terça-feira, 26 de julho de 2011

“É a sociedade organizada que se faz presente”

Depois de comentar meu corte de cabelo, Carlos Anselmo Corrêa, falou sobre o trabalho do Observatório Social de Maringá e o período de eleições

Na filosofia aristotélica, política é “a ciência que tem por objetivo a felicidade humana” e divide-se em: ética – que se preocupa com a felicidade individual do homem – e a política propriamente dita – que está ligada à felicidade da pólis (cidade, em grego). O objetivo principal dos estudos políticos de Aristóteles era investigar as formas de governo e as instituições capazes de garantir a qualidade de vida do cidadão.

Se aplicássemos o conceito de política do filósofo grego aos dias de hoje – levando em consideração a teia burocrática criada para sustentar o sistema de governo vigente – o resultado seria algo parecido com o Ser (Sociedade Eticamente Responsável) e o Observatório Social de Maringá, entidades movidas pelo apoio voluntário e sem qualquer posicionamento ou vinculo político.

Bem humorado e disposto ás oito horas da manhã de uma quarta-feira, o presidente do Observatório Social de Maringá, Carlos Anselmo Corrêa, recebeu a equipe do jornal Matéria Prima para comentar sobre o trabalho realizado na cidade, a ligação com a imprensa e o período de eleições.

Para contextualizar, como funciona o Observatório Social de Maringá?

O Observatório é uma das vice-presidências de uma entidade maior chamada Sociedade Eticamente Responsável [Ser] de Maringá. A Ser tem dois campos de atuação bem claros. O primeiro é a educação para demonstrar a importância social do tributo, ou seja, tributos existem em todas as sociedades organizadas e são necessários. E o segundo é a vice-presidência do Observatório Social, que trata do acompanhamento da correta execução do orçamento gerado por esses tributos.

Quem faz parte do Observatório hoje?

Nós temos, dentro da Ser, uma série de entidades. É a sociedade organizada que se faz presente. Nós temos o Rotary, o Lions [Club], a maçonaria, instituições de ensino como a Uem [Universidade Estadual de Maringá], o Cesumar [Centro Universitário de Maringá], temos também empresas como a Cocamar e o Sicoob. São, então, diversos segmentos da sociedade civil organizada com uma característica singular e única: ninguém, absolutamente, nenhuma entidade e nenhuma pessoa representando uma entidade podem fazer parte se tiver qualquer vinculo político-partidário. Se a pessoa tiver qualquer demonstração clara e inequívoca de um compromisso com uma bandeira política ou um partido político, ela não poderá fazer parte da Ser.

Mesmo não havendo esse vínculo político-partidário essas entidades representam algum tipo de grupo com interesses próprios. Como vocês estão blindados para que nenhum tipo de politicagem contamine esse trabalho?

Eu discordo de você que ela [pessoa ou entidade] represente um grupo, a menos que nós chamemos a maioria e o consenso social de grupo. Ela procura representar o interesse comum da sociedade, aquilo que são anseios de uma sociedade democrática, de uma sociedade libertária, justa e desenvolvimentista. Os primeiros fiscais do ingresso que qualquer vinculo político-partidário são exatamente os seus membros. A filiação [ao observatório] se dá a partir da comprovação de alguns documentos e um deles é um atestado da Justiça Eleitoral de desimcompatibilidade política. Além disso, existe esse acompanhamento do grupo sobre qualquer manifestação pública de um membro que demonstre comprometimento político, o que até hoje não existiu, mas se existir, será caso de discussão sobre desligamento.

Nós estamos saindo agora da temporada de eleições. Como foi a postura adotada pelo Observatório?

Nós tínhamos um relatório de avaliação da Câmara de Maringá, do primeiro semestre, que seria divulgado em setembro, mas nós não divulgamos porque existiam alguns vereadores que eram candidatos neste período. Exatamente para que não houvesse qualquer ligação prejudicial ou benéfica para esse ou aquele candidato, o Observatório se absteve de divulgar o relatório nesse momento. A SER, não o Observatório, repito, a instituição maior do qual o Observatório faz parte, tem um trabalho muito importante com campanhas de conscientização para o voto, sobre a importância do voto consciente e do voto responsável.

O senhor não acha que seria esse o momento ideal para divulgar o relatório e a avaliação do trabalho do vereador, enquanto ocupa cargo no município, para que o eleitor soubesse se ele é digno de um cargo na assembleia?

Nós acreditamos que não por duas razões: a primeira é porque nós cremos claramente que a informação deve ser transformada em conhecimento e o que nós apresentaríamos seria apenas um relatório. Até que ele fosse transformado em conhecimento, seria necessário tempo. A segunda e mais importante razão é que esse dado poderia ser trabalhado de maneira não adequada, como benefício ou prejuízo para esse ou aquele candidato. Um fato isolado pode ser interpretado como bom ou ruim, de acordo com o momento, mas não pode significar todo o conjunto do trabalho. Então para não causar nenhum impacto o Observatório preferiu aguardar, porque o nosso objetivo era criar cultura de capacitação, a educação da consciência.

Para que esse conteúdo se torne conhecimento, vocês precisam da divulgação feita pela imprensa local. Como é essa ligação de vocês com a imprensa da região?

Nós defendemos que a imprensa tenha amplo acesso a todo tipo de informação porque ela é o canal principal de ligação entre os dados que são públicos e a comunidade. O Observatório produz os relatórios e deixa disponível, o interesse maior se dá por parte da imprensa mesmo que nos procura. Periodicamente, em trabalhos que o Observatório vem acompanhando, a imprensa nos questiona e nós passamos informações que temos. Em determinados momentos em que algum fato se torna público e o Observatório é questionado, nós também manifestamos a nossa posição. Mas vamos deixar bem claro que enquanto o Observatório está produzindo seu relatório, não é divulgado nenhum dado. O Observatório só divulga os dados depois de construído seu relatório.

Quando o relatório é passado para uma redação, os jornalistas não necessariamente são isentos. As empresas e grupos de comunicação têm posicionamentos políticos para defender. Já houve algum tipo de problema, no sentido da abordagem dada pela imprensa não seguir o viés que fosse o ideal?

Eu não diria que houve problema. Eu acho que isso é próprio de uma sociedade democrática e ampla. Ai é que está a formação de uma consciência cívica, de uma educação para cidadania por parte da população. Sempre haverá essa divergência. É comum que a gente veja o mesmo dado sendo apresentado de duas formas diferentes. Isso vai do jornalista, do editor, da mídia que está em questão no momento e como ela prefere divulgar aqueles dados. O importante é que a população saiba comparar, por isso, inclusive, a pluralidade da imprensa. É preciso que o cidadão, quando tem uma informação, tenha o principio salutar de ver como outro órgão de imprensa está divulgando a mesma informação. Existiram divulgações diferentes sobre o mesmo fato? Isso existiu e a cada relatório que a gente divulgar continuará existindo.

O trabalho do Observatório tem caráter preventivo e fiscalizatório. Há algum planejamento de assumir uma postura pró-ativa, no sentido de captar a necessidade da população e propor projetos, ou são coisas distintas?

Eu acredito que são coisas absolutamente diferentes. Veja que se essa instituição começar a direcionar o que deve ser feito por parte do poder público, estará assumindo o papel ou de gestor ou então de representante único da sociedade e isso não é o correto. Quem deve definir o que o gestor deve fazer é o cidadão num momento como esse de eleições. O ideal é que numa eleição a escolha se faça por meio de propostas e essas propostas nada mais são que metodologias de gestão e focos de atuação. Então não cabe ao Observatório, e eu acredito que também não caiba a nenhuma instituição a não ser para o próprio delegado do poder público, a execução da vontade pública manifesta nas eleições. O Observatório jamais dirá à prefeitura o que fazer.

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