quarta-feira, 16 de junho de 2010

Nome exótico pode virar problema para o filho

reportagem publicada no jornal Matéria Prima em Março de 2010.
Pais “inspirados” fazem escolhas que podem causar traumas, constranger e influenciar a formação da criança

Quando nasce, toda criança ganha um nome que a acompanha em todos os documentos e registros. Essa escolha cabe aos pais e, se mal feita, pode gerar problemas psicológicos e comportamentais, além de constrangimento em situações simples, como o cadastro em uma loja.

Apesar de não haver uma lei que regule o registro das crianças, a Constituição permite a troca do nome quando é atingida a maioridade.Não é muito raro encontrarmos pessoas com nomes diferentes, cada um com um significado especial. Como o caso de Neusvaldo Aparecido, uma idéia “genial” de juntar o nome dos pais, Neusa e Osvaldo. Há também aqueles que se espelham em celebridades pop e registram o filho como Elvis Preslei da Silva, ou o caso do pai maringaense apaixonado por futebol que deu ao filho o nome de Romário Edmundo Maradona Ribeiro. Já outros como Supercílio Morais, parece não haver explicação.

Em Maringá são registrados centenas de nomes por mês nos dois cartórios civis da cidade. Eurides José Fiori, escrevente chefe de um dos cartórios, conta que, com a informatização, o processo ficou mais simples. “Os pais só precisam trazer os documentos e uma declaração que o hospital emite. O escrevente joga as informações no banco de dados e o nome é repassado ao juiz que assina o registro.” Fiori explica que o escrevente pode orientar os pais quanto a erros de acentuação e grafia, mas não há uma regra para aceitação dos nomes. “É uma escolha do casal e nós [escreventes] não podemos interferir. Só o juiz pode quando é um nome muito ridículo, mas ele normalmente não interfere.” O escrevente conta que em 15 anos de trabalho já encontrou muitos nomes diferentes e se lembra daquele que mais marcou “Wandermarlon Karowford Petterson da Silva. Eu quase não acreditei”, diz, pausadamente e segurando o riso.

O nome torna-se o vocativo de referência da pessoa e a má escolha pode influenciar negativamente na socialização e desenvolvimento da criança, como explica Sandra Ceranto, psicóloga comportamental. “Com o bullying [agressão moral] nas escolas as crianças estão gozando as outras por qualquer coisa. O nome passa a ser motivo de chacota.” Sandra conta que já atendeu muitas crianças e adolescentes que não gostavam do nome. “Ter que trabalhar a aceitação não é simples nem fácil. Eles [crianças e adolescentes] precisam entender o motivo das escolhas dos pais”, explica.

Para aqueles cujos pais não foram muito felizes na escolha, o artigo 56 da lei n° 6.015/73 possibilita a alteração do registro, desde que fique provado que o nome expõe a pessoa ao ridículo. Foi o caso de Maria dos Santos Martins, 55, que até os 40 anos se chamava Maria do Parto. Com a ajuda de um amigo advogado, ela entrou com o pedido judicial para alteração do nome. O processo durou aproximadamente um ano e meio e foram necessários vários documentos “Fiquei até meio revoltada porque foi tão difícil que parecia que eu era adotada, pois não tinha o sobrenome de meus pais. Naquela época era assim, eu nasci nas mãos de parteira e meu pai foi e me registrou desse jeito”, conta.

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