, segundo suas amigas, não saia da cabeça e era o assunto preferido no almoço. O casamento demoraria mais um ano, mas a lua-de-mel curtiria nas suas próximas férias, em fevereiro próximo.


Porém, na noite desta terça-feira, o carro que João voltava para casa bateu de frente com um caminhão carregado, ao tentar uma ultrapassagem perigosa numa curva entre “Cidade X” e “Cidade Y”. O caminhão, descontrolado, chocou-se com o veículo em que estava José dos Santos, marceneiro e pai de duas crianças, que voltava da casa da irmã adoentada. Com a gravidade do acidente, João e José morreram no local.


A família de ambos foi avisada pelos policias que chegaram ao local e o trabalho para remoção dos veículos terminou na manhã de hoje. Fora a imprudência e a avaliação da culpa dos envolvidos. Ficam os familiares, esposa, filhos e noiva, incompletos.

Essa notícia – salvo nomes e circunstâncias – é dada praticamente todo dia pela imprensa. Porém o modo tratado reduz a importância de uma tragédia. Importância tanto para quem se envolve, quanto para quem lê.

Toda notícia deve passar alguma informação, além de dados. Porém, com todas as dificuldades enfrentadas pelos jornalistas, o texto cai num padrão frio e rígido, sob o pretexto de “imparcialidade”. Todo acontecimento que envolve pessoas carrega histórias que precisam ser contadas.

Se primamos pela verdade, é verdade que a vida vale muito para ser reduzida à estatística.

Nenhum comentário:

Postar um comentário